O início de uma continuação

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Kai se perguntava qual foi a última vez que toda sua família se reuniu na sala para conversar. Quer dizer, ele se lembrava das vezes que sentaram ali para assistir um filme, ou para brincar com seu pai, enquanto sua mãe brincava com suas irmãs. Mas, pensando bem, nunca sentaram ali pra ter uma conversa, e principalmente, uma séria.

Sua irmã mais nova estava distraída mexendo no celular, Lea encarava um ponto fixo no chão da sala, sua mãe estava com as mãos juntas no colo e parecia desconfortável, enquanto seu pai parecia relaxado, porém, concentrado, enquanto tinha os braços cruzados.

Tudo estava tão estranho. Nem falou direito com eles quando voltou da casa de Soobin, principalmente com sua mãe. Ela evitava lhe olhar e Kai não se sentia no direito de se dirigir a ela depois de ontem. E analisando a situação agora, percebia o quanto foi exagerado, as palavras simplesmente tinham fugido de sua boca.

Se pudesse voltar no tempo, com certeza teria pensado duas vezes antes de falar. O sentimento de estar brigado com um de seus pais era tão estranho e culposo... Estava se sentindo um criminoso agora, mesmo sabendo que sua mãe também não estava certa.

— AI!! — exclamou sua irmã mais nova. — Sério, eu não aguento mais, eu preciso sair! Eu vou me encontrar com um amigo!

— Que amigo? — perguntou sua mãe.

— Um amigo oras! — deu de ombros.

— Namorado quer dizer. — disse Lea.

— Cala boca Lea você não sabe de nada! — disse irritada.

— Se quiser sair com esse seu amigo, marque para outro horário. — disse Nabil e a garota bufou indignada.

— E você não tem idade pra namorar. — disse a mãe dela.

— Quê? Isso é um absurdo! — disse e Kai arqueou uma sobrancelha.

— Se nem eu que sou mais velha namoro quem dirá você! — respondeu Lea.

— É porque você é uma encalhada! — provocou.

— Como é? — se irritou.

— Garotas, por favor, nada de brigas agora! — disse Nabil.

As duas se olharam torto, mas resolveram se calar. Kai não sabia mais o que lhe esperava depois daquela discussão. Será que também iriam lhe proibir de namorar?

Faziam apenas cinco minutos que estavam sentados ali, e parecia uma eternidade. E ainda tinha Soobin que estava demorando, fazendo com que Kai se sentisse ainda mais ansioso.

Enquanto sentia sua mão úmida de suor, repetia em sua cabeça o discurso que preparou quase a noite toda. Quase nem conseguiu dormir, estava uma pilha de nervos, só queria terminar logo com aquilo e poder respirar em paz.

Uma batida na porta fez todo mundo olhar em direção a ela e Nabil se levantou para abri-la. Kai sabia quem era e engoliu em seco.

— Bom dia e me desculpem pelo atraso. — disse Soobin e se curvou levemente.

— Eu que peço desculpas por ter te convocado assim. — pediu Nabil.

— Não tem problema. — disse e deu um leve sorriso.

Nabil apontou para o sofá e Soobin sentou-se ao lado de Kai. Os dois garotos trocaram um olhar e Kai sentiu vontade de falar o quanto estava nervoso, mas se conteve. Nem chegaram a se falar, todos estavam com os olhos cravados nos dois, principalmente sua mãe.

— Então pai, o que é de tão importante que você quer dizer? — perguntou a mais nova já impaciente.

Nabil pigarreou e respirou fundo antes de olhar para os dois garotos no sofá da frente.

— Eu fiquei sabendo da discussão que teve ontem enquanto eu estava fora, e quero que algumas coisas sejam esclarecidas.

— Fique sabendo pai que a culpa foi toda do Kai! — Lea apontou para o irmão.

— Eu não quero saber de quem é a culpa. Eu quero saber o motivo da briga. — disse e a garota se afundou no sofá.

Kai encarou a irmã que o olhou receosa, totalmente envergonhada por estar na presença de Soobin.

