Casa

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Mia acordou sobressaltada. Não conseguia imaginar a razão, já que ela simplesmente não tinha sonhado. Haviam duas semanas que estava em casa e não havia tido um sonho sequer. Já se aproximava o dia do seu retorno e não havia comentado com sua família sobre o exército. Não havia dito uma palavra sobre nada. Nem sobre o quartel ficar localizado em parte da área 51, nem sobre como as coisas realmente funcionavam lá. Nada. Não que ela não houvesse tentado, mas cada vez que o fazia, se esquecia sobre o que falava. E tudo o que vinha em sua mente, era o que poderia perder se a verdade viesse a tona. Todas as vezes que tentava era assim. Até que simplesmente desistiu.
Ela sabia que havia algo errado e tinha certeza, que aquela luz que  mostraram a elas antes de saírem de lá, era a responsável.
Estava tudo em perfeita paz. Ela não entendia a necessidade de um exército como o que fazia parte. Ela não queria voltar, mas se sentia extremamente inclinada a isso. Sentia seus dedos formigarem em expectativa. Como se não visse a hora de voltar àquele lugar horroroso.
Saiu da cama e a arrumou perfeitamente. Algo que raramente fazia antes do exército. Agora ela compreendia a razão de tanta disciplina entre os que voltavam. Eles nunca faziam algo que não deveriam. Mesmo os que eram mais desleixados e desorganizados, mudaram da água para o vinho. E Mia não era uma excessão. Mas coisas que pareciam comuns aos outros fazerem, para ela, era como se fosse um fantoche sendo controlado. Tinha vontade de deixar a cama bagunçada, mas simplesmente não conseguia. O que era estranho para ela, era essa vontade de contrariar suas próprias ações. Como se elas não fossem dela.
Resolveu que iria se forçar, para ver no que dava. Nesse momento um alarme soou na sua cabeça. Como se sua consciência lhe dissesse que aquilo era errado, e aquilo a deixou ainda mais em alerta. Ela tinha certeza que aquelas ações não eram dela. E os outros? Será que sentiam o mesmo?
Escovar os dentes. Ela tinha que ir. Se esforçou durante alguns minutos. Ela não queria ceder. Mas acabou escovando os dentes e descendo para o café.
A refeição na casa, havia sido modificada. O exército quem enviava os suprimentos agora. Era comida saudável, diziam eles. Outra coisa que ninguém sabia antes, também. Porque ninguém comentava. Saiu de casa por volta das dez e encontrou Lili na mesma praça de sempre. Ela sentia que não deveria ir, mas ainda assim foi.

- Como se sente?
- Bem.
- Quero dizer com relação ao exército.
- Não vejo a hora de voltar.
- Sério?
- Sério. Cheguei a pedir. Mas não foi possível.
- Você pediu pra voltar para àquele lugar?
- O que tem de errado com o lugar? - Lili estava estranha. Parecia que iria rosnar para Mia a qualquer momento.
Mia não disse nada, ela mesma não se sentia normal.

Ela se levantou e caminhou por alguns minutos por ali. Sentia sua mente fervilhando, como se houvessem duas consciências ali. Como se ela mesma não fosse a única dona de sua cabeça. Lili não parecia tão confusa. Ela parecia só a Lili. Não que deixasse de agir de forma estranha, mas era provável que a amiga não estivesse confusa como ela. Ela conhecia Lili o suficiente, para saber que se ela estivesse com a mente a mil como ela, estaria pirando.

- Eu tenho que ir. - Disse Mia, sem realmente saber porquê.
- Mais tarde nos vemos, então.
- Até mais.

Ela se afastou, quando estava relativamente longe da praça, olhou para trás. Não podia mais ver a amiga. Sentiu alívio. Não que ela não quisesse a amiga por perto, longe disso. A questão era que toda essa normalidade que a amiga demonstrava a incomodava e intrigava.
Quando se virou de frente, havia uma mulher, que fechou sua passagem. Ela virou de costas para correr, mas um homem surgiu do nada.

- Não tão rápido!
- O que você quer?
- Nada. Nós nada.
- Já nosso chefe...
- Quem é seu chefe?
- Jura que não sabe?

O nome surgiu na mente de Mia instantaneamente.

- Vicenzo Olivieri.
- Viu como você sabe?
- O que ele quer comigo?
- Vai descobrir logo. Venha.

Ela ficou parada. Sua mente a impelia a ir. Era quase um suplício, mas ela ficou parada. Os dois torceram os lábios.

- Não quer saber o que ele quer de você?

Aquela frase que a mulher proferiu, mexeu com a curiosidade dela, então ela deixou que sua mente vencesse e acompanhou os dois até uma espécie de moto, com três lugares. A mulher se sentou no piloto. Ela aguardou que o homem se sentasse, mas ele não o fez.

- Você primeiro.

Ela olhou para ele e subiu na moto. Ele se sentou atrás dela e o motor foi ligado. Não era necessário que ninguém se segurasse na pessoa da frente, já que assim que o motor zuniu, dois guidãos surgiram e os dois passageiros da estranha moto, puderam viajar.
A viagem foi relativamente rápida. Eles ficaram na estrada por alguns minutos e em um dado momento, um túnel se abriu, tragando-os para baixo da terra. Logo ela estava nos túneis da área 51. Após alguns minutos chegaram a uma construção imensa, com portões cinza e paredes mais cinzas ainda. Ela não podia ver o topo, porque provavelmente estava acima da terra. A porta foi aberta, e o contraste que ela viu do lado de dentro causou um impacto. Era tudo de uma cor clara, bem alegre. Ela não se recordava qual era o tom, mas beirava o creme. Elegantemente decorada, a casa parecia saída de um filme de Hollywood. No topo da escada, em pé, imponente, estava ele. Vicenzo Olivieri. Ela o reconheceu imediatamente.
Os olhos pretos dele se empertigaram na direção dela e ele sorriu.

- Você veio!
- Não que eu tivesse escolha.
- Isso é o que mais me intriga. Você tem. Não sei a razão, mas tem.
- O que você quer?
- Te conhecer. Conhecer a pessoa que é capaz de fugir do meu controle.
- Então é isso... Você realmente controla nossa mente.
- Sim.

Ele olhou para os dois que aguardavam ali e eles sumiram de vista no mesmo instante. Cada um correu para um lado.

- Venha. Sente-se. Temos muito o que conversar.
- Não tenho nada a falar com você.
- Ah, você tem. Podemos conversar, ou eu posso mandar meus técnicos analisarem sua cabeça. O que te parece melhor?

Suspirei.

- Foi o que eu pensei.

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