Capítulo 7

13 7 7
                                    

Ele estava entediado, olhava para a filha adolescente do patrão e não entendia o que passava em sua cabeça. Ela era tão diferente das garotas daquela idade. Tinha que concordar com o irmão, realmente ela era bonita, mas parecia querer se esconder naquele monte de roupas.
Achou que o Mickey estampado em sua blusa a definia perfeitamente, embora agora ele estivesse coberto de sangue. Olhou na imensidão do corredor e a quantidade de portas que tinha, torcia para uma delas abrir e chamar por Larissa, só dessa forma poderia retornar. Conferiu mais uma vez o relógio, havia passado 60 minutos. Com certeza iria para a faculdade sem banho. Digitou uma mensagem de texto rápido para a namorada, avisou que não conseguiria chegar a tempo para irem juntos, falou do imprevisto ocorrido no trabalho e que iria se atrasar para a faculdade.
Voltou a olhar para as pessoas que aguardavam o atendimento, crianças chorando, duas senhoras que conversavam há horas e um homem em específico chamou sua atenção, ele estava encostado em uma coluna a sua frente e seu rosto estava tão pálido quanto o branco das paredes do hospital. Larissa destoava de todos ali, com suas mechas rosas, e seus fones de ouvido, parecia ter se esquecido que estava cercada por pessoas, mesmo com a mão enrolada por uma pequena toalha na tentativa de conter o sangue, balançava a cabeça ao som da música. O rapaz riu com a imagem. Adolescentes!
Cansado de ficar em pé, viu uma única cadeira livre ao lado da garota, essa mesma cadeira estava vazia há algum tempo, todos pareciam assustados com a cena, as roupas esquisitas, sujas de sangue e ela cantando ao mesmo tempo que parecia tocar uma bateria imaginaria, pareceu desmotivar qualquer um que quisesse sentar. Apollo não se intimidou.
— Parece que todo mundo resolveu vir para o hospital hoje, não é mesmo?
Ele puxou conversa ao sentar.
— Odeio hospitais!
Ela limitou-se a dizer.
As duas senhoras que conversavam desde que eles chegaram, estavam falando sobre o sumiço do Romeu, tentou virar o ouvido na direção das duas para ouvir melhor, uma delas dizia que conhecia o pai do garoto e que ele não era boa coisa.
— Da para se afastar? — Larissa pediu.
Estava tão concentrado na conversa das duas senhoras que não percebeu seu cotovelo encostado no ombro dela.
— Desculpa!
Ela deu de ombros.
— Qual é a música? — Apontou para os fones.
— Oi?
— O que está ouvindo?
Ela entregou um dos fones para ele.
— System of a down?
— Qual o problema?
— Nenhum! Só não está na preferência da maioria!
— E quem disse que faço parte da maioria?
— Ninguém! Sobre isso eu não tenho dúvidas! — Falou com ironia.
— O que quer dizer com isso?
Ela foi chamada para o atendimento antes que ele pudesse responder.
Continuou sentado esperando por ela, mas não demorou muito até a garota surgir inconsolável e pela cara de desespero que ela fazia, ele imaginou ser grave.
— Vamos Apollo!
Larissa gritou.
— Ela não quer nos deixar dar os pontos.
Apollo olhou desacreditado. Não era possível que teria que interferir naquela situação.
— Acha mesmo que vai conseguir voltar a tocar com esse rasgo na mão? Isso vai infeccionar e não vai ter força de vontade que te faça ganhar aquele campeonato.
— Eu falei isso para ela, vai infeccionar!
— Ninguém vai enfiar agulhas aí, ninguém!
— Quer saber — o rapaz falou irritado — já fiz o que me pediram, eu não vou segurar uma garota desse tamanho para receber esses pontos, estou atrasado para a faculdade e não tenho tempo a perder. Não quer levar os pontos? O problema é seu! Deixa o pai dela resolver, não tenho filha desse tamanho e nem paciência com criança mimada. Vamos embora!
— Do que você me chamou?
Larissa pareceu não gostar do que ouviu, limpou as lágrimas e estufou o peito. Apollo começou a andar em direção a porta. A garota vinha logo atrás.
— Você me chamou de criança? É isso mesmo? Fique sabendo que sou sua chefe e não pode falar assim comigo, posso te demitir!
Ele parou ao ouvi-la.
— Então me demita. Quero só ver sua autoridade!
Ele pegou o celular e apertou o número do pai da menina.
— O que está fazendo?
Perguntou nervosa.
— Estou ligando para o seu pai. Quero ouvir você dizer a ele o porquê está me demitindo e vou aproveitar para explicar o motivo que vou deixá-la aqui.
— Você não pode me deixar aqui.
— Vamos ver se não!
— Tá bem! Tá bem! Desliga logo isso, eu vou deixar eles me darem os pontos.
A enfermeira sorriu para o rapaz agradecida.
— Você quer entrar para acompanhá-la?
Nãão! — Responderam ao mesmo tempo.
— Então a senhorita pode me acompanhar.
