Capítulo 5

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Lucien

Ainda não sabia se foi prudente aceitar a proposta de reerguer a Primaveril. A Corte precisava ser reconstruída, não tinha como negar esse fato, mas as lembranças que o lugar trazia me faziam reconsiderar a decisão. Mas não podia desistir, não quando tinha a oportunidade de fazer algo por todos, até mesmo por Feyre, uma dívida antiga, de quando eu não podia fazer nada nem por mim.

E ainda tinha Elain, teria que passar todos os dias com ela, seria inevitável, ainda podia evitar sua presença dentro da casa, podia sair durante o dia, reconstruir outras partes da corte. No entanto ainda a veria durante as refeições, quando precisasse discutir sobre a Corte, saber o progresso que estava fazendo.

Estarmos próximos ainda era um desconforto para ambos, podia sentir na forma como ela se retrai, mesmo sem perceber, um ato involuntário e inconsciente, mas perceptível cada vez que estou perto. Posso ver como aperta as mãos uma na outra, em como sua boca treme antes de falar, escolhendo com cuidado as palavras, como evita o olhar.

Não podia culpa-la, minhas ações não eram diferentes, e evitava o quanto podia estar perto dela, fugia em toda oportunidade. E continuaria fugindo pelo resto da vida, mesmo que a mãe sempre nos colocasse no mesmo lugar, como uma ironia do destino, ou um castigo, devia ser um castigo por não ter feito mais, por não ter confrontado Tamlin quando necessário, mas o que eu podia fazer?

O jantar da primeira noite foi pintado em tensão e desconforto, depois de curar as mãos de Elain nenhuma palavra foi pronunciada, apenas um murmuro de boa noite e uma saída rápida, como se ela tivesse desaparecido como pó pela casa.

O silêncio caiu no ambiente, permitindo ouvir minha própria respiração, cada fôlego saindo como se custasse muito, como se fosse difícil permanecer, como se tivesse que ter cessado há muito tempo. Seria mais fácil se minha vida tivesse sido levada em Sob a montanha, não precisaria passar por cada uma das situações que me atormentam até hoje, que faz o ar parecer insuficiente a noite, quando tenho como companhia apenas a ansiedade constante, e quando as lembranças vem, como um vento impetuoso, levando qualquer resquício de paz e felicidade existente.

Precisava apenas sobreviver e prosseguir, até a Corte estar reerguida, até não existir perigo, e quando todos estivessem bem poderia descansar nas graças da Mãe.

A cadeira rangeu quando levantei, estava tão imunda e destruída quanto os outros móveis, penso que podia ser uma bela representação de como estava me sentindo por dentro. Mas diferente da casa eu não tinha conserto, não podia chamar feericos para me ajudarem a reconstituir o que não tem salvação, eu estava fadado ao fracasso, esse é meu grande e brilhante destino.

Elain

A noite foi melhor do que eu esperava, ou estava tão cansada que não tive tempo de pensar, apenas acordei quando os raios de sol tocaram meu rosto, tinha esquecido de fechar as cortinas na noite passada.

Depois do jantar entrei tão rápido no quarto, queria apenas deitar e descansar, cada parte minha parecia implorar por um descanso, os pensamentos estavam embaralhados, e não sabia o momento que tinha trocado o vestido e deitado.

Enquanto a banheira enchia voltei para o quarto, abro as janelas de vidro para observar a vista para o jardim, a brisa da manhã invade meus sentidos, trazendo o cheiro que tanto gostava, o aroma das flores era como um renovo para mim. Um sorriso curva minha boca, podia me acostumar com a vista pela manhã, o cheiro refrescante das flores.

Não demorei no banho, ainda tinha muito trabalho pela frente, e hoje ainda tinha a casa, não sabia se teria tempo de cuidar da outra parte do jardim, ou se não precisaria me envolver na estética da casa também, uma parte de mim gostaria de participar, decidir a decoração, as cores, a posição dos móveis.

Corte de flores e fogoWhere stories live. Discover now