Prólogo

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Seo-yun (S/N)

O sonho de uma criança que tem uma família é sempre algo haver com oque ser quando crescer, casar e ter filhos, ser rico e famoso, medico, professor, jogador e infinitas possibilidades futuras, mas o sonho de uma criança que vive no orfanato é ter uma família, uma família que a ame e não a rejeita, alguém que possa a acolher de forma mais pura e simples, ter alguém pra chamar de pai e mãe, esse foi o meu sonho até eu ter a maior idade e perceber que aqueles que já foi rejeitado assim que nasceu, está predestinado a ser rejeitado pelo resto da vida.

Se eu pudesse ter poder de escolha eu teria recusado a nascer, eu preferia ser morta e não viver pra passar a sentir a dor da rejeição, acho que a dor de viver não se compara a dor de quem não quer mais viver e só está no mundo por puro medo do que vai vir após a morte, mas eu já não sinto esse medo, pra mim acabar com a minha vida é uma salvação divina , um fim de um ciclo doloroso e sem graça.

Passei minha infância e adolescência inteira no orfanato, enfiada em livros de direito e de matemática, escondida num canto do orfanato com medo de ser adotada e apenas passar uma semana com a família e depois voltar ao orfanato com uma desculpa de que não me adaptei a casa, mas na verdade é que eu fui rejeita mais uma vez por não ser alguém suficiente pra preencher aquele vazio na família, sou algo descartável e substituível, alguém que no final das contas sempre acaba sozinha.

Eu tive alguém depois que eu fui embora do orfanato, uma senhora havia me acolhido em sua pequena casa em Daegu e sempre falava de seu neto e como ele se tornaria mundialmente famoso, ela me mostrava todos os dias às fotos de seu neto e quando jantávamos ela falava dele, ele vinha visitar ela, mas eu sempre estava fora por medo de me julgarem e me mandarem embora, ela dizia que um dia me apresentaria pro seu neto e que se tudo desse certo ela juntaria nós dois, mas isso nunca havia acontecido, pois como sempre no final eu acabava sozinha.

Em 2016 ela veio a falecer e eu tive que ir embora de Daegu, fui para Seul com o pouco dinheiro que ela tinha guardado pra mim e me hospedei em uma pousada velha que estava mais pra um motel, anos se passaram e eu nunca ficava em um lugar fixo, trabalho era raro eu ter e pra conseguir permanecer na pousada eu tinha que lavar passar e arrumar toda a pousada, tudo sozinha e sem ninguém me ajudando, quando eu fazia algo de errado eu era obrigada a dormir fora da pousada, então eu tentava o máximo pra não errar quando era inverno e quando chovia.

Mas eu havia chegado ao meu limite, eu já não aguentava mais ser destratada e eu queria acabar com minha vida, o meu único consolo era álcool e o cigarro, eu me matava aos poucos todos os dias, me acostumando com a ideia de que a morte era a única solução pra mim, que a morte não era algo pra sentir medo e sim pra admira-la, pra ir até ela de braços abertos e a abraçar, a ponte do Rio Han era a porta pro meu fim e toda vez que eu a olhava um sentimento de que deveria estar lá era maior, um sentimento de que eu deveria mergulhar na morte e dar um fim em tudo, ser menos um peso morto nesse lugar que chamam de terra.

Por isso eu estou aqui, olhando mais uma vez pro rio, usando o álcool como um remédio pra aliviar a dor da rejeição, a dor de alguém que não é alguém, meu corpo sozinho vai subindo na grade da ponte e eu já me encontrava em pé, com os olhos fechados apenas sentindo o vento bater forte contra o meu rosto, era como um ritual de suicídio, você pede desculpa a Deus por ser alguém falho e não ter sido forte o suficiente, por dentro você implora pra que ele mande alguém pra te salvar, mas por fora você já aceitou o seu fim e que não tinha mais salvação.

Estico meus braços e conto até três, no três eu ia pular, mas um grito e braços me agarraram e me puxaram pra trás, meu corpo se choca contra o dele assim que caímos no chão e solto um gemido de dor por causa da pancada.

The true happiness - Livro 5 (BTS) CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora