Capítulo 4

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Kokichi odiava aquela imagem e tentava evitá-la, mas mesmo não possuindo espelhos, não conseguia fugir de seu reflexo que aparecia na água da banheira.

Era o momento de trocar suas bandagens, e o feiticeiro odiava lembrar que, sem elas, seu rosto era pior ainda. As vezes, se perguntava se ele seria bonito se não tivesse todas aquelas cicatrizes, mas sabia que seria impossível curá-las.

Enquanto colocava as novas bandagens com o auxílio da marionete Mechamaru, ficou tenso ao lembrar que Miwa realmente havia visto sua verdadeira aparência. Ela não demonstrou se assustar e isso era reconfortante, mas uma parte dele se arrependia de ter mostrado a ela, pois odiava demais sua aparência, e tinha certeza que ela nunca o acharia atraente, e jamais poderia culpá-la por isso.

Tentando desviar dos pensamentos sobre sua face, temeu o momento que fosse encontrar novamente seus colegas de Kyoto. Depois da situação daquele último dia, em que saiu correndo quando soube que Miwa estava na enfermaria, sabia que os outros iriam enchê-lo de perguntas, perguntas que poderiam até constranger Miwa, e ele não queria que ela passasse por isso.

Kokichi se arrependeu por um momento de não ter pensado antes de agir, mas era difícil quando se travava de Miwa. Ele sempre queria vê-la bem e protegê-la, sendo assim, não iria conseguir ficar parado ao vê-la doente.

Suas bochechas queimaram ao lembrar do momento que tiveram juntos na enfermaria. Ainda não acreditava que realmente teve coragem de tocar a bochecha dela. Claro, com a marionete era muito mais fácil, visto que a mesma não tremia, demonstrava nervosismo e não iria sentir arrepios. Seu medo era Miwa ter odiado aquele contato, mas aquela possibilidade foi descartada quando a mesma fez questão de segurar a mão dele e mantê-lo ali por um tempo.

Ainda com a marionete, Kokichi precisou ir, naquele dia iria encontrar suas companheiras para uma missão, a missão envolvia exorcizar um espírito amaldiçoado que perturbava uma rua. Por sorte — ou não —, Miwa e Mai não falaram nada, apenas se esforçavam para concluir seu objetivo.

As habilidades de Miwa haviam melhorado bastante, o treino que ela havia feito teve resultado, apesar de ter a deixado com febre por se esforçar demais. Ela tinha muito potencial, e era muito bom ver que estava sendo aproveitado.

A missão foi demorada, o céu já estava escuro quando concluíram, mas obteram sucesso. Mechamaru iria quebrar aquele silêncio, mas Mai foi mais rápida e acabou dizendo o que ele iria dizer.

— Você melhorou muito, Miwa!

Miwa sorriu, deu para ver a satisfação que ela sentia ao ver que havia tido reconhecimento com algo que tanto almejava.

— Ainda tenho muito a melhorar, quero deixar de ser inútil.

Mechamaru respondeu aquilo logo, pois odiava quando ela dizia aquilo sobre si mesma. Ele percebia o quanto a garota se subestimava e não reconhecia o próprio talento.

— Você nunca vai ser inútil, Miwa.

Ela sorriu e logo mudou de direção, pois iria pegar o metrô para voltar para casa. Ele queria muito perguntar se podia acompanhá-la, mas pegar um metrô era algo que Mechamaru não podia fazer, visto que sua marionete seria estranhada por todos, causando medo e uma atenção desnecessária.

Continuou andando junto com Mai, enquanto seus caminhos ainda se cruzavam. Ele sabia que ela iria quebrar o silêncio, e foi exatamente o que ela fez.

— O que foi aquilo? Aquele dia que você saiu do treino?

Mechamaru sabia onde Mai queria chegar com aquela conversa.

— Eu queria ver como a Miwa estava.

— Poderia ter perguntado pra Momo. Ela tinha acabado de sair de lá. Você sequer escutou a história inteira, só foi correndo.

Enquanto Mai falava, Kokichi já pensava no que iria responder, pois aquilo realmente o travou. Parecia que Mai já sabia que ele gostava de Miwa e só esperava a confirmação. Essa confirmação ele nunca iria lhe dar, porque não sabia o que iria acontecer se Mai falasse a Miwa. Era um segredo que ele iria esconder para sempre, já que sabia que Miwa merecia alguém melhor.

— Ela é uma companheira de jujutsu, e nós  somos uma equipe. Eu não iria conseguir focar no treinamento sem me certificar de que estava tudo certo com ela.

— Então se fosse eu ou até o Todou no lugar dela, você iria reagir do mesmo jeito? — Mai sorria enquanto perguntava, tentando procurar uma maneira de fazê-lo admitir.

Não. Se fosse Mai ou Todou, Kokichi nunca teria feito isso. Teria perguntado sobre e se preocupado, mas isso não teria impedido seu treino e o levado ao desespero. Mas Mai jamais iria ouvir isso.

— Vai me dizer que você não iria?

Mai sorriu novamente, como se não fosse admitir a derrota. Tudo que Kokichi queria naquele momento era que o caminho dos dois seguissem direções diferentes.

— Quem sabe. Nunca imaginei que você pudesse ser sentimental.

De certa forma, aquilo o atingiu. Kokichi sonhava com o dia que poderia se juntar a todos com a seu verdadeiro corpo, mas na forma de Mechamaru, ele se sentia muito distante, já que sabia que esse sonho provavelmente nunca iria se realizar.

O que Kokichi não esperava era que um dia teria coragem de mostrar seu corpo para alguém. Não imaginava que Miwa iria tanto querer vê-lo, e muito menos reagir como ela reagiu. Várias vezes havia imaginado como seria se Miwa o encontrasse, e em todas as vezes, esses pensamentos terminavam com ela querendo ir embora logo querendo se afastar dele ou o olhando com nojo. A reação de carinho que Miwa teve só fazia ele se apaixonar ainda mais por ela.

Seu caminho e do de Mai iriam para direções diferentes logo, e ele aproveitou aquilo para encerrar aquela conversa.

— Há muitas coisas que você jamais imaginaria.

Depois daquilo, eles se afastaram, e Kokichi torcia para ela não tentar continuar essa conversa em algum outro momento. Temia também para que Mai conversasse sobre isso com Miwa, mas jamais iria culpar a azulada se ela quisesse se afastar, inclusive, ficava surpreso dela ainda não ter feito isso, afinal ele sabia de sua realidade.















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