𝐂𝐚𝐩í𝐭𝐮𝐥𝐨 𝟔: 𝐔𝐦 𝐄𝐥𝐨 𝐞𝐧𝐭𝐫𝐞 𝐌𝐮𝐧𝐝𝐨𝐬

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Quando a garota sumira em direção do grande palácio, suspirei profundamente novamente direcionando meu olhar de soslaio para a flor misteriosa.

Seus raios de estrelas e crepúsculo ainda ardiam mesmo diante do suave fim de tarde da Corte Unseelie, quase como se ali, na terra, ela brilhasse mais que o sol.

Observei mais uma vez, dessa vez com mais atenção e menos fascínio, o rodopiar esquisito que o glamour fazia em torno da mesma, quase como se a planta lhe fosse, de alguma forma, tóxica. Ele se comportava dessa maneira apenas em torno daquela espécie específica.

Preferindo confiar no conselho de minha mais recente conhecida, tentei chafurdar dentro de mim aquele sentimento inquietante de reconhecimento que ela tão despudoradamente me causara, seguindo meu caminho adiante da trilha de terra batida onde eu havia me enfiado.

O clima começava pouco a pouco à esfriar, visto o declínio que o sol fazia agora no horizonte, finalmente tomando a verdadeira face de um entardecer como eu presumidamente imaginava que seria, as brisas geladas fazendo o glamour girar pelo extenso jardim em redemoinhos azulados cintilantes.

Cruzei os braços em um abraço trêmulo. O clima frio e soturno da corte não era nem um pouco o que faes seelie estavam acostumados à lidar.

Enquanto caminhava meio desnorteada pelas incontáveis encruzilhadas e intersecções daquele labirinto de flores e plantas, pude ver duas mulheres de pele azulada translúcida e traços cor de anil nos olhos virem próximo à minha direção.

Elas não pareceram me notar à princípio, mas graças ao clima mais gélido do ambiente, um espirro barulhento me escapara, denunciando minha presença e fazendo ambas as faes apressadamente unirem-se mais próximas, quase como se estivessem tentando se fundir.

Observei pelo canto dos olhos as mesmas conforme eu me aproximava de cruzar seus caminhos, uma das garotas esticando o pescoço em direção à outra e dizendo num sussurro indignado – que eu percebera, foi propositalmente alto o suficiente para garantir que eu iria ouvir — Estão deixando ela andar solta pelo palácio, como se fosse uma de nós.

Franzi o cenho, meio desorientada com o que eu acabara de ouvir, vendo os olhares velados de ódio e preconceito que ardiam em suas orbes nervosas tomarem a minha direção sem nenhuma reserva, quase como se eu não estivesse ali. Quase como se eu não devesse estar ali.

— Uma seelie no palácio! Uma adoradora dos vizinhos! Só pode ser uma piada de mal gosto! — a outra respondera, atravessando junto da amiga ao meu lado, me fuzilando com o olhar mais mortal que eu jurara ter visto.

Adoradora dos vizinhos. Os seelie haviam tomado o lado dos humanos, quando Elphame fora criada.

Os membros do clã reluzente acreditavam que os humanos poderiam ser bons outra vez, tinham esperanças que, algum dia, de alguma forma, nós poderíamos voltar à conviver em harmonia como um dia vivemos.

Deliberadamente mantinham um contato amigável com as pessoas além do véu e até mesmo adotavam alguns de seus costumes – seja em vestes, tradições, artes ou dança.

Porém o lado obscuro ainda sentia-se ressentido de toda dor que aquela longa guerra e aqueles anos de escravidão causaram em nosso povo. As vidas preciosas de nossa espécie que foram ceifadas sem piedade naquele banho de sangue há longos séculos atrás.

Eles não estavam prontos para perdoar a humanidade por sua crueldade com seu povo. A lembrança de suas perdas ainda eram bastante vivas em suas memórias.

E assim, Elphame rompera, dividindo-se em ambas as cortes soberanas que existiam agora em seu território. E cujo os desentendimentos fizeram crescer um sentimento de rivalidade, ódio e preconceito entre seus povos, que se estendera por gerações.

𝐀 𝐒𝐨𝐦𝐛𝐫𝐚 𝐀𝐥é𝐦 𝐝𝐨 𝐕é𝐮Onde as histórias ganham vida. Descobre agora