Capítulo 10

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Às vezes, voltar de uma missão era mais um lembrete do quanto a vida de um feiticeiro Jujutsu era perigosa, e o quanto a vida, no geral, era frágil. O ideal seria não se apegar a seus colegas, já que poderiam morrer a qualquer momento, mas para Miwa, isso era inevitável.

Ela sempre foi uma garota muito extrovertida e calorosa que conquistava todos ao seu redor, que adorava fazer amigos e fazia de tudo para estar com eles. Ao contrário de Mechamaru e Mai, Miwa havia escolhido aquela vida, e por mais que fosse uma vida difícil e arriscada, ela não se arrependia, colecionando memórias muito boas dos momentos que passava com eles.

Os estudantes de Jujutsu do segundo ano do colégio de Kyoto haviam terminado mais uma missão, onde derrotaram maldições perigosas, e nisso, estavam muito cansados, e para deixar a situação mais complicada, começou a chover, e nenhum dos três possuía um guarda-chuva.

— Vamos pra minha casa — disse Mai. — É mais perto, é melhor vocês ficarem lá até a chuva diminuir.

A chuva estava muito forte, por mais que Mechamaru, por ser uma marionete, não fosse ficar doente, ele não hesitou em acompanhá-las.

— Muito obrigada, Mai — disse Miwa, a casa da azulada ficava muito mais longe, e ela precisava urgentemente trocar as roupas molhadas e cobrir os machucados que adquiriu durante a luta contra as maldições.

Eles sabiam que Mai era de um família importante, com isso, já esperavam que tivesse uma casa grande, e mesmo assim foram surpreendidos. A mansão do clã Zenin havia superado qualquer expectativa que Miwa pudesse ter.

Eles entraram e tiraram os sapatos, por dentro, a mansão parecia ainda maior e muito chique. Apenas a sala já possuía quase o tamanho da casa inteira de Miwa. Chegava a ser assustador o contraste entre as realidades que as duas viviam.

Os dois apenas seguiam Mai, que subia as escadas a caminho do segundo andar, até chegar ao seu quarto. Ao lado dele, havia uma outra com uma placa escrito "Maki". Miwa tinha poucas informações sobre a irmã de sua amiga, mas sabia que a mesma já não morava mais ali. Provavelmente o quarto de Maki estava trancado e permaneceria assim por muito tempo.

O quarto de Mai, assim como tudo naquela casa, era grande e luxuoso. Tudo ali era muito organizado, haviam muitos livros e armas — que já não assustavam mais a azulada, pois aquelas armas já estavam, aos poucos, fazendo parte da nova realidade dela em relação a energia amaldiçoada.

Ainda dentro do quarto da Zenin, tinha uma outra porta que levava a um banheiro. Mai abriu seu guarda-roupa, tirando de lá duas toalhas e uma muda de roupas, e entregou uma toalha e as roupas à Miwa.

— Aqui, pode ir lá tomar banho, antes que pegue um resfriado.

Miwa obedeceu e entrou no banheiro, que apesar de ser pequeno, também era muito chique. Enquanto tirava as roupas, ela pôde ouvir a conversa entre Mai e Mechamaru.

— Aqui. Nessa forma você não fica doente, mas é melhor se secar pra não enferrujar.

— Obrigado, mas eu não corro risco de enferrujar.

— Tá, só se seca de qualquer jeito pra não pingar no meu quarto mais ainda. — Mai ria.

O jeito que Mai falava demonstrava que estava super a vontade com Mechamaru, o que deixou Miwa surpresa, afinal, eles mal se falavam — até onde Miwa sabia, claro.

Enquanto ligava o chuveiro, ela pôde continuar ouvindo a conversa dos dois.

— Não enferruja e não precisa se pilha, aí sim! Acho que tudo que faltava pra fechar com chave de ouro era ter uma forma mais humana.

— Olha — ele ria —, eu realmente queria, mas seria ainda mais difícil de fazer, algo digno de um artista.

— De qualquer jeito, fazer essa marionete deve ter dado um trabalho danado, ainda mais com uma mão só.

Aquilo realmente chocou Miwa. Ela sabia que Mai e os outros sabiam que Mechamaru era uma marionete e que o corpo verdadeiro do garoto não era aquele, mas achava que o conhecimento deles não passava disso, já que foi muito difícil para Kokichi conseguir falar a ela sobre a situação de seu corpo. Ela achava que era a única que sabia, visto que ele ficava muito nervoso quando contava pra ela, mas naquele momento, viu que estava errada.

Mai também sabia, e provavelmente também havia visto o corpo dele. Será que ela viu antes mesmo de Miwa? Perdida nesses pensamentos, Miwa se perguntou o porquê ela estava tão preocupada com aquilo, e qual seria o problema se Mai também tivesse visto.

De certa forma, a azulada se sentia especial, visto que achava que era a primeira pessoa que Kokichi confiou para mostrar seu lado mais frágil, mas naquele momento descobriu que não era a única e talvez não houvesse sido a primeira. Sentiu uma pontada no coração. Por que ela estava triste se aquilo era bom? Ela deveria estar feliz pelo amigo, já que ele, que era muito reservado, havia conseguido fazer mais amigos. Miwa se sentiu uma pessoa horrivel por ter sentido uma sensação ruim, mas não conseguia explicar o que significava.

A água ardia em sua pele, foi aí que lembrou que na missão daquele dia, havia levado alguns cortes no braço e outros ferimentos. Logo, ela terminou seu banho e foi se vestir. As roupas que Mai haviam dado a ela eram uma calça azul que ia até a canela e uma regata preta sem estampa nenhuma. Com tudo finalizado, ela abriu a porta e saiu do banheiro.

Não estava chateada com Mai e nem com Kokichi, apenas se sentia triste mas por ser uma tristeza sem explicação, não iria contar a eles, iria ignorar aquele sentimento ruim até que passasse.

— Mai, você tem algum curativo? Não quero deixar isso aqui aberto — disse Miwa, apontado para os cortes em seus ombros. A amiga logo ficou preocupada, e tirou de seu guarda roupa uma caixa que entregou a azulada.

Logo depois disso, Mai entrou no banheiro, ela também precisava tomar banho e trocar de roupa para não correr o risco de pegar um resfriado.

Mechamaru olhava para o braço de Miwa. Com o terno que ela usava, suas feridas haviam ficado escondidas até que ela trocasse de roupa. A garota colocou a caixa em cima da cama — onde ele estava sentado — e iria abri-la, mas o garoto a levou para seu lado e abriu primeiro.

— Deixa que eu cuido disso.

Miwa assentiu e sentou ao lado dele. Ele molhou um algodão com água oxigenada e foi esfregando delicadamente no braço dela, mas apesar do cuidado, ardia.

— Só cobre isso, eu já limpei.

— Eu sei, mas quero tomar todos os cuidados, preciso garantir que não vai ter erro.

A garota corou levemente, havia ficado sem jeito com o cuidado excessivo e a preocupação de Kokichi, por mais que ele sempre tivesse demonstrado se importar com ela. O garoto foi colocando os curativos com delicadeza e medo de machucá-la, e aquela situação a fez lembrar de quando reforçou as bandagens soltas do corpo de Kokichi, quando viu seu corpo pela primeira vez. Ela queria fazer o possível para cuidar dele, e naquele momento, ele estava cuidando dela, o que a fez refletir sobre o que a preocupação que eles tinham um pelo outro era mútua.



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