Capítulo 6- Any

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- Por quanto tempo você acha que consegue prender o ar?- Josh pergunta quando me acomodo na maca.

- Levando em consideração que eu não respiro mais sem isso,- digo apontando para o meu nariz- acredito que menos de cinquenta segundos.

- É tempo o suficiente. Antes que tire isso, quero que você puxe o máximo de ar que conseguir, quando eu tirar, a maca já vai entrar para tomografia. Prometo que vai ser rápido, mas se você se sentir sufocada e precisar do oxigênio aperte a bola.

- Tudo bem.

- Certo. Puxe o ar na próxima vez que sentir o oxigênio entrar.- Ele diz já com as mãos no tubo.

Faço o que Josh pede, arrumando a bolinha em minha mão e acenando com a cabeça dizendo ele já pode tirar.

- Tente não se mexer.- É a última coisa que diz antes de retirar o oxigênio e se afastar.

A maca é puxada para dentro, a luz está brilhando em meu tórax. Acho que ouvi Josh dizendo que estou me saindo bem e que serão só mais alguns segundos.

Segundos estão parecendo minutos, não posso me mexer, não posso respirar, não sei se posso piscar. Esse lugar está ficando apertado, meus pulmões estão queimando.

Soltei o ar, tentei respirar de novo, não consegui. Preciso de ar, quero respirar, eu quero mesmo respirar. Tento apertar a bola, não tenho forças.

Aperto.

Aperto.

Aperto.

Sinto meus olhos arderem, eu me mexi. Deuses eu estou morrendo! Estou apertando a bola, por que não me tiram? Por quê não param?

Eu quero sair, quero o oxigênio. Me mexi de novo. Sinto que estou morrendo.

Levantam o meu corpo rápido de mais, a luz está mais forte. Estou morrendo... Estou mesmo morrendo.

O vento bate em minhas narinas, algo toca minhas orelhas, sinto meus pulmões se enchendo novamente. Mãos correm em meus braços, em meu cabelo, dedos percorrem minha bochecha.

Seu dedo limpa uma lágrima, e outra, e mais uma. Quando abro os olhos seu sorriso é acolhedor, seus olhos são preocupados.

- Me desculpa.- Sussurro.

- Está tudo bem.

- Não, eu não fiquei parada, eu soltei o ar e não puxei de novo e... E lá dentro estava sufocante. Eu não apertei a bolinha e deu tudo errado, eu me mexi e... eu não quero voltar lá dentro de novo Josh.

Josh solta o ar devagar, limpando mais uma vez a lágrima que caiu em minha bochecha e puxando meu corpo para o dele.

Não entendi por que ele fez isso, mas gosto da forma como Josh me trata mais como sua amiga do que sua paciente. E tenho certeza que ele está querendo ocupar o lugar da minha mãe agora, pois ela estaria aqui nesse momento se eu não tivesse pedido para ela não estar.

- Não me coloque lá dentro de novo hoje, Josh, por favor.

- Não vai precisar Any, conseguimos as imagens certas antes que você apertasse a bola. A propósito,- diz passando a mão em meu cabelo- você apertou sim a bolinha, muitas vezes.

- Desculpe.- Sussurro.

- Está tudo bem, Any. Vem, vamos voltar para o seu quarto.

★★★

Cartas ao amanhecerOnde histórias criam vida. Descubra agora