— Kai e Lea brigaram por Soobin. — disse a mãe dele, séria, batucando os dedos no braço do sofá.

— Mãe! — a garota protestou cobrindo o rosto com as mãos.

— Ele precisa saber o que está causando Lea! Meus dois filhos estão brigando por sua culpa Soobin! — disse ela.

— Eu... Eu sinto muito. Em nenhum momento quis causar problemas senhora Huening, muito menos com sua família.

— Mas aconteceu! E sabe por quê? — jogou a pergunta e Soobin negou.

— Mãe, chega! Se for pra contar então tem que ser eu! — disse Lea se levantando.

Kai observou a irmã respirar fundo com lágrimas nos olhos, enquanto tomava coragem para falar.

— Eu gosto de você Soobin, é isso. Sempre gostei. Você foi o primeiro garoto que fez meu coração bater rápido, e pra mim você é perfeito. — se declarou com um sorriso singelo. — Eu sei que nunca fomos próximos, porque você sempre esteve com o Kai, mas mesmo assim, esse sentimento que tenho por você continua o mesmo, e eu continuo a te admirar todos os dias.

Apesar de todos já saberem sobre os sentimentos de Lea para Soobin, a declaração da garota deixou todos surpresos, principalmente Soobin que não sabia o que fazer.

Kai estava impressionado e ao mesmo tempo com pena da irmã, sempre achou que aquilo fosse um tipo de obsessão ou amor platônico, mas ela parecia gostar de verdade de Soobin, assim como ele gostava.

— Lea, eu... — começou Soobin, mas ele estava sem jeito. Não sabia como respondê-la, principalmente na frente da família. — Eu fico feliz por ter... Hum, esse carinho por mim, mas... — Soobin procurava as melhores palavras pra não machucar a garota, apesar de ser inevitável.

A mesma abaixou a cabeça, segurando o choro. Kai sentiu um aperto no coração ao se colocar no lugar dela. Seus olhos instintivamente encheram-se de lágrimas e estava prestes a chorar. A dor que sentia só em imaginar Soobin rejeitando seus sentimentos era demais. Talvez levasse muito tempo para conseguir se recuperar de uma resposta dessas, e era exatamente o que sua irmã estava passando.

— Eu sinto muito Lea... — disse e a garota levantou a cabeça sorrindo forçado.

— Não precisa dizer mais nada, eu já entendi. — respondeu e saiu dali, subindo as escadas o mais rápido possível.

— Eu vou falar com ela! — a mãe de Kai se levantou, mas Nabil segurou seu braço.

— É melhor não... — disse e a mulher franziu o cenho.

— Deixa que eu falo. — Kai disse fazendo sua mãe arregalar os olhos.

Sabia o que ela deveria estar pensando, que iria debochar da irmã ou que iriam brigar, mas Kai não queria nada daquilo. Ele queria ser sincero com Lea, dizer tudo o que estava acontecendo. Seu pai lhe olhou e assentiu com a cabeça, dizendo que poderia ir. Kai trocou um olhar com Soobin antes de se levantar e ir em direção ao andar de cima.



                                              °°°


Parando em frente à porta do quarto da irmã, Kai podia ouvir o choro abafado dela. Sentiu-se mal, aquilo tudo era sua culpa, se Soobin não gostasse de si, talvez sua irmã tivesse uma chance com ele.

Respirou fundo e bateu na porta antes de abri-la devagar vendo a garota enrolada nos lençóis e com a cabeça por baixo do travesseiro. Kai fechou a porta e caminhou até a cama, sentando-se com cuidado na ponta dela.

Apertou os dedos, querendo se distrair de seu nervosismo e ficou alguns minutos sem falar nada, apenas observando a irmã ainda chorando, fazendo a cama balançar um pouco.

Depois de um tempo, Lea parou de chorar e ficou parada, fazendo Kai pensar que a mesma estivesse dormindo. Porém, de repente, a mesma tirou o travesseiro do rosto e olhou para Kai com raiva.

