O sentimento de injustiça poderia destruir uma pessoa inocente, devastar sua lucidez e, se suas levianas suspeitas estivessem ao menos perto da verdade, tinha obrigação moral de evitar que aquela tortura a Corey Sanders prosseguisse. Era lógico que não era o sistema judiciário inglês, muito menos a polícia, mas se encontrasse alguma coisa, qualquer coisa, que pudesse colocar aquela condenação em dúvida, faria isso. Algo dentro dela gritava em alto e bom som que deveria dar o primeiro passo para mudar a vida daquele paciente atrevido que achava interessante beijá-la escondido.
Concluiu, portanto, antes de qualquer coisa, deveria livrá-lo do ambiente insalubre do helvete. Melissa não tinha ideia do que Corey Sanders fizera para ganhar uma cela no inferno, porém queria acreditar que já era um motivo banal a essa altura. E queria acreditar que um ambiente – ainda que infestado de loucura por todos os cantos – mais saudável como o prédio B, ajudaria na manutenção da sanidade que tanto alegava perder a cada dia.
Depois de seu banho quente, e de se enfiar em suas vestes brancas e jaleco, Melissa foi ao prédio administrativo. Não sabia se encontraria o doutor Thompson no escritório àquela hora, mas resolveu arriscar. As duas batidas educadas na porta foram seguidas de um silêncio nervoso, então, antes do esperado, a voz cansada do velho doutor autorizou sua entrada. A doutora respirou fundo, contando até três para buscar a calma, coragem e cara de pau suficientes para fazer o que estava prestes a fazer. Não sabia se tinha autoridade ou legitimidade para tanto, porém não custava nada tentar.
— Bom dia, doutor Thompson. — ela cumprimentou, ao adentrar a sala que sempre cheirava a charuto.
E naquele dia cheirava também a café.
O doutor Thompson levantou o olhar do livro que examinava, puxando os óculos para a ponte do nariz, e sorriu amigável quando a reconheceu.
— Doutora Parker... Bom dia! A que devo a visita?
— Eu... Hm... — Melissa pigarreou — Vim fazer um pedido. — então sorriu incerta — Estou atrapalhando alguma coisa? Posso voltar mais tarde...
— Não, de modo algum! Sente-se...
Melissa fez o que lhe foi requisitado e teimou com a insegurança em manter o mínimo sorriso em seus lábios. Não queria demonstrar nervosismo.
— Então... Qual a natureza do seu pedido? — ele fechou o livro e apoiou as mãos cruzadas sobre o mesmo.
Parecia mais bem humorado do que o usual, e isso incentivou a doutora a prosseguir com seus planos.
— Eu... Gostaria, antes de tudo, de saber se poderia um pedido dessa natureza...
— Qual o caso?
— Tenho um paciente que... Bem, eu realmente acredito que o lugar em que se encontra aqui no St. Marcus contribui bastante para sua deterioração e debilidade mental... — começou Melissa, preferindo encarar seus dedos suados que se entrelaçavam nervosos.
— O engraçado, doutora Parker... — o doutor Thompson a interrompeu. O tom divertido em sua voz a fez erguer o olhar até ele, apenas para encontrá-lo sorrindo de modo curioso — É que há uma semana você tinha problemas com Corey Sanders e não queria mais atendê-lo, então depois voltou atrás e agora acha que ele merece um descanso do helvete?
Melissa engoliu em seco, sentindo-se culpada pelo olhar curioso e acusador que recebia. De repente quis voltar atrás e nunca ter tido aquela ideia maluca.
— Como sabe que eu falo de Corey Sanders?
— Eu acho que o único paciente que você tem que despertaria esse tipo de interesse seria Corey Sanders. Duvido muito que vá querer tirar Megan Janeth McPhearson do helvete...
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Psicose (Livro I)
Mystery / ThrillerMelissa Parker é uma psiquiatra recém-formada que encontra seu primeiro emprego em um manicômio judiciário. Em meio aos novos desafios, se vê encantada por um de seus pacientes, Corey Sanders, um rapaz misterioso e muito atraente. Sem que se dê cont...
Vinte - O plano mirabolante de Corey Sanders
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