Capítulo Bônus: Os dons de Eduardo

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Quando o ônibus parou na frente do Acampamento eu me questionei que raios eu estava fazendo da minha vida. De novo. Devia ser algum tipo de distúrbio, se inscrever dois anos em sequência para passar as férias de inverno trancafiada em um sítio no meio do nada, em Teresópolis.

Olhando de dentro do ônibus, escondida pela sutil cortininha, nada parecia ter mudado. O mesmo capim alto demais, a mesma casa no meio do terreno e a mesma quantidade de crianças ensandecidas descendo dos ônibus e pulando pelo jardim.

Smack.

Eu virei para o lado assustada, dando de cara com um Eduardo extremamente sorridente. Ele vestia um colete laranja que dizia monitor e parecia estar tão orgulhoso de usá-lo quanto ficava de usar o jaleco de médico em formação. Eu levei a mão até a bochecha beijada, contendo um pequeno sorriso.

― Quantas memórias, né? ― Ele disse, esticando-se por cima de mim no banco para olhar pela janela.

Eduardo tinha um dom. Além da música, é claro. Ele também era capaz de desarmar qualquer esboço de mau humor que eu tentasse exibir. Quando ele levantou do banco e esticou a mão na minha direção, eu já estava sorrindo.

― Pelo jeito alguém também está mergulhada em boas lembranças ― piscou, me direcionando para fora do ônibus.

As circunstâncias eram diferentes. Um ano atrás eu estava chegando no mesmo Acampamento, em um ônibus muito parecido e com a sensação de que eu ficaria exilada por um mês por exigência da minha melhor amiga. Dessa vez, eu estava me trancafiando por vontade própria.

Eduardo parou no meio do ônibus, ajudando uma pequena campista a pegar sua mochila do porta-bagagem em cima do ônibus. A criança deu um sorriso aberto como forma de agradecer e meu namorado bagunçou os cabelos dela.

Quer dizer, mais ou menos vontade própria.

Quando Eduardo veio com essa história de voltar para o Acampamento, eu comecei a rir. Só podia ser piada. Quando ele continuou me olhando sem entender meu acesso de risada, eu comecei a ficar preocupada e disse não de imediato. A forma como seu sorriso murchou fazia meu coração doer mesmo agora, muito tempo mais tarde. Eu tinha aprendido a amar o Acampamento no mês que passei confinada nele, muito pelas experiências que ele tinha me oferecido e pelo namorado que ele tinha me presenteado. Porém, entre aprender a amar e desejar voltar havia uma distância muito grande.

Mas Eduardo não era o tipo de pessoa que sabia ouvir não como resposta.

Ainda que ele não tivesse sido insistente, teimoso ou cabeça dura, tinha arranjado formas sutis de trazer o Acampamento à tona, sempre dando destaque aos melhores momentos. Ainda que os melhores momentos dele envolvessem situações que eu ficava vermelha só de lembrar, como o momento em que eu descobri que tinham alterado a música do show final ou quando fomos obrigados a fazer uma batalha de músicas na cantoria inaugural.

Acampamento de Inverno para Músicos (nem tão) TalentososOnde as histórias ganham vida. Descobre agora