Capítulo 11 - Espere com paciência, ataque com rapidez

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Yusuke estava em primeiro lugar. Daria um jeito nos próprios machucados depois; por enquanto, iria aliviar a dor como o de costume, já que problemas nos pés eram uma herança da infância. Arrancou as sandálias. A terra acariciou a sola, a grama fez cócegas entre os dedos. Bem melhor.

Olhou sorridente para o amigo encolhido no tronco, passando mal. Mostrou algumas folhas na mão aberta.

— Elas são mastigáveis, então tudo o que você precisa fazer é... mastigar. Logo, logo você vai ficar bem.

A expressão de Yusuke tornou-se enojada antes de ele abaixar a cabeça e pressionar a barriga.

— Vamos, Yuu, eu prometo que vai melhorar...

As folhas em sua mão foram arrancadas com brutalidade por Yusuke. Da mesma forma agressiva, colocou tudo na boca e fez a pior careta ao mastigar, ranzinza como um oni. Aos poucos, entretanto, as linhas feias se desfizeram. Teria se acostumado com o gosto, ou simplesmente refletiu a melhora rápida proporcionada pelas folhas? Tetsurō sabia se tratar da segunda opção.

O sorriso leve preencheu Seki Tetsurō, aliviado por finalmente ter sido escutado. Fitou os pés e o sorriso tremeu nos lábios — a queimadura estava pior, como se o tempo atingisse as feridas de forma diferente em Makai. Virou-se para onde havia arbustos, buscando as ervas certas para se tratar, mas o que encontrou foram plantas que nunca havia visto na vida! Várias delas! Como só reparou naquele momento? As portas de um mundo novo da botânica se abriram para ele; imaginou como seria o caule, a textura e o formato de cada uma das plantas e que propriedades curativas elas forneceriam. Ainda encantado, Tetsu não demorou a achar uma erva que tinha as características básicas do que serviria ao seu propósito.

Só precisava aguentar a dor, andando até lá...

Mas antes, Yusuke.

Agachado diante do samurai, Tetsurō voltou-se para ele e notou sua cabeça tombada, os olhos fechados e uma expressão... serena. Os lábios entreabertos inspiravam e soltavam profundamente. A exaustão havia somado à erva, dando-lhe um tempo de repouso. Uma brisa acariciou os cabelos negros presos num rabo-de-cavalo quase desfeito, afrouxando mais o aperto.

Dormindo, ele parecia outra pessoa.

— Você deve estar tão cansado... — Tetsu balbuciou e o vento respondeu com mais uma brisa quente. O laço que prendia o cabelo de Yusuke se desfez, mostrando o verdadeiro cumprimento dos fios. O curandeiro prensou os lábios e engoliu seco, erguendo uma mão.

Não ouse.

Hesitou, mas seu coração batia nostalgia e enviava coragem aos músculos. Colocou uma mecha atrás da orelha de Yusuke, tirando-a delicadamente da testa. Foi tão suave, tão afetuoso, mas tão melancólico. O toque sustentou todas as expectativas do que a relação deles poderia ter sido, se não tivesse dado ouvidos ao que os pais falavam sobre sua amizade.

Quando voltou à realidade, a mão automaticamente foi para trás esperando por um tabefe, mas não houve nada. É claro, Yuu estava desacordado...

— Você parece se preocupar muito com o seu amigo — a melodia do tom malicioso soou atrás de si — mas agora deveria cuidar desses pés.

A alma de Tetsurō saiu e voltou em um solavanco, o ar faltando em seus pulmões. Lembrou que não estavam sozinhos e o sangue se concentrou nas bochechas. Ele não costumava corar, mas sentia como se tivesse feito algo errado.

— Era essa que você queria?

Após um momento de confusão, olhou para lado e se deparou com uma flor entrelaçada entre as garras da mão que lhe era estendida. Era a mesma flor que encarava antes de se perder em um futuro preterido.

Pétalas de Akayama [BL]Where stories live. Discover now