Capítulo 5

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Miwa se esforçava muito para conseguir avançar com seu treinamento, as vezes ficava mal, se machucava, mas estava determinada a não desistir até tornar uma grande feiticeira.

O que ela não esperava seria acabar ficando doente com o treinamento. E o que esperava menos ainda seria a visita de Mechamaru e o desespero que ele emanava.

Aquela foi a primeira vez que eles haviam se visto desde que ela o viu pessoalmente. Mesmo com a Marionete Mechamaru, Miwa lembrava do rosto de Kokichi ao observá-lo. Ela havia sido a primeira pessoa que ele confiou para vê-lo, por isso estava com medo dele querer afastá-la, já que Miwa viu o lado que ele não queria que ninguém visse.

Mas aquilo aparentemente acabou aproximando mais os dois. Ela se sentia segura perto dele, e confiava nele assim como ele confiava nele. Isso não era muito bom para feiticeiros jujutsu, pois seria pior quando um dos dois se forem, o que só a motivava a ficar ainda mais forte.

Miwa estava com um tempo livre, e depois de tanto treinamento pesado ela queria usar esse tempo para relaxar, e convidou Mai para sair com ela no centro da cidade. As duas eram muito próximas apesar de serem muito diferentes. Mai era uma inspiração para Miwa, e seu objetivo era se tornar tão forte quando ela — ou quem sabe, sua irmã, Maki.

Elas caminhavam enquanto conversavam sobre várias coisas. Falaram sobre seus treinos, sobre o jogo de baseball do intercâmbio, sobre as lojas em que passavam — por mais que Miwa só pudesse olhar —,  sobre a situação de suas famílias, até que o assunto acabou chegando ao dia que Miwa ficou doente.

— Você tá melhor agora, né? Tem certeza?

— Claro que sim. Eu até consegui participar da missão alguns dias depois. Eu tô bem.

— Aquele dia você também falou que tava bem! Se fizer isso de novo, eu vou te dar o próximo motivo para ir parar no hospital!

As duas riram — Miwa talvez por nervosismo — enquanto Mai, apesar de lhe dar sermões, elogiava o resultado do treinamento dela.

— Aliás, aquele dia, alguém veio ver você depois da Momo?

Miwa viu que Mai já parecia saber que alguém esteve ali, e agia como se quisesse confirmar suspeitas.

— O Mechamaru foi até lá, queria saber como eu tava. Por que ele veio se a Momo já havia checado isso?

— Ah, ele chegou um pouco atrasado naquele dia, né, e apesar de eu ter contato pra ele a situação, ele quis ver como você tava. Ele saiu correndo quando eu tava na metade, não quis nem terminar de ouvir a situação, inclusive ele não voltou pro treino naquele dia.

Aquilo preocupou Miwa. Ela já tinha vergonha de pedir para ele ajudá-la nos treinamentos com medo de atrasá-lo, e saber que ele perdeu um treino inteiro por causa dela a fez se sentir culpada.

— Se ele se prejudicar por minha causa, vou precisar da ajuda do Panda, pra quebrar o Mechamaru de novo!

A azulada ria enquanto falava aquilo, em um tom de brincadeira, mas ela realmente tinha medo de ser um fardo para as pessoas ao seu redor. Ela já se sentia assim em casa, e foi isso que a determinou em se tornar uma feiticeira — ela não queria ser inútil, e iria provar isso mudando toda a condição em que viviam.

— Será que ele tem um estoque de marionetes pra quando a que ele usa quebra? — perguntou Mai. A única coisa que Mai e os outros colegas de jujutsu — com excessão de Miwa — sabiam sobre a situação de Mechamaru era que aquele não era seu corpo verdadeiro, e sim uma marionete que ele poderia manipular, mas não sabiam o motivo pelo qual ele fazia isso e nunca seu verdadeiro corpo.

— Talvez. Vou ter que perguntar pra ele depois — Miwa brincou.

Mai começou a rir, logo se lembrando de uma situação engraçada.

— Você foi a última a descobrir que ele não era um robô de verdade, lembra quando você tentou dar pilha pra ele no lugar do chocolate?