— Até quando vai ficar aqui? Se quiser rir de mim faça logo e vai embora! — disse e Kai engoliu em seco.

— Eu não vim pra brigar ou rir de você. — disse sério e a garota soltou um riso debochado. — Eu quero que saiba que sinto muito por aquilo.

— Não quero que sinta pena de mim! — disse magoada. — Eu já sabia que o Soobin não gostava de mim, mas ainda sim... No fundo eu sempre tive esperanças. — disse voltando a chorar.

— Lea... — chamou a atenção dela. — Acho que a culpa é minha.

— É claro, você sempre esteve entre a gente! — retrucou.

— Não é isso... Aquilo que eu te falei sobre o Soobin gostar de garotos é verdade. — disse e Lea franziu o cenho.

— Está me dizendo que o Soobin é gay? — perguntou e Kai assentiu. — Desde quando?

— Eu não sei... Acho que sempre. — disse deixando Lea de boca aberta.

— Meu Deus... — disse sentando-se de frente pra Kai. — Como eu sou idiota. Por isso ele nunca olhou pra mim! — disse incrédula. — E eu ainda fiquei te culpando por tudo! Como eu fui tão cega? Eu mereço mesmo, mereço! — disse se jogando na cama e deixando as lágrimas rolarem.

— Calma! — disse tocando no braço dela. — Não é culpa sua, você não tinha como saber. Você está apaixonada por ele, e quando isso acontece as coisas ficam mais difíceis de perceber. Apesar do nosso foco sempre ser aquela pessoa, ainda sim muitas coisas fogem de nossa vista, mesmo sendo gritantes. Porque tudo que importa é esse sentimento que te deixa anestesiado e flutuante.

Kai desviou o olhar da cama e direcionou para a irmã que o encarava surpresa e com uma sobrancelha arqueada. O garoto percebendo que tinha se perdido demais em pensamentos, pigarreou, constrangido pelo que disse.

— É... É exatamente assim... — disse pensativa. — Parece até que você também está apaixonado! — disse e riu ainda chorosa, esperando o garoto acompanhá-la, mas Kai ficou sério e abaixou a cabeça. — O que foi?

— Você está certa. — disse baixo e Lea se sentou direito.

— O quê? Kai, você está me deixando confusa... — disse e o garoto voltou a olhá-la com lágrimas nos olhos.

— Me desculpe sério, eu não sei como aconteceu... — começou segurando na mão dela, mas Lea se afastou.

— Espera... Está me dizendo que está apaixonado? — perguntou surpresa.

Kai mordeu o lábio inferior e assentiu sem conseguir olhar para ela. Não deveria estar assim, mas não conseguia controlar aquela culpa que estava sentindo por ela estar sofrendo por Soobin, justamente por ele gostar de si.

— Eu também gosto dele... — murmurou desviando o olhar.

— Aí meu Deus... Você... Você g-gosta do Soobin...? — perguntou e Kai assentiu novamente.

Lea soltou uma exclamação de surpresa e cobriu a boca com as duas mãos, enquanto seus olhos estavam arregalados. Kai permaneceu de cabeça baixa esperando ela gritar um discurso de ódio contra si.

Os dois irmãos ficaram alguns minutos em silêncio, cada um olhando para um canto qualquer do quarto, perdidos em pensamentos. Lea voltou a derramar lágrimas e Kai nem tinha percebido que as suas também já molhavam seu rosto.

— Eu... Não sei o que dizer. — comentou ela.

— Eu só peço que não me odeie. — Kai pediu. — Eu juro Lea, nunca tive a intenção de te machucar com tudo isso.

— Também não sei o que pensar. — disse ela e Kai murchou, sentindo-se inseguro. — Você ficou com o Soobin, mesmo sabendo que eu gosto dele.

— Ele já gostava de mim muito antes. — deixou claro. — Lea, mesmo se eu o rejeitasse, mesmo se nos separarmos, ele ainda vai continuar sem retribuir seus sentimentos, você sabe...

