Dumbledore falou por mais tempo do que Harry esperava.
O diretor percorreu cada detalhe da escola: as matérias, os professores, os eventos anuais, os quadros falantes, os fantasmas, o Quadribol... Mas o que realmente chamou a atenção de Harry e Severus foi a ênfase especial que ele deu à Grifinória.
— Tenho certeza de que você se sairá muito bem na casa dos seus pais e padrinhos, Harry — disse o velho bruxo, os olhos brilhando por trás dos óculos meia-lua. — A Grifinória está no seu sangue, meu jovem.
Harry manteve-se calado durante toda a conversa. Ele precisava sustentar a imagem de que não sabia nada sobre Hogwarts, mas estava sendo difícil permanecer em silêncio. A cada palavra do diretor, ele sentia uma irritação crescente.
Finalmente, quando foi dispensado para colocar as vestes pretas, sentiu um alívio palpável.
Ele estava prestes a se queixar com Severus sobre o tempo que perderam ali, mas o mais velho fez um gesto discreto — dois toques leves na têmpora.
Harry entendeu na hora.
Ele e Draco haviam sido treinados desde pequenos para proteger suas mentes. Diferente da maioria dos bruxos, os dois não apenas eram imunes à Legilimência, como também haviam dominado o controle mental antes dos dez anos. Severus, Lucius e Narcissa ensinavam Oclumência com perfeição, garantindo que suas mentes estivessem sempre protegidas.
Mas e quando a fala não era segura?
Foi por isso que criaram um código.
Severus, ao abaixar seus escudos mentais para se comunicar em silêncio, dava dois toques sutis na têmpora — um sinal para que Draco ou Harry lessem seus pensamentos.
E a mensagem veio nítida na mente de Harry.
"Não confie abertamente em ninguém. Sempre tenha o pé atrás, principalmente com os professores. E tome cuidado com o que diz... as paredes ouvem."
Harry não respondeu, embora sua mente estivesse repleta de perguntas. Apenas seguiu Snape em silêncio, marchando ao lado dele de forma sincronizada.
Desconfiar das pessoas já havia se tornado algo natural para ele. Não sabia quem estava por trás dos ataques que sofrera ao longo dos anos, e confiar cegamente em alguém era um erro que não podia se dar ao luxo de cometer.
Severus parou e apontou para uma sala.
— Vá se trocar. Após a seleção dos primeiranistas, o diretor chamará você. Entendeu tudo o que foi dito, Potter?
Harry encontrou os olhos do homem e soube que ele não estava apenas falando sobre as instruções do diretor.
— Sim, Professor — respondeu firmemente. — Eu entendi tudo.
Sem mais uma palavra, Severus virou-se e saiu.
Harry hesitou por um momento antes de empurrar a porta e entrar.
— Ah, claro. O banheiro.
Enquanto trocava suas vestes, uma guerra interna começou dentro de Harry.
"Deveria contar ao meu padrinho sobre o rastro que vi nos biscoitos? Mas e se for só um encantamento inofensivo? Seria um desperdício preocupá-lo com algo tão trivial..."
Ele suspirou, afastando os pensamentos, e então se virou para o espelho.
A visão diante dele era algo que só vira em sonhos.
A camisa social branca, o suéter cinza, as calças pretas. Em suas mãos, a capa completamente negra, à espera de revelar a verdade sobre sua casa.
Seu peito se apertou.
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All This Time
Mystery / ThrillerTentaram lhe deixar sem nada, sem a família, sem uma casa para morar. Pensaram que ele estava sozinho, só não sabiam que Harry Potter nunca esteve só. "Minha família não acabou naquela noite, ela se tornou mais forte" Obra criada baseada nos livros...
