Capítulo 8

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Kokichi estava muito feliz por aquele dia, o dia que passou inteiro ao lado de Miwa. Se ele pudesse, faria com que todos os dias fossem daquele jeito. Ao contrário do que ele esperava, Miwa também demonstrou ter gostado. Se perdia nos próprios pensamentos, relembrando dos seus momentos com a garota, devido a isso, demorou para prestar atenção na realidade e perceber que Todou o chamava.

— MECHAMARU!!!!

Foi aí que ele lembrou o que deveria estar fazendo, disse que iria pegar uns papéis importantes para o Todou, mas no final acabou ficando parado ali perdido em suas boas lembranças. Logo saiu de lá, antes que Todou o atormentasse.

Os papéis estavam na secretaria, e Miwa estava lá, preenchendo outras coisas. Ela sorriu quando o viu entrar.

— Obrigada por ter me levado ontem, senão eu ia ter chegado ainda mais tarde.

Aquele comentário o fez lembrar de quando a deixou em casa, e dos comentários do irmão dela, que haviam o deixado tão tenso que ele quase não percebeu a pilha voando em sua direção, mas conseguiu pegá-la a tempo.

— Vê se não passa mal de novo! — Kokichi havia dado corda para as piadas envolvendo pilha, e agora teria que aguentar Miwa citando isso novamente. Mas preferia isso do que dizer a ela o verdadeiro motivo de ter engasgado.

— Então não vai adiantar falar que não sou assim. — Ele tentou fazer uma piada, que não teve sucesso, já que Miwa voltou ao que estava fazendo. Mechamaru pegou os papéis que precisava e logo foi a caminho de entregar a Todou.

No caminho, esbarrou com Mai e Momo, que o olharam e riram levemente.

— Então eu não era brincadeira com a Miwa quando disse que você usava pilhas? — perguntou Momo, rindo.

Mechamaru não queria mexer muito nesse assunto, mas ignorar só deixaria tudo pior.

— Resolvi entrar na brincadeira — ele disse.

Antes que ele continuasse andando, Mai segurou no ombro dele, virando-o para a direção dela.

— Você não costumava ser assim, Mechamaru — ela disse, com um sorriso travesso. — Pelo menos, não com a gente. Ou será que...

Talvez aquilo tenha piorado a situação, mas ele se soltou e a interrompeu.

— Preciso levar isso — e apontou para os papéis — pro Todou.

Mai continuava o observando, mesmo depois dele ir. Ela já desconfiava que havia acontecido algo desde o dia em que ele largou o treinamento para ver Miwa na enfermaria, e não queria que a garota ligasse os pontos.

Se Mai descobrisse dos sentimentos dele e contasse a Miwa, tudo ia desabar para ele. Com certeza Miwa não iria corresponder seus sentimentos — o que Kokichi jamais iria culpá-la, já que ele sabia que a garota merecia algo muito melhor —, e aquilo poderia fazer ela se afastar dele e perder sua confiança. Precisava falar com Mai depois, implorando para que ela não falasse nada, já que era um segredo que o garoto pretendia levar para o túmulo.

Kokichi estava ciente de sua realidade, ciente que que Miwa nunca iria se apaixonar por ele, por isso, tudo que ele queria era estar ao lado dela, protegendo-a e vendo ela ser feliz. Aquilo estava dando certo, visto que havia conquistado a amizade da garota, e isso era algo que ele jamais iria deixar ser perdido.

Mais tarde, depois de resolver coisas pendentes, o garoto estava determinado a falar com Mai. Era algo que ele queria resolver naquele mesmo dia, antes que houvesse a possibilidade de estragar tudo. Ele a encontrou no corredor quando ela estava pronta para sair. Os outros não estavam por perto, o que favoreceu a situação, já que mais uma pessoa sabendo disso pioraria tudo.

— Mai, aquela hora... sobre a pilha, o que você ia dizer?

Ela sorriu, como se já entendesse tudo, confirmando as suspeitas dele. Parecia que não era de hoje que Mai desconfiava, o que restava era torcer para que ela não tenha falado a ninguém.

— Você mudou, Mechamaru. Tenho percebido isso desde aquele dia que você largou o treinamento. Aliás, essa pilha... não é a mesma que ela quase te deu aquele dia?

Mai era ainda mais observadora do que ele pensava, aquilo até chegava a ser assustador.

— Só... só não comenta isso com ninguém, por favor.

— Fica tranquilo. — Ela segurou no ombro dele novamente, tentando passar confiança. — Eu só queria confirmar as minhas suspeitas, até porque eu sei que você mesmo também não vai falar pra ninguém, muito menos pra Miwa.

— Então você já esperava por isso?

— Sim. Desculpa ser grossa assim, mas você não faz o tipo da Miwa. Ela curte caras engraçados, então nesse caso não falar pra ela é a melhor escolha.

Por incrível que pareça, aquilo não o magoou, já que ele já sabia que não teria chance com Miwa. O que talvez tenha o atingido era saber que estava longe de ser o tipo da garota, não só por não ser bonito, como também por não ser engraçado.

— Mas apesar disso já te aviso: se você magoar ela, vai ter que se ver comigo.

— A última coisa que eu quero é magoar ela.

Mai sorriu, como se estivesse se divertindo com toda aquela situação. Kokichi estava, apesar disso, aliviado, que para Mai aquilo não passava de preocupação com a amiga e entretenimento com a situação dele, e que não se interessava a espalhar para ninguém, até porque a mesma tinha coisas mais importantes para se preocupar.

Ele já estava saindo, mas parecia que Mai tinha mais coisas a dizer.

— Vocês tem se visto mais, né? Se quiser, pode conversar comigo sobre isso, já que eu sou a única que sabe dos seus sentimentos. Posso até te dar uns conselhos se precisar. Por mais que minha prioridade seja sempre o Jujutsu, tenho algumas experiências amorosas.

Kokichi realmente não esperava por aquilo. Há pouco tempo, temia ver Mai como um possível obstáculo, e agora, ela estava lá como uma amiga. Ele queria muito ter feito mais amigos, mas era um sonho que possuía junto com o de curar seu corpo, já que acabava ficando afastado de todos. Assim como ele, Mai passava por muitos problemas — principalmente relacionados a Jujutsu —, o que também fazia com que ela quisesse buscar outros assuntos para tentar esquecer dos mais sérios, então aquilo poderia ser, para os dois, uma forma de escapar de tudo isso.

— Obrigado. — Ele queria ter algo a mais para dizer, mas sempre foi ruim com palavras, e pior ainda para demonstrar seus sentimentos, o que ficava pior ainda com sua única forma de interagir com os outros ser uma marionete assustadora e sem expressões. Se naquele momento pudesse estar com seu corpo, com certeza estaria sorrindo.

Os dois saíram pouco depois, era o momento de voltarem para suas vidas. De Mai voltar para os problemas e a pressão que seu clã trazia, e de Kokichi sair de Mechamaru e voltar para o seu corpo naquele quarto solitário, onde ter inúmeras limitações fazia parte de sua realidade enquanto não conseguia sair daquela banheira onde a água já estava misturada com o próprio sangue.

Visita - MechaMiwaOnde histórias criam vida. Descubra agora