Lea fechou os olhos e tentou controlar o choro. Kai sabia que estava sendo difícil, mas pensava que o melhor era fazer com que a irmã soubesse que nutrir aqueles sentimentos era uma perda de tempo. Ela só iria sofrer por alguém que nem mesmo olhava pra ela.

— Eu preciso ficar sozinha. — pediu sem olhá-lo.

Kai suspirou, mas concordou enquanto se levantava. Tinha feito tudo que podia pra ser o mais delicado possível, mas ainda com o propósito de fazê-la entender que aquele amor unilateral seria desgastante demais.

— Me perdoe, eu queria fazer algo por você, mas não posso. — disse e deu as costas pra ela, indo em direção à porta.

— Kai. — chamou ela quando abriu a porta. — Você realmente gosta dele? — quis saber e Kai engoliu em seco.

— Pode parecer exagero, mas eu não consigo imaginar viver sem ele. — foi sincero com ela.

Sim, podia ser a intensidade que sua primeira paixão estava causando, mas em todas as vezes que se imaginou sem Soobin, o sentimento era devastador.

Lea lhe encarou por alguns segundos, então sorriu pequeno, enquanto assentia. Kai hesitou em deixar a irmã, mas respeitou sua vontade e a deixou sozinha.



                                             °°°


Kai retornou a sala encontrando somente seus pais e Soobin. Eles conversavam em tom baixo e logo que desceu as escadas ficaram em silêncio, o olhando apreensivos enquanto atravessava a sala e voltava a sentar ao lado de Soobin. Sua irmã mais nova provavelmente tinha conseguido fugir daquela situação. Kai também queria, mas como Soobin lhe disse, ele precisava os encarar e dizer o que estava sentindo.

Soobin o olhou preocupado, mas Kai sorriu minimamente pra ele. Ele devia ter notado seus olhos um pouco vermelhos por causa do choro.

— Tudo bem? — Soobin sussurrou.

— Sim. — Kai respondeu.

— E a Lea, como está? — sua mãe lhe dirigiu a palavra pela primeira vez depois da briga.

— Triste... Mas ela vai ficar bem. — respondeu confiante.

— Desculpe por essa situação Soobin, não era pra ter acontecido desse jeito. — Nabil disse lançando um olhar repreendedor a mulher.

— Tudo bem. A Lea é uma garota incrível, ela vai conseguir encontrar a pessoa certa. — disse e Nabil sorriu pequeno.

— Me pergunto por que você não pode ser essa pessoa Soobin. — a mãe de Kai disse deixando o clima tenso de novo.

— Querida... — Nabil chamou a atenção dela.

— Não senhor Huening, ela tem razão em querer saber. — disse Soobin. — Infelizmente não tem como eu retribuir os sentimentos de sua filha, porque os meus estão direcionados a outra pessoa.

Kai prendeu a respiração e suas mãos que estavam suadas agora gelaram. Era isso mesmo? Soobin estava prestes a dizer que estavam juntos?

— Então você gosta de outra pessoa? — perguntou ela e Soobin assentiu. — Posso saber quem é?

Kai olhou apreensivo para Soobin e o mesmo se levantou fazendo com que seu coração batesse desenfreado.

— Senhor e senhora Huening, quero que saibam que sempre tive muito respeito por vocês e de forma alguma tive nenhuma intenção de machucar sua filha. Mas durante esses anos as coisas fugiram do meu controle e eu realmente não consegui evitar o caminho que meus sentimentos tomaram.

Kai estava quase fechando os olhos para quando ele finalmente dissesse, mas observar a reação de seus pais à notícia, também era importante. Sua mãe tinha o cenho franzido e seu pai olhava Soobin com expectativas, apenas não sabia se aquilo era bom ou ruim.

— Eu gosto do Kai, sempre gostei dele. — disse com a voz calma e Kai respirou fundo, não podia ficar ali parado.

Olhou apreensivo para seus pais que estavam surpresos, principalmente sua mãe. Mas não se importou, levantou-se e segurou na mão de Soobin, como queria desde que ele tinha chegado.

