- Achas que vais conseguir o emprego? – perguntou Luís. Ele, Érica e Alice estavam sentados em cadeiras, na parte traseira da casa dos pais de Luís e Érica. Tinham acabado por almoçar todos juntos e Érica contara como fora à entrevista de emprego, onde conhecera a mãe de Alice.
- Não sei. Acho que correu bem, mas tenho a certeza que há muita gente a tentar ganhar o emprego – respondeu Érica.
- Podias tentar falar com a tua mãe e convencê-la a dar o emprego à Érica – disse Luís, olhando para Alice, que estava sentada na cadeira ao seu lado.
- Luís, não lhe peças isso! – exclamou Érica, torcendo o nariz. – Desculpa, Alice, o meu irmão pensa que é assim, põe-se uma cunha dessa forma e pronto. Não, se eu conseguir o emprego, será porque a mãe da Alice achou que eu o merecia e não porque alguém andou a mexer os cordelinhos para que assim fosse.
- Eu também não gostaria de obter coisas só porque conheço alguém ou sou filha de alguém – disse Alice. Fechou os olhos por uns segundos. Estava-se mesmo bem ali, a apanharem sol, apesar de saberem que não deviam estar ao sol muito tempo, porque ainda estavam na hora de maior calor. Voltou a abrir os olhos. – Mas espero que consigas o emprego. A minha mãe gosta de trabalhar no supermercado. Eu só fui lá algumas vezes, visto que vivia noutra cidade, mas se calhar agora vou começar a passar lá com mais frequência.
- Mudando de assunto, divertiram-se no cinema? O filme era bom?
- Sim, era mesmo muito divertido – respondeu Luís. – E a companhia também foi muito boa.
- Mas apareceu lá a Bela – disse Alice. Luís ficou subitamente calado e Érica franziu o sobrolho. – Nós estávamos na fila para comprar pipocas, quando ela apareceu, com duas outras raparigas. E nem sequer falou ao Luís, mesmo ele tendo-a cumprimentado e eu... bem, talvez tenha perdido um pouco a cabeça, mas chamei-lhe mal-educada e ela não gostou.
- Fizeste mesmo isso? – perguntou Érica, com um sorriso rasgado no rosto. – Eu adorava ter lá estado, para ver a cara dela. Isto é, porque ela ainda tem expressões faciais, mas tenho a certeza de que vai crescer e ser uma daquelas mulheres que usa botox na cara. Tal como a mãe dela, que parece que não consegue ter uma expressão no rosto.
- Podemos não falar da Bela? – perguntou Luís. – A Alice já me disse o que tinha a dizer, deu-me conselhos... como tu, Érica. Parece que as duas estão de acordo que a Bela é uma pessoa terrível.
- Se é uma pessoa terrível para toda a gente, não sei, mas para ti é – disse Alice. – Ele está preso à ideia de a ter beijado e a fantasiar que vão ficar juntos, o que não faz sentido. Até o beijei, só para ele perceber que um beijo é só isso, não quer dizer que uma pessoa sinta algo romântico pela outra.
- Espera lá! Tu beijaste o meu irmão? – perguntou Érica, saltando da cadeira e olhando de um para o outro. – Passou-se tudo enquanto eu estava longe ou quê?
- Érica, não foi nada de especial. Eu não estou apaixonada pelo Luís, nem ele por mim, foi só para tentar que ele tentasse deixar a ideia do beijo da Bela de lado e nada mais. E agora, acho melhor sairmos do sol, antes que fiquemos esturricados – disse Alice. Os três voltaram a entrar em casa. – Se calhar, vou para casa. Obrigada pelo almoço.
Alice acabou por ir embora e Érica levou o irmão até à sala, onde o obrigou a sentar-se e a contar pormenorizadamente como fora a ida ao cinema, para tentar perceber se perdera mais alguma coisa importante. Luís, apesar de não estar muito entusiasmado para falar, acabou por o fazer, mas não havia muito mais que contar.
- Vês? A Alice tem a mesma opinião que eu. Esquece a Bela, de uma vez por todas. Olha a Alice, tão simpática e até já te beijou, além de viver mesmo aqui ao lado. É a namorada perfeita para ti!
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Vidas Entrelaçadas
General FictionRafaela e a sua filha Alice mudam de casa. Alice conhece Luís, o vizinho, da mesma idade que ela, que toca guitarra e os dois tornam-se amigos. Já Rafaela, está preocupada com a irmã, Neusa, que é vítima de violência doméstica. A vida delas vê-se en...