A esverdeada correu, rindo, enquanto a outra corria atrás dela, se segurando para não rir também e logo a alcançou, dando leves socos em sua testa, enquanto a amiga não parava de rir.

— Foi você quem me falou que ele gostava daquela pilha, palhaça!

— E não me arrependo de nada, a sua reação está guardada na minha memória como meu tesouro precioso.

Elas continuaram rindo e conversando, apesar de Miwa ter se sentido desconfortável porque pareceu que Mai poderia ter falado sobre o corpo de Kokichi no meio da conversa engraçada, e ela não iria suportar uma conversa desse tipo sobre um assunto tão delicado, mas não culparia Mai, já que a mesma não sabia. Aquele era um segredo que apenas a azulada carregava consigo, e iria manter somente ali para nunca quebrar a confiança que foi lhe dada. Por mais que confiassem em Mai, não possuía o direito de compartilhar isso.

Em meio a esses pensamentos, pensou em Kokichi, e o que ele estaria fazendo naquele momento. Queria poder chamá-lo para passear com ela, por mais que ele só pudesse ir na forma de marionete, o garoto merecia ter momentos descontraídos para tentar esquecer por algumas horas de todo o caos que ocorria em sua vida.

* * *

Não havia nada de importante para Kokichi fazer naquele dia. Ele trocava a água de sua banheira usando a força de sua marionete, era agonizante ver que aquela água sempre acabava misturada com seu próprio sangue, por mais que ele estivesse acostumado àquilo.

Alguns fios as vezes caiam de seus braços sem querer, e aquilo o irritava muito, pois precisaria se espetar novamente para encaixar aquilo. Depois de terminar, foi olhar seu celular. Geralmente, não conversava com muita gente, apesar de ter o contato de seus colegas, as únicas mensagens que trocavam eram as do grupo da escola de Kyoto para marcar alguma coisa, mas naquele dia, havia uma nova mensagem, da pessoa que ele mais ficava feliz em ter recebido.

Miwa: Heyyyyy!! 😅

A animação de Miwa era contagiante. Era muito raro alguém o chamar, e ele tinha muita dificuldade em puxar assunto, o que fazia com que também não chamasse ninguém. Panda havia pedido o seu número após derrotá-lo no intercâmbio e eles até haviam conversado um pouco na época, mas ainda assim Kokichi guardava raiva dele, ao ver um corpo amaldiçoado vivendo tranquilo na luz do sol, por mais que não fosse culpa dele, não era algo que Kokichi conseguia ignorar.

Você: E aí!



Aquilo já o deixou nervoso, com medo de não conseguir manter conversa com Miwa e se tornar entediante para ela — talvez ainda mais do que ele já fosse —, mas o entusiasmo da garota não permitiu isso.

Miwa: Eu tava pensando

Miwa: Quando o mechamaru quebrou vc tinha outros de reserva pra usar depois?

Miwa: Ou precisou fazer outro do zero?

Ele riu. Não foi uma gargalhada, sequer passou de um riso nasal, mas aquilo havia trazido a ele um sorriso, não só pela mensagem ser engraçada, mas de alegria, porque Miwa havia pensado nele.

Você: Tenho outros, mas no intercâmbio não deu pra trocar

Você: Mas tenho outro modelo que pretendo usar só pra uma situação de muita emergência

Você: É um pouco diferente dos outros, pq é um robô gigante

Miwa: Meu deuss, deve ter muito incrível

Miwa: Me mostra um dia por favorr

Você: um dia eu te mostro sim

Miwa: aaaaaaahh obriigada ❤️

Estar apaixonado era algo muito idiota, pois até um simples emoji fazia-o sorrir levemente. Claro, Kokichi sabia que aquilo não significava nada, mas ainda assim era bom, afinal, ele estava trocando mensagens com Miwa pela primeira vez.

Miwa: boa noitee 🔋

Você: já disse que não sou assim

Apesar de parecer irritado por mensagem, ele não podia negar que riu. Ela havia ficado nervosa naquele dia, quando percebeu que ele não gostava daquelas pilhas, mas agora, estava usando isso para provocá-lo.

Visita - MechaMiwaOù les histoires vivent. Découvrez maintenant