Capítulo 8 - "Nunca subestime a tempestade"

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— É. Um imprevisto... — Claire murmurou.

ATUALMENTE

O corpo de Olivia Armstrong ainda estava na saleta estreita do corredor — ninguém a tocou, ninguém havia tirado-a de lá. Seus olhos petrificados em um poço de desesperança continuavam apreciando o teto escuro daquele cômodo.

No salão de jantar, que era cercado pelas enormes janelas com vista para a tempestade violenta do lado de fora, encaravam-se os nove viajantes que sobraram, incluindo o bilheteiro. Nove — dos quinze que haviam embarcado no primeiro dia.

Claire Brassard, com uma vermelhidão incomum em seu rosto e a água da chuva ainda presa aos cabelos, encarava o ex-policial sem dizer uma palavra. Na frente dela, Dominic e Austin faziam o mesmo. Bethany, roendo as unhas em nervosismo, não teve tempo de sair daquele vagão antes que o homem chegasse com aquela notícia intimidadora, mas ela queria ter feito isso. Depois dela, Sophie Stewart e os dois saqueadores, escorados à janela. O último era o bilheteiro, que mantinha o mesmo semblante desde que adentrou o salão.

— Algum de vocês pretende dizer alguma coisa? Porque seria melhor se começássemos a falar. — Capucci jogou no chão o próprio chapéu e caminhou até o centro do vagão.

— Ora, ora. Meus parabéns, Sherlock! Encontrou o pote de ouro no fim do arco-íris. — satirizou Charles, com as mãos sobre o ferimento no abdômen, que vez ou outra ainda ardia feito veneno. — Só não se esqueça que, se isso é uma revelação dos culpados, você também está entre eles.

— Como... como é possível? — Austin arriscou, com certa sensibilidade.

— Charles está certo: eu estava naquele trem também. — explicou Thomas, encarando-os. — Todos nós, afinal. Me dei conta disso quando Claire tocou o meu ombro, mais cedo, e a ação me pareceu exatamente idêntica a algo que já havia ocorrido. Foi nesse momento que percebi: conhecia todos vocês de algum lugar. É claro! Estávamos lá. Todos nós. Absolutamente todos nós!

— E agora estamos todos aqui... — murmurou Bethany.

— Exato. E não soa irônico, srta. Hayes? Que tenhamos realmente pensado, digo, cada um de nós, que subiríamos neste mesmo trem e ninguém nos reconheceria? — Thomas expulsou da garganta um riso descontrolado. — Bem, não me parece tão utópico assim. Afinal, cada um de nós teve a mesma ideia.

— Não me lembro do rosto de vocês. É claro. Então... pensei que ninguém saberia. — acrescentou Dominic. — Mas agora eu entendo. É por isso que ninguém disse nada quando descobri sobre as passagens datadas em quatro anos atrás. Porque todos vocês também sabiam do que se tratava.

— Bem, se esse for o veredito, não é justo que culpemos ninguém. Não ainda. Porque no momento em que admitimos que estávamos juntos naquele cenário, voltamos à estaca zero: ninguém é mais ou menos suspeito aqui. — disse Claire, decididamente. — Sendo assim, deveríamos focar no que temos em mãos. Estivemos fingindo não saber do que se tratava cada uma daquelas cartas, fotografias e ameaças. Mas sabíamos desde o início que alguém estava nos perseguindo pelo que fizemos!

— E isso me faz pensar em uma coisa... — Thomas voltou a falar. — Seria muita coincidência, até demais, que treze passageiros tenham embarcado no mesmo trem exatamente quatro anos depois de uma tragédia. E pasmem: com o mesmo destino! — ele gargalhou. — Então, eu pergunto: o que é que vocês pretendiam fazer em Barrymore? Quem... quem são vocês? Precisamos ter a certeza. Chega de mentiras! Devemos checar os passaportes de cada passageiro deste trem. Os documentos, comprovações, álibis...

Trem para Barrymore [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now