Capítulo 16 - Talvez você tenha deixado eu ir, para ter o gosto de me ver aqui

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― Um o quê? – Perguntei, percebendo só depois que soei desesperada.

Maurício suspirou, jogando os papeis na mesa. Olhou de mim para Eduardo por alguns segundos, antes de perguntar:

― Não tem nenhuma música que tenha história para vocês dois? Não sei... Algo que vocês já tenham cantado juntos, que os dois gostem, que não vá ser um suplício cantar...

Tão cedo assim, Murphy?

Eu olhei para Eduardo implorando silenciosamente. Por favor, Eduardo, não. Ele devolveu meu olhar, mas ignorou meus pedidos implícitos. Tenho certeza que ele sabia o que eu estava silenciosamente pedindo, especialmente por conta do seu sorrisinho. Por favor, Eduardo, essa música não. Preferia que ele falasse Vai Ter Que Rebolar e me fizesse passar aquela vergonha novamente, na frente de bem mais pessoas. Era melhor do que falar o que eu sabia que ele queria falar. Continuei encarando-o, como se meu olhar desesperado pudesse fazê-lo voltar atrás de uma decisão já tomada.

Thinking Out Loud – ele finalmente disse.

Desviei o olhar para minhas botas, em pânico. Não acredito que ele tinha dito, realmente. Não havia mesmo a menor condição de cantarmos essa música. Não havia. Não. Havia. Eu seria forçada a realmente sair correndo na direção dos muros e tentar escalá-los. De maneira nenhuma eu ia subir no palco para cantar essa música COM EDUARDO.

A sensação que essa música me trazia SOZINHA já era complexa o bastante. Não precisamos adicionar um dueto dela com o cara que eu potencialmente estou interessada amorosamente, obrigada. Não precisamos fazer com que eu tenha vontade de dançar lentamente com ele pelo palco, obrigada. Não precisamos fazer com que eu tenha vontade de beijá-lo novamente, obrigada. Não tenho interesse de ser humilhada em público quando ele se afastasse e me olhasse com cara de "agora é tarde demais", OBRIGADA.

― Por que vocês nunca sugeriram isso antes? – Igor perguntou, irritado.

― Porque eu veto – eu respondi, tentando manter o tom neutro, mas provavelmente soando como se isso fosse uma questão de vida ou morte.

Praticamente era. Havia grande possibilidade de eu precisar de atendimento da Socorro, a socorrista, se fosse obrigada a cantar essa música com Eduardo.

― Você veta? – Igor perguntou e eu me encolhi crente que ele ia me dar um tapa na cara.

― Vai gastar seu último veto com isso, Amanda? – Maurício perguntou.

― Sim.

Sim, mil vezes sim. Esse era o motivo pelo qual estava guardando esse veto com tanto zelo. Eu sabia que cedo ou tarde essa música ia entrar na roda e eu não podia, realmente não podia concordar em cantá-la.

Eduardo não disse nada novamente. Abaixou a cabeça, quieto e pensativo. Igor e Maurício começaram a discutir outras opções, mas eu ainda estava nervosa demais para prestar atenção, pensando no caos sentimental que seria ter que cantar Thinking Out Loud com Eduardo. Se já era complicado demais dançar com ele.

Fui obrigada a cantar muitas músicas naquela manhã e, depois, naquela tarde. Até cover de Grease nós tentamos fazer, mas eu comecei a achar que o nosso problema não era especialmente a música. Era como eu tinha passado a me comportar perto de Eduardo. Pânico definia relativamente bem.

Na parte da tarde, Maurício decidiu que devíamos trabalhar somente em Escreve Aí, do Luan Santana. Claro que eu não conhecia a letra, mas depois de ouvi-la tantas vezes, acho que sou capaz de cantá-la de trás para frente agora. A situação de cantar essa música com Eduardo também não era nem um pouco agradável, mas pelo menos eu conseguia deixar meu desespero oculto. Quer dizer, mais ou menos.

Acampamento de Inverno para Músicos (nem tão) TalentososOnde as histórias ganham vida. Descobre agora