— Pai, mãe, eu também gosto do Soobin. — disse com a voz quase falhando.

Os dois adultos olhavam para os garotos, e quanto mais demorava em se pronunciarem mais Kai apertava a mão de Soobin, descontando ali todo seu medo e preocupação.

Finalmente Nabil suspirou e levantou-se, indo devagar até os dois garotos e se postando em frente a eles. Ele encarava os dois seriamente e Kai engolia em seco. Desconfiava que se não estivesse segurando na mão de Soobin, já tinha caído ali. Mas então, a expressão de seu pai suavizou e ele sorriu pequeno enquanto abraçava o filho de forma gentil.

— Você conseguiu filho. — disse ele e Kai pôde voltar a respirar. — Eu sabia que o Soobin também gostava de você.

Kai soltou a mão de Soobin e abraçou seu pai com força, sentindo seu corpo tremendo pelo choro que não conseguia controlar. Era como se um peso tivesse saído de suas costas, e saber que seu pai esteve lhe apoiando era um grande alívio. Não sabia o que estava sentindo, era uma mistura de alegria, alívio, culpa. Nem sabia o que estava fazendo direito, só sentia vontade de chorar e o abraçar.

— Ei, por que está chorando tanto? — seu pai o afastou para segurar seu rosto. — Você tem que ficar feliz.

Kai não conseguia formar uma frase sem gaguejar ou ser interrompido por mais uma sequência de choro. Nem sabia por que estava chorando tanto, até tentava se controlar, mas era mais forte. Era uma necessidade de seu corpo extravasar todas aquelas lágrimas.

Chorou por mais alguns minutos agarrado ao seu pai, enquanto era consolado por ele e Soobin, até que restassem apenas soluços fracos — esses que já estavam lhe irritando por não conseguir falar direito.

— Pelo visto eu era a única que não sabia de nada. — sua mãe se aproximou com os olhos lacrimejantes também. — Por que não me disse Kai?

Kai soltou-se de seu pai e passou os dedos sobre seus olhos para se livrar das lágrimas. Olhou para sua mãe que ainda esperava uma resposta, e deu de ombros.

— E-eu não sei... Sempre tive medo de como v-vocês iriam reagir... E depois da discussão de ontem eu... Eu fiquei morrendo de medo de você nos separar.

A mãe de Kai abaixou a cabeça e enxugou algumas lágrimas que tinham escorrido.

— Eu só quero te proteger filho. — disse e tocou no ombro dele. — Mesmo que às vezes eu seja dura com você, que brigue ou que cobre, eu faço pensando em seu bem. E depois que vi você brigando com sua irmã, a única coisa que pensei foi em ameaçar afastá-los de Soobin. — se explicou e segurou nas mãos do filho. — Aquilo foi apenas pra assustar um pouco sabe, mas eu nunca iria obrigá-los a se afastarem de verdade. Eu sei como Soobin é um garoto bom, e sempre esteve presente desde que nos mudamos, cuidando de você e oferecendo sua amizade quando você não tinha mais ninguém além de nós.

Nesse momento Kai estava surpreso demais com sua mãe. Seu coração parecia espalhar algo por todo seu corpo, não sabia o que era, mas estava fazendo com que seu corpo tenso pudesse relaxar aos poucos e apenas se concentrar em cada palavra que ela dizia.

— Infelizmente eu tenho falhado como mãe, eu sei, e peço desculpas por isso. Você se afastou de mim e eu não sabia como me aproximar. Acho que todas as minhas tentativas de tentar ser melhor e te proteger apenas fizeram com que você se afastasse ainda mais de mim. — disse melancólica e Kai já tinha voltado a chorar. — Eu jamais faria algo pra te deixar infeliz filho, pelo contrário, eu só quero te ver feliz! — segurou no rosto dele enquanto chorava também. — Me perdoe filho, eu te amo.

— É claro... É claro mãe! — disse feliz enquanto se jogava nos braços dela, abraçando-a com força. — Eu também te amo.

