6. Puxado para o Amor

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Ai, gente! Bora lá surtar!

🌷

Alexander


Catarina havia feito a previsão de um mês, sem garantias. Um mês para voltar para casa, talvez até mais.

Minha mente ainda estava adaptando-se à minha nova realidade. Temporária, porém, nova.

Eu não conseguia deixar de pensar em como meus irmãos estavam, e com toda essa viagem no tempo, não saberia dizer como foi o desfecho daquele dia. Às vezes até meus antigos pesadelos voltavam durante a madrugada, atormentado-me pela visão de meus irmãos desprotegidos, ou até, mortos. Por incrível que pareça, Calico Jack não ocupava tanto meus pensamentos desde que vim para esse novo século. A ideia de vingança agora, parece um pouco mais distante e sem objetivo. Mas ainda assim, eu não iria esquecer tudo tão fácil.

Nessas duas semanas em que estive sob o teto dos Loss-Fell, pois descobri que Magnus só estava de visita, muita coisa eu já havia assimilado.

Tudo parecia mágico aos meus olhos. Literalmente. Como era possível ouvir a voz de alguém a léguas de distância, por aquela caixinha minúscula que eles chamavam de celular? Como era possível tomar banho sem precisar carregar baldes de água depois de terem sido esquentadas no forno à lenha? Um banho simples tomava-me apenas uns 15 minutos no banheiro luxuoso de hóspedes, diferente das horas de preparação no passado. Foi um pouco cansativo, e ao mesmo tempo engraçado, quase perder a luta que travei com o chuveiro, tentando entender todos os botões para mudar de água fria para água quente.

Nossas condições antigamente eram retrógradas e precárias, apesar de eu ser relativamente bem de vida. Não podia ser considerado um almofadinha burguês, mas os espólios resultantes do escambo entre piratas, traziam-nos alguns privilégios. O dinheiro sempre pôde comprar tudo.

Eu olhava-me no espelho e não conseguia mais reconhecer o Barba Negra de outrora. Eu não sentia falta do meu cabelo comprido, muitas vezes entrançados por conta da ventania dos mares. Eu não podia negar que as roupas dessa época eram mais confortáveis, os produtos de banho mais cheirosos, fazer a barba então, muito mais prático. Os materiais descartáveis eram os melhores. Havia tanta coisa incrível que minha mente nem conseguia acompanhar.

Eu já não vestia-me mais com calçolas, que até pareciam engraçadas se comparadas à esse século. Hoje em dia os homens vestiam cueca box ou samba canção. Os nomes poderiam até soar estranho, mas eram incríveis em praticidade, e até acentuavam o tamanho da nossa... intimidade. As blusas de meia eram simples e confortáveis, se o clima não estivesse tão frio, com certeza eu as usaria o tempo todo. Magnus fez-me experimentar blusões, ternos, jaquetas, uma calça que ele chamou de jeans, que havia assegurado-me que eu a usaria em qualquer ocasião devido à sua atemporalidade. Não consegui aceitar tudo que ele quis presentear-me, pois não queria abusar da hospitalidade, mas aceitei o necessário. Ele apresentou-me também a acessórios como o boné, óculos escuros, protetor solar e carteira. Mas não pude deixar de perguntá-lo se eles eram magos do tempo quando ele mostrou-me um relógio de pulso. Como era possível medir o tempo por um objeto tão minúsculo e aparentemente simples? Eu achei incrível o que a modernidade trouxe de benefícios para o homem através de invenções e desenvolvimento de ideias antigas, porém modificadas pela tecnologia e muito mais usuais nos tempos contemporâneos.

Havia uma coisa com o cheiro. O cheiro do meu século era mais forte, disso eu tinha absoluta certeza. A água era mais escassa e os recursos mais limitados à elite burguesa, mas a definição de limpeza definitivamente era diferente no meu tempo. O cheiro da modernidade poderia ser mais poluído, mas era mais leve e bom de sentir. Tudo era mais difícil naquela época. Hoje, devido à tecnologia, tudo tornava-se quase trivial.

Barba NegraWhere stories live. Discover now