One Day at A Time

982 131 10
                                    



Um dia de cada vez. É o que eu vivo repetindo, como um mantra para me manter forte. Um dia bom, um dia ruim, um dia em que eu preferia nunca ter experimentado nada que me fizesse sair da realidade. 

Lute até não poder mais. Nunca deixe ir. Nunca desista. Nunca corra. Nunca se renda. 

Segundo mês e eu estou parecendo um lixo, oh meu Deus! Tenho parecido com outra coisa nos últimos tempos? Acho que não. Tem um balde, do lado da minha cama, que é útil a cada cinco minutos, literalmente, cinco minutos. A cada vez que eu sinto a necessidade de liberar toda e qualquer substância tóxica que ainda reside no meu corpo. Poderia ser mais fácil, não poderia? Isso parece cruel. Parece cruel livrar-se de vícios. É como se o universo estivesse rindo, gargalhando bem na minha cara. 'Esse é o preço que se paga por ser uma burra.' Consigo ouvir a risada dele. 

Hoje tivemos uma sessão de cinema, um filme chato que me fez dormir por três horas e meia e sabe? foi a melhor coisa que me aconteceu nesses dois meses. Sonhei com você. Sonhei que você estava aqui, e ninguém estava vomitando até o estômago doer. Você sorria daquele jeito que sempre sorriu pra mim, sem mostrar os dentes, fingindo ser tímida. Tão linda, você sabe? Não importa onde você esteja agora, espero que tenha encontrado alguma paz. Sabe de outra coisa? Espero que não fique com ciúmes. A Dra. Queen, Thea, também apareceu nos meus sonhos. Talvez pela convivência, ela me visita toda semana. Aliás, ela me deu esse diário, e eu estou soando como uma adolescente agora, não estou? Eu não ligo. Ela e a Dra. Danvers disseram que é bom escrever meus sentimentos, mas só penso em escrever para você. Me sinto menos patética assim, por que sei que você está me ouvindo. E isso é bom, ajuda na angustia, ajuda a pensar em outra coisa além de beber, ou usar drogas. 

A aula de yoga é chata, eu sempre uso esses espaços para dormir, você deve pensar que eu não faço mais nada aqui, mas eu faço. Gosto de jogos. Futebol, principalmente. E na semana que vem, teremos boxe, estou animada. Canalizar a raiva em coisas produtivas, em coisas que não vão fazer meu corpo se revoltar contra mim, isso é bom. Será que agora vou aprender? Será que quando sair daqui minha vida ainda estará lá? Eu espero que sim, por que é isso que me mantém viva. A esperança. A esperança de ter uma vida melhor, uma vida que valha a pena, com coisas que valham a pena. 

– Oh meu Deus! Eu não consigo! Não consigo! Não aguento mais!- acordei no meio da noite, com meus cabelos grudando no rosto e minha roupa pingando. Poderia jurar que estava morrendo. A cama estava molhada, e por um segundo pensei que fosse meu próprio xixi, mas era suor. Estava inteira molhada de suor e nada fazia aquilo parar. Meu velho companheiro, sempre ao meu lado estava ali, recebendo tudo, como se eu tivesse muita coisa para colocar pra fora. 

– Dói. Dói tanto.- meu choro era tão alto, que senti pena de quem dormia no quarto ao lado. Dormi ou desmaiei, não sei bem, só sei que acordei me sentindo a pessoa mais suja do mundo. 

– O que você faz aqui? Não não! Não quero que me veja assim.- belo dia pra ela aparecer não é? Belo dia. Eu estava fedendo feito um porco, minha cama estava na mesma situação, e ela parada na minha frente linda e cheirosa. Ainda vou descobrir que perfume ela usa, escreve aí. 

– Hey, calma. Eu trouxe roupas limpas, da sua casa. Viu? Vai poder usar as suas. É melhor você ir para o banho agora, vou chamar alguém pra trocar a roupa de cama.- como alguém sorria daquela forma pela manhã? Não sei. Mas era ela. Então ela poderia sorrir o dia inteiro, é como o sol iluminando minha vida. Que ótimo, Maya. Drogada e apaixonada. 

O banho demorou horas, e meu corpo agradeceu por aquilo, me senti mais leve, como se eu pudesse correr uma maratona sem cansar. Oh, que dia bom! Um dia bom, depois de tantos ruins. Comecei a chorar um pouco quando percebi isso. 

Amor por Contrato - Hosie Onde as histórias ganham vida. Descobre agora