38 • Remember

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Harry não voltou para Hogwarts no dia seguinte. Todos estavam perdidos, confusos. Antes, não tinham nome para o perigo, e isso dava uma desculpa para o caos; agora, um nome foi revelado — mas ninguém sabia qual passo tomar.

Narcissa passou dois dias seguidos na biblioteca. Harry e Draco nunca tinham visto a mulher tão focada, tão imersa em livros e pergaminhos. Ela buscava incansavelmente um feitiço de proteção tão poderoso que nenhuma magia hereditária pudesse tocá-los novamente.

— Amanhã vou pedir para meu pai convocar alguns mestres de Defesa Contra as Artes das Trevas — disse Draco com voz firme, sem tirar os olhos dos livros. — Preciso me tornar melhor, mais forte. Já cansei de não conseguir te proteger.

Draco, ajeitando o pijama, evitava olhar para Harry, que já estava deitado. Sentia o peso do olhar do amigo nas costas, mas algo o impedia de se virar.

— Dray? Olha para mim — chamou Harry, com a voz doce, mas firme.

Nada.

Harry se levantou e se aproximou devagar.

— Eu não quero que você fique mais forte por minha causa. Nunca pedi que fosse meu guarda-costas. Só quero que fique ao meu lado, sendo você mesmo. Entendeu?

Draco se virou, evitando o olhar, e o abraçou com força.

— Um dia, prometo — sussurrou, a voz carregada de emoção —, eu vou te mostrar que posso te proteger!

Harry soltou um suspiro pesado, carregado de um cansaço que ia além do corpo — era o peso de tudo que estava por vir. Ele sabia que nenhuma palavra sua naquele momento conseguiria atravessar a muralha silenciosa que Draco erguera.

Eles se deitaram lado a lado, como sempre fizeram, uma rotina que, para qualquer um, pareceria simples. Mas para Harry, havia uma tensão quase palpável no ar, um incômodo que crescia a cada segundo, queimando por dentro.

Virou o rosto lentamente, e ali estava Draco, entregue ao sono profundo, a expressão tranquila como se o mundo pudesse ser esquecido. O coração de Harry disparou, uma mistura confusa de medo, desejo e uma urgência sufocante que ele nem sabia nomear.

Em um impulso, virou o rosto para o lado oposto, tentando engolir aquele turbilhão que ameaçava derrubá-lo.

"Qual é o seu maldito problema?" pensou, a voz na sua mente soando como um grito preso na garganta.

O sono demorou a chegar, lutando contra aquela tormenta interna. Mas quando finalmente o invadiu, seu sonho emergiu com força brutal — uma realidade viva e pertubadora.

— Harry? Harry? Acorda, Harry, nós vamos nos atrasar. Você esqueceu?

Ele abriu os olhos, mas o rosto da garota à sua frente era um borrão, uma sombra sem forma, como se estivesse sendo sugada para dentro de um nevoeiro denso e impenetrável.

— Levanta, Harry. Ele está reclamando da sua demora.

O uniforme de Hogwarts dela era nítido, mas seus traços desapareciam, distorcidos, quase como um sonho fugidio tentando se agarrar à realidade.

De repente, Harry não estava mais na cama do quarto de Draco. Estava na sala de jantar, cercado por Draco, Narcissa, Lucius, Severus e a garota sem rosto. Todos os olhares, tensos e carregados, pesavam no ar.

— Vocês estão prontos? — Narcissa perguntou, com uma voz firme, quase um comando. — Vocês não podem se esquecer de nada.

Mas foi a garota quem respondeu, sua voz ecoando como um sussurro inquietante:
— Acho que esqueci de uma coisa, madrinha... já volto.

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