Vinte - O plano mirabolante de Corey Sanders

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O sentimento de injustiça poderia destruir uma pessoa inocente, devastar sua lucidez e, se suas levianas suspeitas estivessem ao menos perto da verdade, tinha obrigação moral de evitar que aquela tortura a Corey Sanders prosseguisse. Era lógico que não era o sistema judiciário inglês, muito menos a polícia, mas se encontrasse alguma coisa, qualquer coisa, que pudesse colocar aquela condenação em dúvida, faria isso. Algo dentro dela gritava em alto e bom som que deveria dar o primeiro passo para mudar a vida daquele paciente atrevido que achava interessante beijá-la escondido.

Concluiu, portanto, antes de qualquer coisa, deveria livrá-lo do ambiente insalubre do helvete. Melissa não tinha ideia do que Corey Sanders fizera para ganhar uma cela no inferno, porém queria acreditar que já era um motivo banal a essa altura. E queria acreditar que um ambiente – ainda que infestado de loucura por todos os cantos – mais saudável como o prédio B, ajudaria na manutenção da sanidade que tanto alegava perder a cada dia.

Depois de seu banho quente, e de se enfiar em suas vestes brancas e jaleco, Melissa foi ao prédio administrativo. Não sabia se encontraria o doutor Thompson no escritório àquela hora, mas resolveu arriscar. As duas batidas educadas na porta foram seguidas de um silêncio nervoso, então, antes do esperado, a voz cansada do velho doutor autorizou sua entrada. A doutora respirou fundo, contando até três para buscar a calma, coragem e cara de pau suficientes para fazer o que estava prestes a fazer. Não sabia se tinha autoridade ou legitimidade para tanto, porém não custava nada tentar.

— Bom dia, doutor Thompson. — ela cumprimentou, ao adentrar a sala que sempre cheirava a charuto.

E naquele dia cheirava também a café.

O doutor Thompson levantou o olhar do livro que examinava, puxando os óculos para a ponte do nariz, e sorriu amigável quando a reconheceu.

— Doutora Parker... Bom dia! A que devo a visita?

— Eu... Hm... — Melissa pigarreou — Vim fazer um pedido. — então sorriu incerta — Estou atrapalhando alguma coisa? Posso voltar mais tarde...

— Não, de modo algum! Sente-se...

Melissa fez o que lhe foi requisitado e teimou com a insegurança em manter o mínimo sorriso em seus lábios. Não queria demonstrar nervosismo.

— Então... Qual a natureza do seu pedido? — ele fechou o livro e apoiou as mãos cruzadas sobre o mesmo.

Parecia mais bem humorado do que o usual, e isso incentivou a doutora a prosseguir com seus planos.

— Eu... Gostaria, antes de tudo, de saber se poderia um pedido dessa natureza...

— Qual o caso?

— Tenho um paciente que... Bem, eu realmente acredito que o lugar em que se encontra aqui no St. Marcus contribui bastante para sua deterioração e debilidade mental... — começou Melissa, preferindo encarar seus dedos suados que se entrelaçavam nervosos.

— O engraçado, doutora Parker... — o doutor Thompson a interrompeu. O tom divertido em sua voz a fez erguer o olhar até ele, apenas para encontrá-lo sorrindo de modo curioso — É que há uma semana você tinha problemas com Corey Sanders e não queria mais atendê-lo, então depois voltou atrás e agora acha que ele merece um descanso do helvete?

Melissa engoliu em seco, sentindo-se culpada pelo olhar curioso e acusador que recebia. De repente quis voltar atrás e nunca ter tido aquela ideia maluca.

— Como sabe que eu falo de Corey Sanders?

— Eu acho que o único paciente que você tem que despertaria esse tipo de interesse seria Corey Sanders. Duvido muito que vá querer tirar Megan Janeth McPhearson do helvete...

Psicose (Livro I)Where stories live. Discover now