Capítulo 2- Any

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Aviso!!!!!

Notificação está falhando mais uma vez, então fiquem atentos por aqui.

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Ouço minha mãe chorar, o que me faz pensar que mais uma vez estou acordando, mais uma vez nessa maca desconfortável.

Permaneço de olhos fechados, o médico está falando, minha mãe está soluçando, ela faz isso quando está desesperada.

Também estou assim, desesperada, Guilherme não me mandou nenhuma mensagem dizendo que só estava com a cabeça quente e que disse bobagens. Ainda olho para a porta esperando que ele entre e diga que tudo está normal novamente.

- Células do tumor já se instalaram no sangue, mesmo com uma cirurgia a probabilidade de um novo câncer aparecer em alguma parte do corpo é grande.

Câncer? Ouvi errado, não tenho câncer.

- Está me dizendo que minha filha tem uma expectativa de vida de sete meses e você não vai fazer nada?!

- Senhora, preciso que entenda que isso não é uma escolha minha. Sua filha pode decidir fazer a quimioterapia e atrasar os danos que o câncer vai fazer no pulmão dela. Mas ele ainda não vai sumir dali, não por completo. O hospital vai ser a segunda casa da Any, a primeira tosse vai ser motivo de preocupação.

- Um transplante! Podemos tentar encontrar um doador. Centenas de pessoas com um pulmão saudável morrem por dia, podemos encontrar algum.

- Não vai adiantar.- Sussurro com dificuldade.- Tem células cancerígenas percorrendo pelo o meu sangue mãe, pode aparecer outro câncer a qualquer segundo.

- Você estava acordada esse tempo todo?!

- Perdão, eu não queria ouvir a conversa. Mas vocês não quiseram me contar o que o exame constatou e eu queria saber, então ouvi.

- Ah minha querida, nós vamos dar um jeito para tudo voltar ao normal, está bem? Deve haver outra solução, alguma coisa que cure o câncer que ainda não foi exposto. Nós vamos encontrar.

- Mãe eu estudo medicina, se a hipótese de uma cura estivesse por aí a faculdade saberia. O Gui apareceu?

Seus olhos ficam travados em meu rosto, não em meus olhos. Josh está afastado, esperando o momento em que minha mãe vai deixar ele conversar comigo.

- Eu sinto muito, querida. Ele não vai voltar, pediu para que seu pai fosse buscar suas coisas no apartamento dele noite passada.

Posso ouvir meu coração trincando, ele simplesmente se foi, não olhou para trás nem por um segundo. Me deixou sem nem saber se tinha chances de uma cura, não tive a chance de dizer que ele esteve comigo na saúde e na doença.

Me sinto somente mais um brinquedo em sua vida, ele esteve comigo só nos momentos bons, Guilherme não quis ficar no momento ruim.

- Não chore meu amor, pode ter certeza que seu pai socou aquela carinha bonitinha por ter te deixado.

- Por que?- sussurro, o oxigênio faltando em meus pulmões.

- Por que o que querida?- Minha mãe pergunta empurrando meu cabelo para trás da orelha.

- Por que comigo? Eu nunca encostei em um cigarro. Eu sou saudável e não fumo. Por que não em outra parte do meu corpo onde eu pudesse corrigir isso? Por quê está sendo tão malditamente difícil respirar?!

- Peço licença Sra. Soares.- O médico diz encostando no ombro da minha mãe.- Como eu disse, Any vai precisar fazer a oxigenoterapia. Os pulmões já não estão recebendo o oxigênio como antes.

Cartas ao amanhecerOnde histórias criam vida. Descubra agora