17 - Orquídeas e todas as estrelas do mundo

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— Mas é um princeso reclamão mesmo — Taehyung riu, apertando mais cola quente para fora da pistola. — Deixa só eu terminar essas garras e essas dobrinhas... — Começou a murmurar alguns detalhes que faltavam, concentrado. — Que faço mais café para você, pode ser?

— Não precisa, eu tenho que sair correndo em poucos minutos — Jeongguk bocejou, sentou-se no balcão e pôs os pés na banqueta, o que atraiu um olhar reprovador de Taehyung, que não disse nada. — Reclamão é você, se toca!

— Prometo que hoje eu cuido do almoço, então — Disse quando olhou da escultura para Jeongguk, desenrolando a má postura. — Que cara é essa?

Taehyung largou a pistola de cola quente sobre o balcão e limpou as mãos na camisa do pijama, indiferente ao fato de que estava sujando-se mais que o contrário. Seus braços envolveram a cintura de Jeongguk, sem se importar em ser atingido pela chuva de migalhas das torradinhas industrializadas que ele pegou para comer.

— Cara de quem está em semana de provas e quer morrer — Jeongguk resmungou, mas era muito difícil levá-lo a sério com as bochechas estufadas de comida. — E o mestre Kang acha que eu sou babá de novato. Porra, hoje eu sou capaz de quebrar a cara do primeiro que me perguntar o que são khao.

— O que são khao? — Taehyung perguntou, imaginando que fosse algo relacionado ao Muay Thai.

— São as joelhadas — Jeongguk respondeu sem perceber, só o sorriso convencido de Taehyung o fez notar que havia respondido. — Ótimo, agora vou ter que quebrar a cara do segundo que me perguntar, então.

— Quando você vai ficar imune aos encantos do hyung? — Taehyung roubou a torrada das mãos dele antes que pudesse reagir, e se afastou, tomando seu próprio tempo para mastigar com um sorrisinho presunçoso no rosto.

Era flerte de brincadeira? Não era? Eles haviam perdido a capacidade de distinguir há muito tempo. Ah, era uma maravilha segurar o poder da dúvida.

— Vai à merda — Jeongguk soprou um beijinho no ar e saltou da bancada, assim como Taehyung voltou à sua escultura. — Te vejo mais tarde.

Quando Taehyung murmurou alguma resposta, tinha o olhar atento ao pedaço de papelão que moldava em uma pequena orelha. Era comum, quando a inspiração lhe transbordava, que entrasse naquele estado de deslumbramento quase hipnótico, como se o mundo fosse apenas sua obra e ele, ele e sua obra.

Sinceramente, Jeongguk já estava acostumado. E mais sinceramente ainda, achava uma gracinha.

Horas mais tarde, Jeongguk andava pelo prédio de aulas com as mãos enfiadas nos bolsos, bocejando. Bocejar a cada segundo estava o irritando profundamente. A sensação era de noite mal dormida, seu corpo poderia desabar a qualquer momento, mas o turbilhão em sua cabeça jamais o deixaria pregar os olhos.

Acabara de sair de uma aula especialmente desastrosa. Um assunto cansativo, somado à pressão das provas finais e exaustão mental, resultaram num produto desastroso dentro de si, que incinerou qualquer faísca de esperança que tinha de que aquele poderia ser um dia bom.

Parou numa das máquinas de café expresso que ficavam por aqui e ali nos corredores.

Enquanto o vapor do café aquecia sua mão ao redor do copo de vidro, um que sempre carregava consigo na mochila, sua cabeça remoía o ódio contra os malditos que inventaram tantas famílias, subfamílias, espécies, descoberto tantos fungos, tantos processos bioquímicos. Malditos. Maldito seja o primeiro corno que pensou "Ei, e se a gente estudasse a vida no mar?"

Pelo menos, a professora da disciplina era um anjo. Rigorosa com a avaliação, mas empática ao cansaço mental dos alunos.

"Com calma e perseverança, hoje será um dia de grandes resultados." leu em algum lugar, provavelmente no celular. Horóscopo. Previsões para o seu signo estavam espalhadas no Twitter, e eram em dias como esse, que ele achava praticamente impossível não odiar frases motivacionais.

Wasabi Club | TaekookWhere stories live. Discover now