Eu fecho a câmera em meu notebook, deixando a minha presa ir, por enquanto. Quando menos esperar, darei o bote certeiro. Minha atenção recai nos itens sobre a mesa de mogno. Três celulares, um deles foi encontrado dentro de um cofre em seu closet. O oficial é identificado pela tela de descanso, uma foto dela com a filha. As duas sorridentes, os rostos muito parecidos. Hermes já fez a sua mágica e desbloqueou todos. Saberei tudo que a vadia fez e com quem fez no último ano ou mais, se quiser. Hermes é um gênio quando se trata de invadir a privacidade do inimigo. Percorro a sua lista de contatos, não vendo nada suspeito a princípio, então, surge o nome do paspalho, que em minhas pesquisas, descobri ser o seu ex-marido. Igor Palhares, companheiro de esquadrão e que hoje é casado com a sua irmã mais nova. É ele o pai da menina. O cara deve ter feito merda, mas não me interessa. Saber o que os dois andam conversando, sim, interessa. Abro as mensagens dele, áudios e em sua maioria, quase um monólogo:

Você está acordada? Por favor, fale comigo, Liv.

Eu cometi um erro imenso. Te deixar foi a maior burrada da minha vida. Por favor, me responda.

Faço um som desdenhoso. O imbecil deve ter traído a esposa com a cunhada.

Eu te amo. Sei que não acredita pelo modo estúpido e covarde que agi com você, mas é verdade.

Vamos conversar.

São muitas na mesma ladainha. Ser ignóbil. Patético. Bufo, passando para as últimas.

Jante comigo no sábado. Eu vou pedir o divórcio, vou deixar a Virgínia. Você é a mulher da minha vida. Por favor, me responda.

Ela respondeu e meu dedo paira em cima do áudio. Ainda sente algo por esse monte de merda? Me pergunto, de repente irritado com essa possibilidade. Abro:

Você teve a sua chance.

Eu rio com essa resposta. É seca, sucinta, sem xingamentos, nem nada que dê margem para o infeliz ter esperanças. É uma frase que mostra indiferença. Prova disso é que não há mais mensagens do palhaço depois dessa. Isso foi ontem à tarde. Então, ela aparentemente não sente mais nada pelo ex. Não sei por que gosto de confirmar isso. Talvez seja pelo fato de que antagonizei o imbecil logo de cara quando chegamos à delegacia e ele retirou o capuz da cabeça. E depois, pela maneira que olhou para Olívia quando entrou na sala, denotando ter intimidade com ela ao chamá-la pelo apelido e não o tratamento formal naquelas ocasiões. Uma tentativa clara do idiota em demarcar território, como se ainda tivesse algum direito. Vou lidar com esse cuzão depois. Faço uma nota mental e sigo conferindo os contatos até encontrar uma tal prima Duda, que na verdade é a policial federal, Eduarda Oliveira. Não do esquadrão, mas da delegacia, tenho um arquivo seu também. A primeira coisa que percebo é que as duas conversam pra caralho! Bufando, leio e ouço uma a uma as mensagens recentes. A tal prima conta que o marido está pressionando-a para ter filhos e a garota não consegue lhe contar que seus exames não são bons nesse sentido. Ela não pode conceber.

Fico entediado como o inferno ouvindo toda a lamúria. Mas quando Olívia começa a responder em áudio, me vejo repetindo-os, apreciando o timbre e a suavidade com que se dirige à garota, mostrando que essa melodramática é importante para ela. Aconselha-a a contar a verdade para o estúpido marido. Então, a conversa avança e chego nas enviadas ontem, bem tarde da noite. O teor é o seu encontro comigo na boate. Porra. Eu expiro de alívio por acabar as lamentações da prima.

Eu senti tesão no miserável, Duda. Foi a coisa mais estranha e inexplicável.

Um sorriso de hiena curva lentamente a minha boca ao ouvir a confissão da cadela. Volto e ouço de novo, apreciando cada palavra.

PRISIONEIRO 77 (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now