Capítulo 14 - "Últimas horas antes do fim da linha"

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Chariot voltou para o salão algum tempo depois. Ela esboçava o semblante de alguém que tinha medo de Thomas, embora ele não tenha representado vontade de culpá-la por nada. A menina largou perto de seus pés um pedaço de papel que ela encontrou na mesa principal.

Assim que ergueu o rosto, Capucci soube do que se tratava. Havia se passado quatro horas desde o último bilhete, o que significava que já era tempo de o Anfitrião dizer alguma coisa outra vez.

Com os olhos cansados, o homem desenrolou o papel e leu com atenção o enunciado. Depois começou a gargalhar. Riu loucamente, como se tudo aquilo fosse uma grande piada, como se nada mais fizesse sentido e, ao mesmo tempo, como se tudo agora fizesse sentido.

A reação do homem fez com que Chariot Green se afastasse. Ela sentou-se do outro lado do corredor, com as costas também viradas para a parede, e os dois passaram a encarar o bilhete entre eles.

"O Anfitrião informa: a sua estadia está prestes a expirar. Todas as entradas e saídas serão seladas. Prepare-se para o desembarque."

— Eu ficaria feliz em oferecer a você uma dose dupla de suicídio. Estou falando sério. Não seria um problema se usássemos isso aqui — Thomas mostrou a arma à Chariot. — para finalizar as coisas de uma vez por todas. Há duas balas aqui dentro. No entanto, acredito que seria ainda mais patético se um de nós precisasse ver os miolos do outro caindo no chão, antes de efetuar o segundo disparo.

Chariot não entendeu boa parte do que aquele rapaz perturbado tinha acabado de dizer, mas foi o suficiente para que soubesse: ele estava completamente louco.

— Me desculpe. — continuou. — Veja, ao menos você pode aproveitar este tempo para me dizer que eu fui um péssimo policial no final das contas. Não consegui salvá-la quando você desapareceu naquela noite. Eu... eu não consegui salvar ninguém. De nada serviram todos os esforços que foram feitos... as tentativas para evitar esta tragédia... — Thomas tentou chorar. Nada saía. — Que mundo de merda.

Então o silêncio novamente. Thomas e Chariot encararam suas próprias roupas sujas com os resquícios do lugar imundo em que estiveram algumas horas atrás. Seus estômagos roncavam. Era frio, por mais que o sol fizesse uma mínima diferença.

Vinte minutos depois, a menina cansou-se de dividir o vagão com aquele passageiro esquisito e caminhou até a porta que os separava do vagão de dormitórios traseiro. Ao tentar girar a alavanca, porém, Chariot se deu conta de que a passagem estava emperrada.

Ela tentou por mais algum tempo, e então virou-se para Thomas. Parecendo interessado, o homem foi até lá e girou a alavanca. Nada aconteceu. A porta havia sido realmente trancada.

— Não... não, não. Bethany ainda está lá. — ele continuou a forçar a fechadura. — Deixamos Bethany do outro lado, no quiosque. Temos... temos que... merda! — Capucci desferiu um soco contra o pequeno vidro da porta.

Os dois permaneceram parados por mais um tempo. Encararam-se, em seguida, e depois caminharam até o vagão de dormitórios dianteiro. Thomas checou a própria cabine e as demais: estavam todas trancadas.

Ele correu de volta às janelas do salão de jantar — que aparentavam ser o único meio de escape, embora lhe parecesse idiota saltar de um trem em movimento.

Como era possível? Como alguém arquitetaria tão bem uma situação para que as vítimas nela inseridas só tivessem a própria morte como solução? Eu realmente gostaria de ter uma resposta agora, mas não tenho. Tudo o que você pode saber é que aquele foi o momento em que os últimos dois passageiros do trem se deram conta de que estavam presos em uma armadilha.

Trem para Barrymore [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now