Ele observou a garota sumir pelo corredor. As pessoas que aguardavam o atendimento estavam olhando para ele, até às duas senhoras pararam de conversar para ouvir o que ele dizia para Larissa. Pelo olhar de todos, pareciam ter aprovado sua atitude, uma até comentou:
— Gostei de ver sua desenvoltura com sua irmã.
— Ela não é minha irmã, é a filha do meu patrão. Acontece que tenho um irmão mais novo e sei bem a dor de cabeça que eles dão.
— Eu não tenho irmãos, mas pela cena, posso imaginar.
Como estava cansado de esperar, se despediu da jovem e foi para o carro. Larissa veio logo atrás.
— Será que você poderia me deixar em casa? Não quero voltar para o mercado.
— Sim. — Falou simplesmente.
— Podia manter isso em segredo e não contar nada para o meu pai?
Ele a encarou incrédulo, deu meio sorriso e afirmou com a cabeça.
A deixou em casa e foi para o supermercado. Montou em sua moto e seguiu para a faculdade. Por causa do atraso, não teve tempo de tomar banho ou trocar de roupa, percebeu que sua camisa tinha uma pequena mancha de sangue. Droga! Devo ter me sujado quando peguei na mão dela para enxergar melhor o corte!
Assistiu às aulas cansado, seus olhos estavam pesados, sua barriga roncava, contava os minutos para o intervalo. Não conseguiria assistir todas as aulas, por isso planejou ir embora mais cedo.
Levantou antes dos colegas e foi para o restaurante universitário.
— Ei, você não atende seu celular mais não? Estou te ligando faz tempo e nada de você atender.
A namorada não parecia feliz.
— Desculpa, gatinha! Estava faminto!
— O que aconteceu? Por que está com essa mancha de sangue na camisa?
Ele olhou novamente para a mancha.
— Achei que ninguém iria notar...
Ela esperou pela resposta.
— A filha do patrão se feriu lá no mercado e ele me pediu para acompanhá-la até o hospital, precisou levar pontos, por isso o sangue.
— Qual a idade dela? Por que você teve que levar?
— Ele é meu patrão e já me pediu várias vezes para levar funcionários ao hospital, você já sabe disso!
— Sim, mas é filha dele, por que ele mesmo não levou?
— Porque tinha uma reunião importante e o filho ia ter prova na faculdade...
— E o outro segurança?
— Ele tem mais tempo de casa ou porque me viram primeiro, não sei, Sabrina! Só sei que o cara é meu patrão e já me ajudou muito na época que fiz estágio e precisei sair mais cedo, fora as vezes que aliviou minha barra por causa das provas da faculdade.
— É, eu sei que ele é um bom patrão! Mas não gosto de saber que meu namorado está andando com outra mulher.
— Ela é uma criança!
— Criança como? Tem que idade?
— Não sei! Deve ter a idade do Gael.
— O Gael não é criança e essas adolescentes são loucas por caras como você!
— Com toda certeza eu não faço o estilo dela!
O rapaz riu.
— Então quer dizer que ela faz o seu?
— É claro que não! Já disse, ela é uma criança!
— Espero que não faça mesmo!
— Estamos juntos há cinco anos, achei que tivéssemos passado dessa fase.
— Nunca vou deixar de cuidar do que é meu! — Ela deu um beijo nele. — notícias do Romeu?
— Não! Vou para casa mais cedo, vou ver se pego o Gael acordado, com certeza ele deve saber mais do que informou nos noticiários.
— Pelo jeito vou ter que voltar com a galera do ônibus então...
— Volta comigo! Vou embora daqui a pouco.
— Tenho um trabalho para apresentar na última aula.
— Que chato!
— Nos vemos amanhã então!
Ela beijou o rapaz e voltou para a sala. Apollo continuou sentado mais um tempo no restaurante da faculdade, pegou o celular e enviou uma mensagem para o irmão, disse que chegaria mais cedo e pediu para que ele o esperasse.
No caminho de volta, passou próximo de uma praça e avistou um grupo de jovens fazendo manobras com o skate. Diminuiu a velocidade ao reconhecer a adolescente que tinha deixado uma marca de sangue em sua camisa. Ela estava fazendo a manobra blunt to fakie na mini rampa, os amigos estavam fazendo pressão para conseguir executar, os cabelos estavam presos num rabo de cavalo, mas as mechas rosas caiam em seu rosto, porém não impediram de que ela conseguisse realizar a manobra com perfeição, os garotos na pista gritavam e ela exibia um grande sorriso. Apollo ficou impressionado com sua habilidade, ele não quis admitir, mas vê-la sorrir, mesmo com aquela faixa na mão depois de todo drama que passou para receber os pontos, o deixou satisfeito. Ele também se lembrou de sua adolescência e o quanto amava passar o tempo tocando com o pessoal da sua antiga banda. Antes que pudesse ser reconhecido, acelerou a moto e seguiu para casa.

 Antes que pudesse ser reconhecido, acelerou a moto e seguiu para casa

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.
VentrixWhere stories live. Discover now