Os dois, mãe e filho choraram nos braços um do outro. Enquanto isso, Nabil observava mais afastado, porém muito feliz por ver sua mulher e filho voltando a se entenderem. Soobin também observava sentindo-se satisfeito, aliviado e até emocionado.

Mesmo que Kai tenha reclamado muito àqueles dias da mãe, sabia que ele sentia falta da companhia e companheirismo dela. Aquele afastamento o fez ficar mais vulnerável o fazendo se refugiar em seus braços e depositar todo amor e confiança apenas em seu pai. Mas agora os vendo novamente abraçados e felizes, sentia seu peito também encher-se de uma alegria por saber que ele voltaria a ficar bem.

Os dois se separaram sorrindo e sua mãe limpou o rosto do filho que a olhava encantado. Era como se tivesse perdido uma mãe e ganhando outra. Kai se sentia tão eufórico, parecia que seu peito iria explodir.

— Então, está tudo bem eu e o Soobin ficarmos juntos? — perguntou olhando de sua mãe para seu pai.

— É claro filho! — respondeu Nabil dando um tapa de leve nas costas de Soobin.

— Se você está feliz com ele, então eu também fico feliz. — disse ela acariciando seus cabelos. — E sei que o Soobin vai cuidar muito bem de você.

— Com toda certeza senhora. — respondeu ele a postos.

— Eu espero mesmo, hein Soobin! — de repente Nabil ficou sério.

— Sim senhor! — disse e Nabil riu.

— Que tal fazermos assim; enquanto eu peço pela pizza, você chama seus pais para comermos juntos, hein Soobin? — a mãe de Kai disse animada.

— Oh... Parece ótimo. — respondeu e Kai o olhou nervoso.

— Mas Soobin, eles não sabem... — cochichou.

— Se eles não sabem então esse é o momento. — disse Nabil.

— Você vem comigo? — perguntou Soobin e Kai assentiu hesitante. — Voltamos daqui a pouco.

Os pais de Kai concordaram e os dois garotos saíram de mãos dadas. Já do lado de fora, na varanda, Kai soltou uma risada e puxou Soobin para o canto da varanda onde costumava tocar com seu pai.

— Eu não acredito... Isso é mesmo verdade? — perguntou sorrindo e enlaçando o pescoço do outro, enquanto ficava na ponta dos pés olhando o teto de forma sonhadora.

— Eu disse que daria certo. — respondeu Soobin o segurando no lugar quando ele fez menção de rodopiar consigo.

— Se é por causa do que você disse, então deveria ter dito logo. — disse alegre e abraçou com força.

Os dois garotos riram e se afastaram um pouco enquanto se olhavam e encostavam as tetas. Soobin aproximou seus lábios dos dele e Kai fechou os olhos, porém, ouviu alguém pigarrear alto os fazendo se afastar assustados.

Nabil estava na porta, apenas com o tronco de fora. Soobin e Kai trocaram um olhar, nervosos, com medo de serem repreendidos.

— Eu aceitei que namorassem, mas que fique claro que estou de olho. — disse com os olhos semicerrados e os dois garotos assentiram. — Aliás, já não deviam estar na sua casa Soobin? — perguntou.

— Sim senhor! — disse.

Nabil entrou novamente e os dois garotos respiraram aliviados. Kai olhou para Soobin e riu fazendo ele lhe olhar confuso.

— Agora você virou um soldado? — Kai perguntou.

— Cala essa boquinha e vamos. — disse um pouco irritado e envergonhado.

O mesmo puxou Kai pela mão enquanto o mais novo ainda ria do comportamento dele em relação a seu pai. E ainda naquela noite, Kai e Soobin mais uma vez passaram por momentos de tensão ao anunciarem aos pais dele que estavam juntos. Entretanto a noite terminou bem, pois além dos pais de Kai terem aceitado os pais de Soobin também concordaram com a união dos jovens.



