Diogo Bertolazzo

O mafioso encarou o arquivo por alguns instantes, a sobrancelha levantada em desafio. Seus dedos roçaram pelo material levemente poroso e o abriram. Sem nem mesmo dignar uma segunda olhadela para a foto de Diogo, Yibo passou as folhas impressas rapidamente. Nelas constava uma breve história da vida de Diogo e aquilo não era o que o interessava no momento.

Continuou passando as folhas até deparar-se com um novo título em negrito: O Caso de Atlanta. Diogo era o tipo de criminoso que sabia executar muito bem o crime perfeito. Não ter evidências e testemunhas era matéria básica de seus serviços. O que ele fazia era muito além disso. Ele criava uma história, ele criava acidentes, ele criava fatos. 

Bom... ou era isso que sua reputação dizia, Yibo sorriu sardonicamente. Se para toda regra existe uma exceção, o erro de Diogo estava firmemente preso entre os dedos dele. A única vez que ele errou. O Caso de Atlanta. O sorriso do mafioso abriu-se mais. Não havia nada que uma boa informação não pudesse barganhar. Já era hora de Yibo fazer uma pequena ligação.

– Yibo? – O mafiosa sobressaltou-se com a voz do federal, que veio antes mesmo das batidas na porta. – Por que está trancado aí?

O homem praguejou baixinho, deixando o arquivo de Diogo ao seu lado e fechando a caixa.

– Nada de importante. Só estou pegando algumas coisas.

Colocou a caixa em seu devido lugar, encaixando o fundo falso em seguida. Puxou uma bolsa de seu maleiro, grande o suficiente para abrigar o arquivo que imediatamente colocou lá dentro. Cobriu a pasta com um par de roupas e produtos cosméticos, ambos aleatórios.

– Por que fechou a porta? – A voz de Xiao soou mais uma vez.

O mafioso soltou um impropério. Aquele era o federal, sempre inconveniente, sempre querendo saber de tudo na hora que achava mais certa. O que, na opinião de Yibo, sempre era o momento errado.

Consternado, mas ainda tomado pela tensão de ter sido, tecnicamente, pego no flagra, Yibo andou duramente até a porta, abrindo-a em um rompante.

– Fechei a porta porque estava assassinando alguém e escondendo o corpo em um fundo falso no meu armário. – Declarou de uma vez, mantendo os olhos castanhos banhados por uma falsa indolência.

– Yibo... – O federal disse, o tom de censura. Arriscou uma olhada rápida para dentro do ambiente, mesmo sabendo que cogitar alguma veracidade daquelas palavras era ridículo. 

Entretanto, Xiao já conhecia o homem o suficiente para saber que aquela fala banhada de sarcasmo era um dos muitos artifícios dele, um dos meios de escape característicos que o mafioso utilizava quando queria desviar o foco de algo.

Xiao cruzou os braços sobre o peito, a linha da mandíbula tencionada, os olhos atentos a qualquer mínima expressão dele.

– O que está tentando esconder de mim?

Yibo lutou para permanecer impassível diante da pergunta direta. Como? Como ele poderia ter tanta convicção daquilo? Manteve a saliva dentro da boca, com medo de que uma simples deglutição o delatasse. Pensou em suas possibilidades. Por um lado, não fazia mal algum contar para Xiao o que estava planejando, ele provavelmente concordaria e diria que interferiria se Diogo causasse problemas.  Porém, por outro lado, ele poderia alegar que ele estava se preocupando com a segurança dele, se preocupando com ele. Yibo não se sentia confortável para começar aquela conversa sobre suas preocupações, sobre o porquê de olhar pela segurança dele, de novo. E por isso, escolheu continuar na omissão.

– Mais que coisa, Federal! Eu não estou tentando esconder nada. — proferiu com ultraje calculado. – Eu não posso mais ter uma pouco de privacidade? –  contra-atacou, e puxou uma alça da bolsa que segurava, abrindo-a. Levou os olhos para dentro dela ao mesmo tempo em que o federal levava os seus.  A única coisa que se via eram os tecidos de suas roupas e produtos cosméticos variados. Yibo voltou os olhos para a figura masculina, aliviado pela pasta ter permanecido tampada. – Isso era o que eu estava fazendo lá dentro.

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