Quero falar sobre amor. Sobre as palavras proibidas que um dia engoli como veneno, junto às pílulas e aos líquidos esverdeados em potes de vidro.
Sobre o sentimento doce e posteriormente doloroso que rasga meu coração sempre que penso nela.
Sempre que penso em tudo que perdi quando minha amada partiu.
Sempre que abro os olhos de manhã e arranho minha pele, tentando aliviar o frio que balança meus ossos. Mesmo com o sol queimando lá fora. Mesmo que eu tenha uma coroa para carregar.
Quero apenas desistir disso, desistir de seguir adiante porque sem ela, nada tem sentido. Estou vazio e cansado, sangrando por dentro e ninguém consegue me ajudar.
Sequer sei se quero ajuda.
Quero falar sobre amor. Toques gélidos na brisa de outono, sob a chuva marrom das folhas das árvores e palavras sussurradas atrás das macieiras.
Minha amada cantava para mim nos dias quentes e se aconchegava ao meu corpo nos dias frios.
Aproveitamos a juventude como ela nos foi oferecida, sob ameaças e proibições, amamo-nos como nos livros, poemas e cânticos trovadorescos.
Era feliz com ela ao meu lado, mesmo sob a perspectiva de perder tudo que eu conheci desde que nasci.
Não entendia o que era amor até ser confrontado por ele.
Quando meu coração passou a bater no compasso de outro e esse outro podia ser tudo, menos meu.Escolhi lutar por isso e batalhei ferrenhamente até meu último suspiro, mesmo quando minha amada já não existia deste lado.
Pensar sobre isso me deixa enjoado, tonto, perplexo.
Pensar sobre isso me destrói, pois conheci o próprio inferno quando me vi sozinho dentro das quatro paredes cinzas.
A cor arrastando a lembrança do que restou da mulher que amei.
Dilacerando-me.
Pisando em cada pedaço.
Resisti sem vontade.
Existia sem propósito.
Sobrevivi de forma forçada, contudo, jamais aceitei ficar sem ela.
E por isso, destruí a vida daqueles que ousaram tirá-la de mim.
Para que sofressem o que sofri.
Para que chorassem lágrimas de sangue, as quais usei para lavar minh'alma.