O que acontece quando você enfrenta cara a cara o tão temido Grão-Senhor da Corte Noturna?
Rue é uma mulher destemida que está lutando todos os dias para se ver fora da Cidade escavada junto com seus dois irmãos, e em um dia de fuga, ela acaba se m...
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Os murmurios aleatórios cessaram quando viramos o corredor iluminado pela luz do sol recém nascido. A grande mesa recheada por comidas entrou no meu campo de visão assim como o cheiro de ingredientes diferentes em perfeita combinação que foi inalado por mim quando entrei finalmente na sala com Azriel logo em seguida.
Minha visão saiu dos alimentos, subindo para o macho com a camisa social escura de mangas dobradas até o cotovelo deixando as tatuagens do antebraço expostas. Seus fios de cabelos ainda molhados do que pareceu ser um recém banho caiam para o lado. Rhys parou a xícara próximo a boca enquanto me avaliava de cima a baixo como se eu fosse alguma novidade para ele ou talvez surpreso por me ver usando uma roupa sua sem permissão.
Canalha. Pensei.
E sorriu de lado, levando o líquido a boca como se tivesse acabado de ler meus pensamentos.
— Bom dia. - Cumprimentei-os indo para o mais longe possível da ponta da mesa onde estava o Grão-senhor. Por um mísero instante a vontade de voltar para o meu quarto era maior do que qualquer outra coisa diante das minhas obrigações.
— Vai treinar de moletom? - Cassian perguntou direto antes mesmo que eu pudesse sentar-me junto a eles. O pão recheado invadiu sua boca como se a fome matinal pudesse mata-lo se não fosse saciada logo.
Inalei o máximo de ar possível pela pergunta vinda dele.
Só havia os três machos, eu e a fêmea de olhos de gelo sentados a mesa. Ela era parecida com Feyre, seus cabelos presos em uma tiara de tranças bem feitas e reluzentes pelos fios bem cuidados a deixava como uma autoridade exuberante, forte e perigosa.
— Não há regras de vestimentas. - Foi Azriel quem disse antes mesmo de eu abrir a boca, fazendo minha atenção sair da fêmea e se voltar diretamente para ele. — E você sabe disso.
Cassian arqueou a sobrancelha e me examinou durante longos segundos, depois voltou a gloriosa atenção para o prato a sua frente.
E não, existe sim uma regra de vestimentas para treino e eu sabia muito bem disso. Cresci vendo alguns machos que Pou treinava totalmente vestidos de forma adequada. Não sei o motivo de Azriel falar tal coisa, mas sentia que ele estava ciente de algo e isso me deixava preocupada.
— Me passe o mel, Cassian. - A voz firme da fêmea ecoou parecendo não ligar para a conversa aleatória que surgiu à mesa, como se estivessem atrapalhando seu momento de refeição.
— Poderia deixar esse mel para a noite, linda. - Murmurou com o sorriso de lado alto o suficiente para que eu escutasse. Eu e todos a mesa já que notei os olhos do Grão-Senhor se revirar perfeitamente. — Ele ficaria ótimo em um determinado lugar Nestha.
— Pelo caldeirão. - Ela falou soltando da cadeira sem ao menos ficar vermelha de vergonha com o comentário, ao contrário de mim, que cheguei a sentir minhas bochechas arderem com tal coisa falada tão abertamente. — Tome vergonha seu bastardo idiota.
E saiu sem ao menos terminar seu café.
— Não da pra ser um pouco cavalheiro na frente de outra fêmea? - Rhys comentou colocando algo na boca. Não cheguei a olha-lo, mas sabia que sua atenção estava em mim e era perceptível o rubor na minha bochecha.
Cassian apenas deu os ombros, me ignorando ali como se não fizesse diferença para ele. Eu sabia que muitos ainda não estavam gostando da minha presença naquela casa, muito menos aceitando meu trabalho tão próximo da administração de uma Corte.
Tinha total ciência dos rumores sobre minha reputação na Cidade Escavada, e Pou fazia questão de não ajudar nisso.
— Preciso que vá ao acampamento Illyriano apois o café. - Rhysand soltou batucando os dedos sobre a madeira, atraindo minha atenção para as veias saltadas da sua mão e os anéis que também davam a ele total poder.
Os dedos subindo de descendo me fizeram parar de prestar atenção na conversa aleatória que surgiu sobre machos e soldados do acampamento.
Meus pensamentos logo se voltaram para o dia que fizemos o acordo e a tatuagem em minhas costas surgiu. Era um costume da Corte Noturna, todos os acordos eram selados por uma tatuagem, foi somente ali que eu sabia que Rhysand cumpriria sua promessa em proteger a mim e minha família, e mesmo contragosto em confiar no macho mais poderoso do mundo onde com um só estralar de dedos poderia me matar, me agarrei a esse acordo porque minha família dependia disso. Eu dependia disso.
— Não concorda Rue? - A voz grossa de Rhysand ecoou me tirando do transe. Olhei para os lados e só havia nós dois. Cassian e Azriel não estavam mais aqui e ao menos notei suas saídas.
— Perdão? - Perguntei envergonhada por notar que ele percebeu meu olhar em seus dedos.
Rhysand soltou uma risada, levando a xícara novamente até a boca.
— Minha roupa ficou ótima em você. - Sussurrou.
— Não é como se tivesse muitas opções. - Murmurei de volta, dessa vez voltando minha atenção para o café.
— Não é como se você quisesse muitas opções. - Rebateu em desafio.
Ergui minha cabeça devagar, avaliando o Grão-Senhor a minha frente que me olhava atento a todo e qualquer movimento, inclusive quando meus dedos tocaram a faca de metal próxima ao meu prato.
O silêncio bastou para que Rhysand entendesse que naquele momento eu não queria nenhuma outra conversa sobre isso. O fato de está dormindo em sua cama já é um grande desafio para mim.
O fato de está na presença de outros machos já é um grande desafio...
— Azriel lhe espera na sala de treinamentos no andar de baixo. - Disse mudando de assunto.
Apenas assenti, voltando minha atenção para o prato vazio em minha frente.
Eu sabia que não deveria fazer isso, mas de forma impulsiva, levantei da cadeira, pedi licença e parti para a sala de treinamentos sem comer nada. Rhys não podia saber que sonhei com ele, sequer desconfiar disso.
Escutei um murmurio vindo dele assim que atravessei o corredor, praticamente correndo, e o laço sendo puxado.
"Deveria comer antes de treinar" Disse baixo, como se tivesse com medo de atravessar minha mente.
"Não estou com fome." Soltei.
"A única coisa que comeu desde que acordou foi carne e pão, deveria se alimentar melhor antes de fazer esforço." Se preocupou
— Pensei que fosse demorar mais. - A voz de Azriel ecoou pelo salão assim que atravessei a porta. Seus braços cruzados e postura ereta o deixava ainda mais alto e tenebroso.
— Comi rápido. - Menti.
Sua sobrancelha se arqueou como se soubesse que aquilo não era nenhum pouco verdade. Azriel tinha seu jeito intimidador, como se estivesse sempre preparado para descobrir todos os seus segredos e isso me deixava desconfortável.
— Se alongue. Vamos começar. - Deu a ordem. ____________________________________________