                                             °°°


O mês de férias tinha se passado tão rápido. Para Kai, a sensação era como se ainda ontem ele estivesse ali no pátio externo da escola, sozinho e esperando Soobin. Mas apesar de ter gostado de se livrar da escola por um tempo, agora que observava aquela entrada, o gramado, os estudantes, o barulho de gritos e conversas, admitia que sentiu um pouco de falta.

Estava sentado em um dos bancos de concreto debaixo de uma das árvores que fazia uma grande sombra. Balançava suas pernas, como se estivesse em um balanço de parquinho, enquanto sentia a quentura da mão de Soobin na sua, enquanto o garoto mexia no celular.

Depois de anunciar sobre estarem juntos para suas famílias, Kai estava sentindo-se ansioso. Mas não era algo ruim, era somente vontade de estar com Soobin e viver tudo que tinham direito em um relacionamento.

Agora que não havia mais perigos, não se continha mais em relação a ele. Quer dizer, ainda tinha sua irmã que dizia que tinha superado, mas Kai sabia que aquilo não acontecia de um dia para o outro, por isso, quando ela estava por perto evitava falar sobre Soobin. Mas seus pensamentos, desde que acordava até a hora de dormir sempre estavam ligados a ele. Seu coração acelerava a qualquer coisa relacionada a ele, assim como sensações e sentimentos diferentes despertavam.

Kai olhou para Soobin — esse que ainda estava distraído com o celular. Inclinou-se um pouco pra ver o que ele tanto olhava, mas o garoto percebendo sua aproximação, bloqueio o aparelho e guardou.

— O que você tanto olha, hein? — perguntou curioso.

— Nada. — deu um sorriso amarelo.

— Você está escondendo algo. — disse desconfiado e soltou a mão dele.

— É sério Kai. — insistiu, mas Kai se afastou no banco e cruzou os braços.

— Eu te conheço Soobin. — disse com um bico. — Mas se não quer falar, tudo bem. — deu de ombros, olhando para o outro lado.

Ignorou-o, fingindo que não se importava, mas a verdade é que estava se torcendo por dentro em inseguranças. Ele estava sim escondendo algo, e aquilo incomodava demais. O que ele não queria que soubesse?

— Kai... — chamou enquanto se aproximava e passava os braços por trás o abraçando. — Não fique irritado. — pediu próximo a seu pescoço e o garoto fechou os olhos se controlando pra não estremecer.

— Não estou. — disse e Soobin suspirou.

Ah! Qual o problema dele? Por que não fazia aquelas coisas longe de seu pescoço? Pensava agoniado pelos arrepios querendo aparecer.

— Olha pra mim. — pediu e Kai se virou o olhando. — Não quero que fique desconfiado ou enciumado por causa de besteiras. Nos conhecemos faz um tempo, mas agora as coisas vão ficar mais sérias, e se quisermos que realmente dê certo, precisamos nos respeitar e confiar um no outro. Não basta apenas dizer que gosta, há muitas outras coisas que precisam andar de mãos dadas com esse sentimento.

Kai abaixou a cabeça sentindo-se envergonhado por mais uma vez ter mostrado sua infantilidade. Era nesses momentos que se perguntava se aquilo daria certo. Várias inseguranças começavam a lhe atingir como flechas e até se sentia inferior comparado ao nível de amadurecimento e experiência dele. Chegava também a se perguntar como Soobin podia estar com ele.

— Desculpe... Mas é que, às vezes, eu não sei, não consigo controlar. — disse bagunçando o cabelo agoniado. — Soobin e se não der certo? — perguntou com medo.

— Então vamos fazer dar certo. — disse segurando em suas mãos.

Kai viu um brilho nos olhos dele e sorriu. Precisava deixar suas inseguranças bem longe e focar em fazer aquilo dar certo. Soobin era tão perfeito, faria de tudo para melhorar e não deixá-lo se arrepender de gostar de si.

Os dois se aproximaram e selaram seus lábios em um singelo beijo. Então se afastaram um pouco e sorriram um para o outro antes de voltar a se beijarem.

