Infelicidade

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— Sinto muito, Toshinori. — disse a mestra para seu único discípulo. — Eu estou muito ocupada e para não prejudicar seu treinamento eu pedi para que Gran Torino me substitua.

O homem citado acenou para o jovem e voltou a conversar pelo telefone com a sua mesma expressão mau humorada de sempre, ao mesmo que o loiro estava absorvendo o que foi dito, ele tentou protestar.

— É por causa do One For All, não é? Você já passou o All For One para mim, por que ainda luta? Essa responsabilidade não é mais sua, mestra. — o adolescente disse em voz baixa, seu olhar estava baixo e os punhos estavam cerrados. Ele estava cansado de ver os outros dando tudo de si enquanto tudo que ele faz é ficar observando as escondidas.

Nana pousou sua mão nos ombros largos do loiro e sorriu: — É por isso que você deve ficar a salvo. Seu futuro será brilhante, Toshi, eu sei que vai! Eu te preparei para isso. E quando o momento chegar você vai levantar seu punho, sorrir e garantir para os cidadãos que você ajudou e que você está lá para salvá-los.

Toshinori não soube responder, por isso apenas observou sua mestra ir sem olhar para trás.

— Um dia você vai entender, garoto. — disse Gran Torino. — Guarde as palavras da Shimura, vai precisar delas no momento certo.

Ele queria entender agora, queria deixar de se sentir tão inútil, mas ele não conseguia.

Os próximos dias foram treinos pesados com Gran Torino, Toshinori se sentia aliviado pois assim poderia descontar toda sua frustração nesses treinos até quase cair de exaustão e então tudo se repetia, passando quase um mês sem Nana dar nenhum sinal de vida. "Não se preocupe garoto, ela está viva." dizia Gran Torino toda vez.

As aulas para o terceiro ano no último semestre eram extremamente cansativas e desgastantes, isso transparecia nas olheiras e bocejos dos alunos, mas era nítido que Toshinori Yagi estava mais cansado que os outros. O garoto brilhante que apareceu atrasado no primeiro dia de aula, hoje era o mais apagado.

Mas Todoroki de alguma forma, ainda enxergava o brilho no garoto quando eles estavam juntos, ele não sabia o que sentia em relação a isso. Na verdade, ele não sabia de muita coisa ultimamente, passou-se três semanas desde sua primeira sessão na terapia e ele já estava encaminhado com um neuropsicólogo para estudar mais a fundo sua condição, porém, ele já sabe que o diagnóstico não vai ser nada bom. A dor de cabeça insuportável gritava isso em sua cabeça.

A professora falando sem parar sobre algo irrelevante no momento, o barulho do ponteiro do relógio, o chiclete sendo mascado de boca aberta pela Nemuri... Tudo o irritava profundamente e aumentava sua dor que agora parecia se alastrar pela nuca abaixo.

— Enji? — chamou Toshinori, mas sem respostas no ruivo que apenas encarava a lousa sem piscar, mas a professora não estava escrevendo na lousa. — Enji, seu fogo está muito forte!

— Enji, está querendo me carbonizar? — reclamou Nemuri.

— O que está acontecendo aí no fundo? Todoroki controle-se! — esbravejou a pequena professora.

Na mesma hora, Todoroki se levantou bruscamente e saiu, deixando a sala num silêncio absoluto. Logo mais Aizawa apareceu na sala enquanto batia no seu uniforme que chamuscava.

— Desculpe por ter que sair para atender a ligação professora, mas era importante e receio que tenho de ir agora. — disse de modo arrastado.

— Claro... — e assim o moreno também saiu.

Yagi saiu de seu estupor e correu sala a fora sem ouvir os protestos da professora e sem ver seu amigo caminhar apressadamente rumo a saída. O loiro seguiu as pegadas de um par de pés que queimaram o chão, chegando na enfermaria, ele entrou bruscamente, assustando a enfermeira.

— Senhor Yagi! Advertência por invadir a enfermaria!

— Eu quero saber como está o Enji.

— Depois que eu medica-lo. — A enfermeira era realmente incisiva nas suas ordens, portanto Toshinori apenas pode ver Enji minutos depois.

— Como você está? — perguntou o loiro.

— Meio dopado... eu acho. — disse incerto e com a voz arrastada, Todoroki olhava apenas para teto e o outro não pôde deixar de notar que as cortinas estava quase fechadas, talvez a claridade piore a enxaqueca, pensou. — Volte para a aula, não pode perder materia por minha causa.

— Eu pego as anotações com alguém.

Enji poderia discutir até que o outro fosse embora, mas ele estava cansado de mais para isso então ele apenas suspirou, o silencio se instalou na enfermaria.

— Tem algo... — começou o ruivo quase assustando Toshinori. — Tem algo que você não me diz, não diz para ninguém. — agora ele assustou Toshinori.

— E-eu não-

— Não venha com essa de "eu não sei o que está falando", você sabe bem do que estou falando. - disse irritado, levantando sua voz mais que o necessário, Enji bufou fazendo com que fumaça saísse de suas narinas.  — Não estou pedindo para me contar, eu só queria que soubesse que você não é muito discreto.

Yagi poderia negar, ele deveria negar, porém ele não queria. Dentro dele só havia o desejo de compartilhar tudo com Enji, até mesmo a vida.

— Eu não gosto disso que você está escondendo. — Proferiu em mau humor.

Toshinori ficou confuso. — Por que?

— Porque isso está deixando você infeliz. — revelou, impactando em surpresa o loiro. — Eu vejo tudo. você está tão... distante. No começo você era um idiota ingenuo e agora se não fosse pelos nossos momentos eu não o reconheceria.

Yagi corou bobamente pelos "nossos momentos". — Tudo que você pode saber é que isso é por um bem maior.

Pela primeira vez Enji olhou para seu visitante e zombou: — Ah claro, tão importante que deve estar acima do seu bem estar.

— Você está sendo hipócrita. — rebateu.

— Eu sou muito bom nisso.

E novamente o silencio caiu sobre eles, ambos com suas mentes distantes.

Toshinori se perguntava a quanto tempo o ruivo o observava assim, tão atentamente.

O silencio foi interrompido, não por algum dos dois adolescentes na enfermaria, mas sim de alguém que vinha berrando do corredor e subtamente chutou a porta do recinto e entrou fumegando. Era a própria Teka Todoroki.

Mosaico [Hiatus]Where stories live. Discover now