Capítulo 3 - "Cartas ao limbo"

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24 de outubro

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24 de outubro. Manhã.

Thomas Capucci se sentou sobre a própria cama e apanhou uma caneta de tinta escura e um papel dobrado. Esteve encarando aqueles dois objetos desde a tarde passada, quando embarcou.

Não pensou que as palavras pudessem ser tão difíceis assim. Que estranho. Ele sempre foi bom com as palavras. Talvez agora isso se desse pelo fato de haver um corpo grudado à frente daquela locomotiva, ou porque os murmúrios nas cabines ao lado não o deixavam pensar.

Qualquer que fosse o motivo, ele sabia o que o estava incomodando: a incerteza. Thomas não gostava de incertezas. Ter uma resposta lógica e compreensível para cada mistério do universo o fazia se sentir confortável — embora isso não acontecesse quase nunca.

Ninguém sabia quando é que a ajuda chegaria. Não sabiam o porquê de alguém ter assassinado o maquinista — a hipótese que considerava um suicídio foi derrubada logo depois de ter sido sugerida, uma vez que era bastante improvável que a vítima tivesse pendurado o próprio corpo naquele farol — e um monte de outras perguntas sem resposta.

Um pouco mais cedo naquela manhã, depois de terem sido surpreendidos pela descoberta sobre o abismo, os passageiros voltaram para dentro visivelmente abalados. Capucci seguiu Bethany até o local em que ela havia encontrado o sangue, mas não percebeu nada além de um vazio incômodo do outro lado da porta, que dava para o vagão do quiosque — o que significava que não fazia sentido alguém ter sido arrastado naquela direção.

Isso o deixou estressado, porque Bethany começou a fazer perguntas e ele não podia respondê-las. Não tinha as respostas de que precisava. Não sabia como o sangue foi parar lá. Não sabia quem roubou a pulseira dela enquanto as luzes estavam apagadas. Não sabia quem era o responsável pelos dois bilhetes, nem o culpado pelo assassinato. Porcaria. Que rumo esquisito as coisas estavam tomando...

— Maldito barulho de vento. — Thomas caminhou até a janela minúscula e a selou com agressividade.

Quando retornou à cama, finalmente sentiu que suas mãos estavam menos frias e o coração batia de forma mais lenta. Ele agarrou o papel e a caneta e começou a escrever.

"Querida Nancy,

Senti a sua falta hoje de manhã. Entendo que estar longe talvez tenha dificultado a nossa relação, e que, além disso, eu deslizei em alguns aspectos. Porém, não minto quando digo que você parece estar presente. Posso sentir o seu coração bater e..."

Preparava-se para concluir a próxima frase quando uma batida na porta o interrompeu.

— Thomas, com licença. — era Claire. Ela deu uma rápida olhada pela cabine inteira enquanto esperava que ele a cumprimentasse.

— Olá. Como vão as coisas? — perguntou com um olhar pesado. O rapaz não havia se deitado por sequer um minuto desde o último acontecimento.

— Péssimas, eu diria. Todos os outros passageiros parecem estar com suas cabeças explodindo. — Claire fez uma pausa. — No entanto, Charles está ajudando o bilheteiro a retirar o cadáver da frente do trem. Disseram que as amarras eram muito pesadas, mas...

Trem para Barrymore [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now