Primeiro

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Continuação de Carmesim. Recomendo a leitura dela primeiro.

Certos dias, sentia-se muito mais velho do que era e tinha a certeza de que ter pouco ou muito tempo de carreira não significava nada quando se deparava com casos como aquele. Kakashi acreditava que o verdadeiro preparo naquela profissão era, justamente, saber que nunca estaria preparado para tudo.

— A polícia ambiental está aqui.

O legista assentiu em reconhecimento ao aviso do policial e deixou o corpo da vítima de lado. Seu relatório estava pronto, mas ele não se sentia satisfeito. Sentia que estava perdendo algo e teve a necessidade de avaliar, de verificar novamente.

Nada novo.

Ele se deu por vencido, então, ainda contrariado e torceu para que a polícia ambiental lhe trouxesse alguma novidade.

Com as mãos higienizadas e trajado em roupas limpas, ele se dirigiu à própria sala, o olhar sendo atraído para o oficial que lhe esperava em frente a porta, o nome Uchiha na farda.

— Kakashi Hatake?

Ele assentiu e destrancou a porta em silêncio, segurando-a aberta para que o outro entrasse.

O ambiente estava tão frio quanto a sala em que trabalhava, ou talvez fosse a sensação que sentia em seu interior. A agonia de não ter uma resposta clara para uma morte lhe perseguia.

Ele deixou um par de luvas ainda embalado sobre a mesa, na qual tinha uma amostra que deveria analisar ainda naquele dia antes de pegar o documento dentro de uma das gavetas.

Quando entregou o relatório ao policial, observou suas feições de forma atenta. Ansiava por uma resposta ou, ao menos, por um olhar semelhante ao seu.

O que teve, porém, não lhe trouxe nada mais do que estranhamento.

O Uchiha folheava o relatório com uma expressão neutra, como quem lida com algo do tipo de forma recorrente. Não era o caso. Não podia ser o caso. Kakashi morava em Konoha desde o dia em que nasceu e nunca tinha visto nada parecido.

Ele considerou a possibilidade de que a polícia tivesse optado por esconder casos como aquele para não apavorar a população, mas parecia improvável.

— Obrigado. Agora cuidaremos disso.

A voz rouca despertou Kakashi de seu torpor.

— Espera.

O homem parou, próximo à porta e o olhou por cima do ombro, a curiosidade estampada em suas feições.

— Você sabe com o que estamos lidando?

Talvez sua voz tivesse soado angustiada, aflita ou demonstrasse qualquer um dos sentimentos conflitantes que sentia em seu interior, pois o homem se virou completamente, a expressão levemente surpresa.

— Não precisa se preocupar — Ele disse pausadamente, como se refletisse se eram aquelas as palavras ideais a dizer enquanto as proferia — Não haverão mais vítimas.

Não, não eram e Kakashi sentiu o cansaço e a frustração lhe consumirem de uma vez por todas.

— Como pode ter tanta certeza se nem sabe o que é?

O outro pareceu atônito com o tom ácido e entreabriu os lábios, interrompendo a si mesmo quando Kakashi se aproximou em passos lentos, parando a poucos metros de distância, o olhar fixo no seu.

— Ou sabe?

— O que está insinuando? — A voz do Uchiha soou séria, ainda mais rouca devido ao tom baixo, apesar disso, havia um brilho em seus olhos que se confundia entre malícia e divertimento. Kakashi sequer se mexeu, ousando, ainda, encará-lo com desconfiança.

Encarnado - ObiKakaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora