Capítulo 2 - "Do outro lado, o que há?" • Parte 2

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— Não deveria ir até lá. Aquilo se tornou uma histeria. — uma voz masculina surgiu por trás de suas costas.

Quando se virou, Sophie Stewart identificou um garoto escorado à parede ao lado de seu dormitório. A sua primeira reação foi de total estranheza, primeiro porque não o havia visto quando passou pela porta, e depois porque ele deveria estar parado exatamente em frente à sua cabine.

— Desculpe. Falou comigo? — a garota ainda se sentia um pouco tonta.

— Sou Collin Hataway. Não se preocupe, não sou um estranho. — ele abriu seus lábios em um sorriso amigável. — Eu disse que as pessoas no vagão principal estão todas histéricas. Acho que estão preocupadas com alguma coisa...

— Você sabe o que aconteceu? — perguntou Sophie.

— Não. Não pretendo ir até lá. — Collin deu de ombros. — Mas se for curiosa o bastante para isso, tome cuidado com aquelas pessoas. São duas e meia da madrugada e, caso não tenha percebido, estamos parados no meio dos trilhos. Deveria permanecer na sua cabine, Sophie.

A silhueta do garoto desapareceu no corredor alguns segundos depois de ele sair andando. Confusa, a menina arqueou as sobrancelhas enquanto continuava encarando a mesma direção do corredor. Algo naquele sujeito havia chamado a sua atenção. Mesmo assim, ela insistiu em seguir andando até o salão principal para descobrir o que estava acontecendo.

A sua cabeça ainda doía por conta do que havia acontecido no início da noite passada, quando se deparou com um fantasma no espelho daquele banheiro minúsculo. E agora havia tido outro pesadelo com a mesma figura.

Fantasma. Fantasma! Que palavra esquisita. Permaneceu no vocabulário de Sophie desde que ela era uma criança. Sempre teve problemas com assombrações e memórias que se desencadeiam na hora errada. Felizmente, nesta viagem, a menina tinha prometido a si mesma que não falaria sobre ele — o fantasma que a seguiu. Além do mais, existiam problemas muito maiores que precisavam de atenção agora.

— Não entendo. Isso tudo me parece um absurdo! — aquela era a voz de Judith Petit, a mulher de cabelos vermelhos. — O trem não pode ter parado por motivo nenhum. Além disso, onde estão o maquinista e aquele bilheteiro antipático? Precisamos de alguma informação! Oh mon Dieu!

Sophie adentrou o vagão e se deparou com outras pessoas: Charles, Margaret e Thomas Capucci. E ao lado de Judith estava uma garota que aparentava ter a mesma idade de Sophie, com um cabelo escuro e uma franja sobre a testa. Ninguém a tinha visto antes, então é provável que estivesse em sua cabine na tarde passada.

— Onde estão os outros passageiros? E... que melodia é essa? — exclamou Sophie, sem muito alarde.

— Dormindo, eu suponho. São duas e meia da madrugada. — Capucci a respondeu com um carisma exótico. O homem levou as duas mãos até os ouvidos em seguida, protegendo-os da canção incessante. — Está tocando desde que anoiteceu. Vai parar repentinamente daqui a pouco. E então... começar de novo. — ele revirou os olhos.

O som melódico era uma versão da famosa "Eleanor Rigby", dos Beatles, popularizada na metade dos anos sessenta. Embora fosse um sucesso, não havia motivo para que estivesse acompanhando um salão de jantar vazio às duas da madrugada.

— E... parou. — Thomas expôs um sorriso de alívio quando a música sumiu de repente. — A propósito, algum de vocês compareceu ao jantar, mais cedo? Não me lembro de ter sido avisado sobre nada enquanto estava na cabine. — ele olhou em volta. As mesas estavam todas detalhadamente decoradas para o início das refeições. — Mas parece que alguém se preocupou em organizar o lugar...

Trem para Barrymore [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now