Eu podia viver com as migalhas. Eu podia. É o que eu rogo para mim mesmo feito uma oração.

Qualquer coisa para me impedir de fazer uma loucura.

Como de declarar a plenos pulmões para a diabinha que habita cada um dos meus pensamentos.

- Você é patético. - Natália diz, revirando os olhos. Mas posso ver o pequeno sorriso que ela tenta esconder. Todo mundo da família parecia muito determinado a saborear cada pedacinho do meu sofrimento.

- Não finja que não está adorando cada segundo disso. - Resmungo, e ela abre um sorriso.

- Adorando? Ver o grande Salvatore, Mestre dos Mestres, Eu quebro, Eu destruo - Ela diz, forçando uma voz grossa patética que eu acredito ser a minha - Sou uma muralha, nada me abate, sofrendo?! Por uma mulher?! E sendo covarde?! - ironiza. - Imagina! Nunca!

- Pelo visto Portugal não matou a ironia que vive em você. - debocho, com minha expressão fechada.

- Não é nada irônico, Salvatorezinho. - Ela diz, apertando meu nariz. - É patético. Está com medo de perder o complexo? Ser um profissional de merda? Não acredito nem por um segundo nessas desculpas. Sua família pode acreditar, Maria pode acreditar, porque sua carreira é uma parte muito importante na sua vida. Mas não eu. Eu não compro nem por um segundo essa ladainha de que a disciplina, regras, foco, sei lá mais que merda você disse é mais importante do que aceitar que você está apaixonado. Que pode fazê-la muito feliz.

E eu não consigo controlar a careta que faço com a menção da última parte. A que doía mais do que todas as outras.

- O que? - Natália pergunta. E então sua expressão se acende em surpresa genuína. - Não acha que pode fazê-la feliz?

E eu tiro meus olhos dos seus, sentindo a vergonha se espalhar por meu corpo.

- Salvatore... - Natália diz, suavemente, colocando a mão pequena em meu ombro em apoio.

Sinto um nó patético se formar em minha garganta.

- Não sou bom o suficiente, Nat. - Solto, angustiado. - Não tenho nada para oferecer, não sei como não a machucar. Não sei como fazer um relacionamento funcionar. E acho que sou fodido demais para isso. Egoísta, mandão, controlador. Maria merece suavidade, merece abnegação. Ela já sofreu muito. Por merdas que eu nem compreendo. Ela merece ser minha prioridade. Não sei como colocá-la em primeiro lugar e é isso que ela merece. O primeiro lugar.

E Natália me olha com empatia pela primeira vez desde que chegou, parece entender o meu lado.

- Sei que não adianta contrariar tudo que você acabou de dizer, mas Salvatore, você precisa dar um passo para trás e ver a situação como um todo. Precisa para de ver apenas por sua própria ótica. Se confia em mim, precisa confiar no que vou te dizer agora: Ninguém, absolutamente ninguém, faz Maria Clara se iluminar de felicidade como você faz. Ela está machucada, e mesmo assim, basta que você se aproxime, basta que abra a boca, e lá está, estampado em todo o rosto dela. Você pode fazê-la feliz. Você não precisa ser perfeito para amar alguém. Só precisa amar. E você é bom em amar, querido. - Ela diz, com um sorrisinho que me faz sorrir também.

Eu respiro fundo, ainda perdido na confusão dos meus sentimentos.

- Senti sua falta, sua megera. - Digo, beijando sua mão. Natália estava entre meus melhores amigos.

- Claro que sentiu. - Ela revira os olhos, mas está sorrindo. - Pense sobre o que eu disse. E vá treinar um pouco, colocar essa confusão para fora.

E isso é exatamente o que eu faço.

REDENÇÃO - Irmãos Fiori: Livro III - COMPLETOWhere stories live. Discover now