o céu

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Tayla Ships

Tudo parecia estar distante, parecia um espaço sem fim em um quarto cheio de coisas. Minhas coisas aliás.
Bati meus dedos no celular que estava acima da cômoda ao lado de minha cama, em uma tentativa falha de calar o despertador ambulante que eu mesma coloquei ontem de noite. Droga, Tayla, droga.
O celular deslizou entre meus dedos e caiu no tapete de pelos do chão. Pelo menos o despertador parou.

– Tayla – ouvi a voz suave de Mira ecoar do lado de fora do quarto – Seu despertador está tocando faz minutos. Vamos, você vai nos atrasar.

Revirei o corpo nos meus cobertores até que eu estivesse olhando para o teto. Para meu teto pintado em um tom de azul escuro, como o céu de noite. Pintado anos antes pelo meu pai, quando me mudei para cá.

– Tayla?! – Mira deu três toques na porta – Está acordada?

– Estou – respondi em um tom preguiçoso – já estou descendo.

– O café vai esfriar, só avisando – Ela sussurrou e escutei seus passos se afastando da porta.

Apoiei meus cotovelos, me forçando a abrir os olhos que pareciam se fechar sozinhos. Os primeiros raios de sol do dia entravam pela fresta da cortina. Joguei minha cabeça antes de levantar e pegar minha calça moletom marrom escura — que foi a primeira calça que encontrei em cima da cadeira da minha escrivaninha – e procurei uma blusa preta de manga longa que cobria até o pescoço dentro de meu guarda roupa embutido. Peguei minha mochila e desci as escadas que levavam até a cozinha.

Dei uma olhada rápida na mesa retangular de madeira e encontrei a ruiva dos olhos azul esverdeado que me chamou mais cedo, sentada no banquinho ao lado direito do móvel. Mira segurava uma xícara branca com um rótulo de chá.

– Panqueca quentinha saindo! – Caleb gritou enquanto virava uma massa branca na frigideira

– Bom dia, Caleb – sussurrei me sentando no banquinho na ponta da mesa

– Ah! – o garoto de pele escura virou o pescoço e me olhou rapidamente – Bom dia Tayla, dormiu bem?

– Caleb já está cantando aos quatro ventos enquanto cozinha? – o garoto de cabelo preto bagunçado falou enquanto terminava de descer as escadas

– A cantoria não começou ainda, Dylan – Mira levantou a xícara em direção a Dylan

Ainda querida Mira, ainda – Caleb colocou mais massa na frigideira

  Dylan deu a volta na mesa e passou seu braço por minha cabeça, dando um beijo longo em minha testa.

– Bom dia pequena – ele se afastou bagunçando meu cabelo e sentando ao lado de Mira

– Bom dia, fedido – franzi o nariz e passei os dedos entre meu cabelo solto

  Caleb se virou em direção a mesa, apoiando a frigideira em um prato e passando as panquecas para outro. Mira pegou uma panqueca e passou o prato para Dylan, que pegou duas e passou o prato para mim.
Finquei duas panquecas com o garfo e passei para meu prato. Olhei para o prato com três panquecas sobrando.

– Devo tocar o sino? – Dylan perguntou de boca cheia, olhando para mim.

– Não, eles que se atrasem. – Bebi um gole do leite quente que Mira havia deixado ali na mesa antes de eu descer

– Eu ouvi, Tayla – um par de pés com tênis bege apareceu descendo as escadas.

A inconfundível voz de James.
O garoto alto de cabelo loiro andou em minha direção com um sorriso sarcástico e pegou minha xícara, tomando um longo gole.

– James! – pulei do banco e recuperei minha xícara enquanto James se sentava no banquinho ao meu lado e arrastava uma panqueca para seu prato

– Obrigada vossa graça – James apontou com a cabeça em direção a Caleb – sem cantorias hoje?

– Cadê Lya? – perguntei, encarando as duas panquecas restantes

– Está descendo, pequena. Não se preocupe – James piscou um olho para mim enquanto colocava mais leite na minha xícara.

Fiz uma careta para ele, pegando a xícara e estendendo para ele colocar mais.

Caleb tirou o avental branco e o pendurou  no gancho ao lado da pia da pequena cozinha e se sentou na outra ponta da mesa, se servindo do conteúdo de sua xícara branca estampada com "Culinária por Amor de Vó". 

  A mesa ficou silenciosa por alguns minutos enquanto todos comiam, eu olhava para a escada de segundo a segundo para verificar se Lya estava descendo.

  Os passos da garota de cabelo comprido ecoaram pelo cômodo, suas botas brancas de salto médio preencheram o silêncio. Conti um sorriso e lancei meu olhar para a mesa quando ela se sentou ao lado de James e colocou sua mochila no pé.

– Bom dia, Lysandra – Dylan falou com a boca cheia, empurrando o prato em direção a garota de pele escura.

– Bom dia, Dylan – Ela abriu um sorriso sarcástico e Dylan conteve uma risada. Todos sabem que Lya odeia que fale o nome dela. – Bom dia, pequena, dormiu bem? – ela olhou para mim.

– Hum? – olhei de soslaio para ela por cima da panqueca que eu mastigava – Bom dia Lya... – Abri um sorriso sem dentes, a boca ainda cheia.

Ela soltou uma risada breve e voltou a atenção as panquecas quase frias na sua frente.

Todos na mesa. Todos que moram aqui em casa, todos tomando café juntos no início de uma sexta feira, que é o dia em que tomamos café juntos, o dia em que Caleb prepara panquecas ou omeletes para nós, o dia em que Mira faz leite quente, chá e café para todos. O dia em que, à 3 anos, é o melhor dia da semana. 

Caleb é o mais velho de nós, com 20 anos e no segundo ano da faculdade, Lya é sua irmã mais nova, de 17 anos, que estuda comigo, James, Dylan e Nathan. Mira, a ruiva de 19 anos que passou na faculdade de Psicologia no começo do ano. Dylan, meu irmão mais velho por 17 segundos de diferença, os mesmo olhos azuis e cabelo preto ondulado que o meu. Nathan, de 17 anos, que está fazendo intercâmbio faz dois meses para fora do país.

Moramos em uma casa comprada pelos pais de Caleb e Lya quando Caleb fez 16 anos e decidiu que queria "a casa em alguma montanha de Los Angeles" em vez de um carro. Então os pais deram a casa e os avós deram o carro. Justo.

James se levantou e o banquinho fez um estalo, me tirando de dentro dos meus pensamentos.
Ele andou até a porta e pegou a chave de seu carro, olhou para Lya e para Dylan em um comando silêncio que dizia "vamos". 

Me levantei e peguei meu cardigã pendurado atrás da porta antes de olhar para Caleb e Mira e mandar um beijo, e então, fechei a porta atrás de mim, a placa escrito "Céu" balançou na porta e desci depressa a escada que levava até a garagem.


O Que Acontece Fora do CéuOnde as histórias ganham vida. Descobre agora