Fracasso

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Yagi está decidido a conversar com sua mestra, sim, eles conversariam como dois adultos! E Nana só podia estar em um lugar...

Bar Moi's, é claro. Um boteco de esquina de aparência desgastada, sempre há um bêbado dormindo na calçada, esse lugar era a cara de Nana. Por sorte, Toshinori parecia mais velho do que era e entrou com facilidade, ele procurou sua mestra até acha-la com um homem que o loiro conhecia bem, era Gran Torino. O clima entre os dois estava tenso, pareciam falar sobre algo importante.

O loiro tentou achar uma forma de se aproximar sem ser notado, mas, antes que encontrasse uma solução, a dupla de amigos saiu pela porta dos fundos. Toshinori sabia para onde estavam indo e ele iria para lá também.

— O dia está se aproximando, Torino. — disse Nana com uma incomum áurea séria e melancólica.

— Não seja tão pessimista, mulher. Quem garante que você terá o mesmo destino que os seus antepassados?

— Ora, por favor, Torino! Todos os que vieram antes de mim e possuíram o One For All tiveram o mesmo destino; morreram tentando parar All For One, é por isso que fazemos o que fazemos.

Toshinori nunca tinha visto sua mestra assim, ela deixou Gran Torino sem palavras aparentemente. Percebendo o silêncio de seu companheiro, Nana respira fundo e proferiu suas próximas palavras mais calma e com um tom profissional.

— De qualquer forma, All For One está se movendo por de baixo dos panos, os vilões estão se sentindo mais a vontade e eu tenho que lembrá-los que a justiça prevalece, sabe o que quero dizer, companheiro?

O homem mais velho acente e diz tristemente: — Eu cuido do seu garoto.

— Muito abrigada, amigo. — disse a mestre com um sorriso aliviado.

Toshinori teve o bastante por um dia, ele saiu antes que alguém o visse.

Então era assim que as coisas acabariam, com sua mestre morrendo assim como todos os outros portadores. Ele também acabaria assim?

Toshinori não queria morrer.

Assim como ele não queria que sua mestra morresse.

Mas ele não poderia fazer nada, era apenas um adolescente que ainda não explorou a vida, fraco, emotivo, ridículo. Ele se sentia incapaz e impotente. Incapaz de proteger quem amava e impotente por não poder ajudar.

Que fracasso.

Os dias passaram, uma semana para ser exato e Yagi estava sentindo o peso se estar no último semestre do terceiro ano da escola de heróis, estava tão atolado que não tinha tempo para conversar com sua mestra, ocasionalmente trocava palavras rápidas com Enji e, no pouco tempo de descanso, dormia com Shouta.

Falando no dito cujo, ele estava cada dia mais e mais suspeito. Agora Toshinori o via mais com o tal Hizashi e suas teorias apenas aumentavam.

Talvez eles estivessem namorando e os dois não se assumiram por medo da cruel sociedade ou eles cometeram um crime horrendo e agora são cúmplices. Nos dias em que Toshinori se sentia insuficiente ele pensava que Shouta estava o substituindo.

Como no dia em que ele estava andando pelos corredores e deu de cara com os dois cúmplices.

— Ola Big Man! — disse Hizashi tentando soar nada suspeito.

— "Big Man"?

— Ele está tentando criar um nome de herói para você. — explica Aizawa, a carranca de Toshinori disse que ele não gostou do apelido.

Agora era assim, os dois de bituca e Toshinori de mau humor.

Até o dia da primeira sessão de terapia de Todoroki. Nesse dia Toshinori colocou seu melhor traje; nada muito arrumado, mas também nada deselegante. Ele usava uma calça de alfaiataria preta simples e uma camisa de cor creme. Deu uma última olhada no seu cabelo penteado completamente para trás e bem alinhado, quando se sentiu satisfeito ele tocou a campainha do casarão, um homem ocidental vestido de pinguim atendeu a porta.

— Bom dia, creio que seja o senhor Yagi.

— Eu mesmo. — disse na forma mais polida que conhecia.

— Entre, o mestre Todoroki avisou sua chegada.

Toshinori entrou e ficou embasbacado com tamanho luxo que era a casa, nunca tinha visto tanta variedade de mármore em um lugar só, tentou não demonstrar sua admiração de pobre e aguardou em uma sala com várias poltronas e uma lareira, rezando silenciosamente para não encontrar a mãe Todoroki.

Pelo visto deus não existia.

— Posso saber quem seria você? —  perguntou Teka que vinha de um corredor.

— Eu sou Toshinori Yagi, senhora Todoroki, sou colega de sala do seu filho. — disse ele tentando não transparecer seu nervosismo. — É um prazer conhecê-la.

— Yagi, uh? Esse nome não me é estranho.

— Minha mãe era uma médica famosa na cidade.

— Oh sim, eu me lembro agora, uma ótima médica de fato. Pena que teve que se aposentar tão cedo.

— É uma pena mesmo. — o loiro agora só desejava que ela não se aprofundasse nesse tema em específico. Já que suas preces passadas não foram ouvidas, ele mesmo tomou a frente e mudou de assunto. — Eu admiro muito sua carreira de sucesso como heroína, senhora.

A mais velha pareceu se encher de orgulho próprio. — Só Teka está de bom tamanho, querido.

Toshinori não poderia estar mais surpreso, ele estava se dando bem com Todoroki Teka.

Poucos minutos se passaram e os dois estavam acomodados nas poltronas tomando chá e biscoitinhos - e que biscoitinhos!

— O que está acontecendo aqui? — perguntou Enji seriamente quando, ao descer as escadas, se separou com sua mãe e Yagi aos risos e informalidades.

— Ora, meu filho, por qual motivo não me apresentou seu amigo Toshinori? Um verdadeiro e raro cavaleiro. — elogiou Teka, deixando Toshinori envergonhado.

O ruivo tinha muitas perguntas, sua mãe estava chamando Toshinori pelo primeiro nome e rindo com ele, Enji tinha certeza que entrou em uma realidade paralela e não tinha percebido.

— Perdão, mãe. Mas antes tarde do que nunca.

— Claro, claro, quer se juntar a nós? — Antes que Enji pudesse responder, Toshinori tomou a frente e se levantou.

— Foi uma conversa muito agradável, Teka, mas já está na nossa hora.

"Teka"!?

— Oh, claro! Indelicadeza a minha, podem ir meninos e se divirtam!

Assim que eles saíram, Enji exigiu explicações.

— Apenas segui o plano.

— Mas o plano não era esse, idiota!

— ... Então qual era? — perguntou a loiro confuso.

— Eu te disse umas três vezes, você me esperava na esquina e eu saia. Você até concordou.

— Concordei? — Toshinori puxou de seu memória o que ele estava fazendo enquanto Enji o explicava o que ele deveria fazer e se sentiu envergonhado quando lembrou que ele estava mais interessado em como os músculos do ruivo estavam aparentes na blusa branca que ele usava no dia.

Todoroki suspirou para se acalmar e pediu para que o outro o seguisse e ambos foram para a seu destino.

Uma clínica psiquiátrica modesta, mas renomada na cidade.

Mosaico [Hiatus]Where stories live. Discover now