Right here! (Bem aqui!) — de repente Kai ouviu enquanto sentia algumas coisas caindo sobre si. — Right now! (Bem agora!) — se separou assustado de Soobin e viu ninguém mais ninguém menos que Taehyun jogando pétalas de rosa em cima deles.

— Taehyun? — se levantou junto de Soobin.

I'm looking at you, and my heart loves the view, 'Cause you mean everything! (Eu estou olhando para você, e meu coração adora o que vê, porque você significa tudo!) — cantou, dando um pulo e subindo no banco onde estavam sentados jogando mais pétalas. — Right here, I promise you somehow, that tomorrow can wait... (Bem aqui, eu prometo de algum modo, o amanhã pode esperar...) — apontou para eles dois e pulou do banco indo os abraçar pelos ombros.

— O que está fazendo? — Kai perguntou confuso e com vergonha por algumas pessoas estarem olhando.

For some other day to be (to be), but right now there's you and me. (Para que algum outro dia nasça (nasça), mas agora é só você e eu.) — terminou forçando um olhar apaixonado e piscando várias vezes.

— Perdeu o juízo? — perguntou e Taehyun desmanchou o sorriso, bufando frustrado.

— Ah qual é, não estraga a surpresa! Eu estou tentando ajudar o Soobin. — disse cruzando os braços.

— Quê? — ficou ainda mais confuso e olhou para Soobin.

— Você é muito sem noção. — disse Soobin para Taehyun que mostrou a língua pra ele.

— Do que estão falando? — Kai perdeu a paciência.

Os outros dois se olharam e Taehyun bufou mais uma vez se afastando e sentando entediado no banco. Soobin pigarreou parecendo nervoso e se aproximou de Kai segurando em suas mãos.

— Eu fiquei pensando sobre nós e, agora que estamos juntos e a nossa família também já sabe, eu percebi que ainda falta uma coisa. — disse e Kai franziu o cenho.

— Mas, o que é... — perguntou nervoso.

— Huening kai, aceita namorar comigo? — perguntou ele respirando fundo.

Kai prendeu a respiração e petrificou no lugar, enquanto sentia seu coração querer sair do peito e seu rosto esquentando.

Depois que se declarou para Soobin e ele pra si, pensou que apenas aquilo bastava, nunca refletiu sobre um pedido de namoro. Mas agora que tinha acabado de receber um, sentia-se muito nervoso e feliz, nem sabia o que responder se apenas um sim bastava ou se precisava de um discurso bonito também.

— E-eu... — gaguejou e Soobin arqueou uma sobrancelha.

— Ah pelo amor de Deus responde logo eu estou quase pra vomitar! — disse Taehyun indignado.

— É claro que sim! — disse sorrindo e pulou no pescoço dele o abraçando forte.

— Ok! Agora podemos ir pra aula? — Taehyun perguntou.

Os dois garotos se afastaram um pouco apenas para se olharem, sorrindo. Kai sentia uma alegria tão grande preenchendo seu peito que até sentia vontade de sair correndo e gritando pelo pátio.

Agora estava oficialmente com Soobin, agora eram namorados.

— Eeeeei! Oi? — dizia Taehyun, mas nenhum dos dois o dava atenção. — Ah não, por favor, de novo não!

O garoto pedia, mas não adiantava, Kai e Soobin estavam presos demais em sua bolha romântica. Eles ignoraram os pedidos de Taehyun e simplesmente se entregaram a um beijo completo.

Dali em diante o restante do ano letivo seria diferente, algo completamente inesperado. Kai não estaria mais sozinho, e principalmente, teria alguém mais que especial ao seu lado.



NOTAS FINAIS

E esse é o penúltimo capítulo pessoal hehehe

Bom as coisas se ajeitaram, pelo menos boa parte... e agora os dois depois de tanto sofrer estão juntos ashuashua com direito a música e pedido de namoro.

Espero que tenham gostado!

Até o próximo!

Summer Vacation - SookaiWhere stories live. Discover now