A segunda carta

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A
segunda carta chegou quando Diluc estava alojado em uma das províncias de Fontaine.

A cidade era grandiosa, com uma arquitetura refinada que consistia principalmente em casas de dois andares e tetos triangulares, feitos da madeira escura dos pinheiros. Haviam canais que cruzavam o centro comercial, formando vários aquedutos estreitos de águas cristalinas que corriam em abundância.

Na principal praça de lá, comerciantes enchiam as ruas com vozes que ofertavam coisas como frutas, queijos, vinho licoroso, pão de trigo e tecidos de linho. Até mesmo engenhocas tecnológicas produzidas pelos inventores da região eram exibidas em pequenas vitrines ao ar livre. Alguns cachorros vagavam e alguns meninos brincavam, correndo alegremente uns atrás dos outros.

Em comparação àquela boa atmosfera de inovação inundando os bairros nobres, enchendo a boca dos ricos de fofocas e que, inclusive, prometia um futuro próspero à nação da Arconte Hydro, haviam os bairros de periferia, os conjuntos de moradia simples, feios e pobres.

Eram repletos de casas pequenas e caindo aos pedaços. Donzelas maltrapilhas — geralmente puxando a mão de alguma criança doente que já perdia suas roupas surradas — vagavam pelas ruas em busca de esmola, às vezes oferecendo serviços da noite a quem se interessasse.

Duas delas tinham dado em cima de Diluc, com palavras doces e sorrisos carregados de segundas intenções naqueles lábios manchados de batom vermelho. Uma delas, a loira que exibia um decote exageradamente a mostra, segurava um charuto que, pelo cheiro desagradável, Diluc reconheceu como sendo ópio. Era fácil adivinhar quando um número gigantesco de pessoas, jogadas pelas vielas daquele lugar, estavam fumando a mesma coisa.

A outra mulher da dupla passou um bom tempo perturbando-o, esfregando-se nele e tentando agarrar uma das mãos de Diluc para enfiar no meio de seus seios ou debaixo de sua saia pesada. Em todas as vezes que aquela situação incômoda acontecera, Diluc a afastava e a recusava com uma educação impecável. Logo, com o decorrer dos minutos, as duas finalmente se cansaram e o deixaram em paz.

Diluc então seguiu seu rumo para o meio da cidade, caminhando de volta até a ponte que separava o subúrbio dos bairros nobres. Por sorte, encontrou perto dali uma pousada. Quartos pequenos cujo piso rangia a cada passo, mas a matriarca da casa lhe ofereceu um dos seus "melhores aposentos", além da garantia de água quente para se lavar e um jantar capaz de cessar os roncos do estômago de Diluc.

De noite, depois do banho, ele saiu com uma toalha amarrada na cintura e foi para seu quarto se vestir. Com vários dias na estrada, destruindo acampamentos hilichurls, lutando e espionando sorrateiramente fatuis por todos os lugares, Diluc sentia a poeira e o suor agarrando-se à sua pele. Ele tinha a sensação desagradável de estar cansado e imundo, de modo que se lavar não serviu apenas para tirar a sujeira acumulada no rapaz, como ofereceu um alívio superficial aos músculos doloridos pela fadiga.

Com rapidez e de forma quase distraída, Diluc começou a trajar a parte baixa de sua roupa. Ele ainda tinha seus cachos ruivos respingando gotas de água por suas costas e o abdômen nu, quando, de repente, um ruído de algo batendo soou pelo ambiente. O som cortou o silêncio, agudo e contínuo, vindo da direção da janela.

Diluc imediatamente ficou em guarda, a mão direita alcançando seu espadão na lateral da cama em um movimento ligeiro. Conforme se aproximava da janela em passos cautelosos, os ombros do rapaz relaxaram quando ele percebeu que era apenas uma águia — a sua águia — batendo as assas freneticamente enquanto bicava o vidro, tentando chamar a atenção do dono.

Ela tinha o mesmo tubo de alguns dias atrás amarrado a uma das pernas, e novamente, a ideia de ter seu animal de estimação sendo usado como pombo correio por Kaeya o fez revirar os olhos. Embora, é claro, ele não pudesse realmente duvidar da aparente habilidade da ave em encontrá-lo.

Cartas para Diluc - LucKaeWhere stories live. Discover now