Ayumi-san tinha os cabelos pintados de lilás e um rosto infantil porém confiante. Uma beleza infinita se encontrava em seus olhos castanho escuros e seu corpo longo.
- Tako-chan! Quanto tempo, maninho! -senti os braços dela envolverem minha cintura e eu retribuí o abraço- Você cresceu bastante, né? Trouxe um amigo também? Uau, você é bonito! -ela comentou sem reconhecer o Yukki-Vamos, entrem! A mamãe está te esperando, Tako-chan!
Sem me dar nem tempo de responder, ela me puxou pelo braço e fechou a porta de madeira depois que Yukki entrou também. Tiramos os sapatos e fomos até a sala de estar, nos curvando respeitosamente para a figura de cabelos grisalhos que se sentava no sofá.
- Konnichiwa, okaasan. -a mulher de meia idade se levantou e apoiou as mãos em meus ombros- Realmente faz muito tempo que não nos vemos.
- Sejam bem vindos, meus filhos. Mas isso não importa agora, okay? Sem necessidade de cumprimentos especiais. -ela me olhou com um semblante sério- Temos outros assuntos mais importantes para tratar neste momento.
O rosto de minha mãe se encontrava mais sério do que eu poderia ter imaginado em minha vida. Ela não parecia brava mas sim, preocupada.
Um sentimento de tristeza invadiu o local. Ayumi-san se posicionou ao meu lado e meu acolheu em seus braços mais uma vez, apoiando minha cabeça em seu ombro.
- Quer que eu conte para ele, mamãe? -ouvi minha mãe dar um suspiro pesado- Fique à vontade então.
A senhora grisalha se aproximou e colocou a uma mão em meu ombro. Logo depois ela pegou em minha mão e me separou da minha irmã ao me levar para o sofá. Ela suspirou fundo mais uma vez e olhou em meus olhos.
- Recentemente, a gente viu que passam cada vez mais coisas sobre o mundo LGBT na televisão. E isso nos lembrava de você, é claro. Com mais informação nós vimos que realmente não fazia sentido termos te repreendido e te expulsado de casa daquele jeito tão cruel... Com certeza quem se sentiu mais culpado foi o seu pai. Ele anda muito depressivo por causa de disso. Isso pode soar um pouco egoísta mas nós queremos que você fique para o jantar e converse com o seu pai. Nós estamos muito preocupadas com a saúde mental dele... E a física também! Ele está bebendo demais...
O silêncio então reinou no cômodo e a atmosfera ficou pesada. Virei minha atenção para Ayumi-oneesan e vi seus olhos enchendo de lágrimas enquanto Yukki tentava consolá-la. Apenas neste momento é que eu consegui perceber a gravidade do caso.
- Tudo bem, okaasan. -acariciei levemente suas mechas brancas e a puxei para uma abraço- Eu vou conversar com o otousan.
Senti seus braços me apertarem mais e finalmente me dei conta do quanto eu sentia falta daquele carinho... Meus olhos já estavam marejados quando Ayumi veio até nós e se juntou ao abraço.
- Eu estava com saudades, okaasan. A senhora nem imagina o quanto eu senti falta de vocês todos.
- Também estava com saudade de você, meu filho. -a cada palavra, minha dor no peito aumentava- Você sabe que eu te amo...
Depois de umas duas horas conversando, minha mãe e minha irmã pareciam estar mais à vontade para dizer o que achavam de tudo o que eu fazia. Contei que agora faço faculdade de teatro e que tenho meu próprio apartamento. Contei também sobre o Yuuki e como ele me ajudou a juntar coragem para ser o que sou.
Assim que minha mãe começou a preparar o jantar, meu pai chegou... Bêbado, nem percebeu minha presença ou a do Yukki e cambaleou até seu quarto, onde dormiu instantaneamente.
Eu e minha irmã nos entreolhamos e ela se levantou para levar um copo d'água para o pai. Instintivamente, me levantei para ver como estava minha mãe na cozinha.
Vendo que aquilo não iria muito longe, apenas ajudamos minha mãe com o jantar para logo voltarmos para casa. Ela organizou alguns bentôs para viajem e nos fez prometer voltar para visitá-la algum dia. Já minha irmã me passou seu contato e disse que me atualizaria com frequência sobre tudo o que acontecesse.
Chegando em casa, Mochi nos recebeu ronronando com fome e só então percebi que a casa estava uma baderna. Yukki colocou mais ração e água pro felino e então fomos dormir sem nem mesmo comer os bentôs ou tomar banho.
KAMU SEDANG MEMBACA
Behind The Curtains (There's a Soul)
Fiksi RemajaEssa é uma história que conta a minha história por trás das histórias que já interpretei. Afinal, atrás de todo personagem, há uma alma. Atualizado a cada duas semanas, segunda-feira.