Capítulo Um

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Após um longo e cansativo expediente, Si-eun caminhava pelas ruas de Seul, indo para casa. Por mais que fosse grata por ter um emprego, não conseguia parar de imaginar como seria se conseguisse algo melhor, com um salário que fosse o suficiente para ela poder pegar um táxi para casa todos os dias.

Inclinando a cabeça para trás, ela observou o céu escuro, com poucas estrelas o adornando. Estava muito, muito cansada. Noite passada mal tinha conseguido dormir. Seus olhos estavam pesados, mal conseguindo ficar abertos. Círculos escuros em volta deles provavam que não era um exagero. Havia sido mais um dia no qual tinha tido um daqueles sonhos estranhos.

Era sempre a mesma coisa. Sonhava com um homem alto, frio, grosseiro, mas que por algum motivo, sempre a fazia se sentir triste e feliz. O sonho sempre acabava da mesma forma: ela chorando, discutindo com ele por algum motivo que nunca conseguia lembrar, e então falando que o amava.

Chacoalhando a cabeça, Si-eun afastou aqueles pensamentos. Se ficasse pensando muito naquilo, talvez voltasse a sonhar novamente naquela noite. E isso era a ultima coisa que queria. Precisava descansar ao menos um pouco. Não sabia se aguentaria mais uma noite em claro, sozinha em um quarto pequeno e escuro, sufocando com o ar quente do verão.

Suspirando, ela bagunçou o cabelo com uma das mãos, fazendo uma careta.
Já era noite, e se tinha uma coisa que ela detestava, era ter que andar o caminho inteiro do trabalho até sua casa sozinha no escuro.

Estava quase se deixando convencer de que valia a pena chamar um táxi, mesmo que isso significasse que ela teria que economizar mais ainda durante o restante do mês, quando notou um tumulto alguns metros de onde estava.

Haviam três homens e uma mulher reunidos na ponte, discutindo sobre algo que ela não conseguia ouvir bem.
Si-eun inclinou a cabeça, e percebeu que um dos homens estava tentando pular da ponte.

Largando a bolsa que carregava no meio do caminho, ela correu o mais rápido que pode, agarrando o estranho e o puxando para trás, de forma que descesse do apoio da ponte e fosse impedido de saltar.

─ Está maluco?! – ela gritou. – O que pensa que está fazendo?

O homem a ignorou.

Si-eun abriu a boca para falar com ele novamente, quando sentiu uma mão agarrar seu ombro e a puxar para trás. Ela virou a cabeça, olhando surpresa para a mulher de cabelo rosa que tinha visto anteriormente.

─ O que pensa que está fazendo? – perguntou a estranha.

Si-eun franziu o cenho, soltando o homem que segurava.

─ Tentando salvar alguém? – ela disse com uma pitada de sarcasmo.

─ Vá embora.

Abrindo a boca em choque com tamanha grosseria, Si-eun se preparou para retrucar, quando ouviu um dos homens que estavam ali começar a gritar e esbarrar nela. Olhando para trás, arregalou os olhos ao ver que o homem o qual tinha tentado salvar estava subindo novamente na grade de proteção da ponte.

Se movendo rapidamente, ela e o estranho que tinha a esbarrado o agarraram, tentando impedir o mais velho de pular. Entretanto, perdendo o equilíbrio e com o impulso ao qual se jogou em direção ao senhor, tanto ela quanto o outro jovem caíram juntos. Si-eun fechou os olhos, gritando de pavor ao cair. Afundando na água, ela começou a se arrepender de ter largado as aulas de natação que tinha feito quando era criança. Tentando subir de volta a superfície de uma maneira ineficaz, sentiu o ar se esvaindo de seus pulmões e seu corpo ficar pesado. E então, perdeu a consciência.

Si-eun gemeu, incomodada com o barulho repetitivo que ouvia.

─ Alguém desliga o despertador.

Bufando ao ver que o som continuava, ela abriu os olhos, se deparando com um teto branco. Confusa, ela olhou para os olhos, notando que estava em um quarto hospitalar. Retirando a máscara de oxigênio que usava, se sentou.

─ Merda. – murmurou, bagunçando o cabelo.

Si-eun tentou achar seu celular, mas falhou miseravelmente. Por quantos dias tinha ficado naquele hospital? Será que tinha perdido o emprego? O aluguel já estava atrasado, se ficasse desempregada teria que morar de favor com algum conhecido. E ainda tinha a conta do hospital... Já conseguia sentir a dor de cabeça surgindo.

Ela gemeu descontente.

─ Isso que dá me meter no que não é da minha conta. - reclamou.

Olhando para o lado, gritou ao ver uma pessoa parada ao lado da porta.
Com o susto, ela ficou de pé, se afastando o máximo possível da estranha, a reconhecendo como a mesma mulher do incidente da ponte.

─ O que faz aqui?! Quem te deixou entrar? – ela demandou saber, ainda se recuperando do susto levado.

A mulher não a respondeu, apenas desviou o olhar. Si-eun seguiu o olhar dela, curiosa, e teve que cobrir a boca com ambas as mãos ao ver o que a mulher estava olhando. Seu corpo, deitado na cama hospitalar, imóvel. Aquilo... era impossível! Só poderia ser um sonho. A menos que...

─ Eu morri? – perguntou, sentindo lágrimas se formarem em seus olhos.

Ela era tão jovem! Não poderia ser. Como a vida era injusta. Ela não tinha nem cumprido nenhuma de suas metas ainda, como poderia ter morrido?!

Dessa vez, recebeu uma resposta.

─ Não. – A mulher disse de forma tranquila, e deu alguns passos em sua direção.

─ E-então... o que é isso? O que está acontecendo?

Si-eun observou a desconhecida suspirar e a mostrar um crachá. Confusa, ela se aproximou da mulher para tentar enxergar o que estava escrito.

Koo Ryeon. Gestão de Almas, Jumadeung

─ Eu sou uma ceifadora. – a mulher respondeu, ao ver o olhar curioso de Si-eun. – E explicando de forma breve, aquilo que aconteceu na ponte mais cedo foi minha culpa. E infelizmente você entrou em coma por conta do acidente.

─ Coma?! – ela gritou. – Não, não, não...

─ Escute! Como é minha culpa, preciso que vá comigo para Jumadeung. Lá, a diretora vai decidir o que fazer com você.

Parando de andar, ela olhou esperançosa para a mulher.

─ Isso significa que eu posso não ficar em coma? Que ela vai me fazer acordar?

Sem deixar a desconhecida responder, Si-eun sorriu, batendo palmas, e foi em direção à mulher para abraçá-la, mas para sua surpresa, ela passou direto pelo corpo da estranha.

Abrindo a boca em choque, notou que estava no corredor do hospital. Se virando para trás, ela esticou o braço, tocando na parede, percebendo que conseguia atravessar a mesma.

Entrando no quarto novamente, ela falou animada:

─ É como se eu tivesse super poderes!

A estranha a olhou como se fosse maluca, e então estalou os dedos.

─ Pronto agora você tem um corpo. – falou, indo em direção à porta e a abrindo. – Sugiro não tentar atravessar mais paredes. Agora, vista o que está em cima da cama e me siga.

Fazendo um biquinho, Si-eun olhou para a cama ao lado da sua, vendo uma caixa. A abrindo, notou um vestido rosa estampado com algumas flores e um salto baixo branco.

Após se vestir, Si-eun saiu do quarto, tentando resistir a vontade de tentar atravessar as paredes.

Fio InvisívelWhere stories live. Discover now