Capítulo 3- Aisha Draganov

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Suspirei ao ouvir uma bomba explodir ao longe, o medo nos assolava, mas a vida, mesmo que ameaçada não parava só porque os malditos guerreavam. Acariciei a cabeça da égua, tentando acalmá-la, ela estava para parir um potro, mas sua agitação estava imensa pelo assustador som de bombas, mesmo que estivessem um pouco distante.

A cerca de oito meses, soldados americanos invadiram nossa fazenda e montaram sua base militar, limitando nosso terreno, nos deixando a casa em que minha mãe e eu moramos, um pequeno pasto que mal cabiam nossos animais e uma parte de nossas plantações. Não que tivéssemos direito a isso, ficamos na casa, pois éramos nós quem cuidávamos dos animais e da plantação que alimentava eles e não, não tínhamos escolha.

No dia anterior, soldados americanos vieram buscar caixas e mais caixas de alimentos e me pagaram menos ainda do que costumavam pagar, o que me deixava revoltada. Eu tentava não discutir, afinal eles tinham armas e eu... bem, eu não tinha, mas nem sempre conseguia manter a calma, especialmente quando os soldados que vinham recolher eram mais folgados que o normal.

Um avião decolou da base militar americana ao lado, deixando um forte rugido ressoar, o que deixou a égua mais agitada ainda, iniciando o trabalho de parto dela. Não seria fácil fazer aquilo sozinha, mas qualquer outro zootecnista se recusava a trabalhar ali tão perto dos soldados inimigos de nosso país. Nikolay havia prometido que viria me ajudar, mas considerando que ele não estava na cidade quando liguei para ele, ainda não havia chegado, então eu não tinha escolha.

Quando o potro começou a sair, agarrei as patas e comecei a ajudá-lo a sair, mas em determinado momento, ele ficou enroscado. Eu empregava muita força para tirá-lo de lá e aliviar a égua, mas estava praticamente impossível, eu suava e minhas mãos doíam pela força com a qual segurava e puxava o animal.

Não me surpreendi quando mãos fortes me ajudaram a puxar o potro para fora, libertando-o e aliviando a mãe. Ri por ter conseguido, por Nikolay ter chegado no momento certo.

— Chegou bem na hora — falei, ainda sem encarar Nikolay. — Achei que eu não conseguiria, bem e não conseguiria mesmo se você não tivesse chegado. Obrigada mesmo.

— Por nada. — A voz grave soou atrás de mim, assustando-me, fazendo-me tropeçar no balde que estava ali e cair no chão, direto de bunda.

Aquele não era Nikolay, era outro homem.

— Está tudo bem? — A pergunta veio do fuzileiro que me estendia a mão na intenção de ajudar-me a levantar.

— É claro que estou bem. O que faz aqui? — perguntei irritada e com medo, levantando sozinha.

— Vi que estava com problemas, então vim ajudar — disse ele.

Encarei seu rosto, lembrei-me dele na hora. Era o fuzileiro que havia chegado depois dos três primeiros no dia anterior, o no qual eu cuspi sobre as botas.

— Saia agora. Já levaram tudo ontem.

— Não vim pegar nada, como eu disse, vi que estava em apuros e vim ajudá-la.

— Não quero a sua ajuda. Vá embora!

— Tudo bem, senhora. Estou indo.

— E não sou casada e nem velha o suficiente para ser senhora — falei e o homem me deu uma olhada de cima a baixo, como se me analisasse.

— Não, de fato não — respondeu sorrindo. — Foi um prazer ajudá-la, senhorita — concluiu, dando ênfase na última palavra e começando a se afastar.

— Poderia ter o prazer de tirar seus homens das minhas terras.

— Não tenho poder para tal feito, embora gostaria muito de fazê-lo — disse sem parar de andar.

Seduzida pelo FuzileiroDonde viven las historias. Descúbrelo ahora