2. I AM ALL I GOT

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MIGUEL DIAZ BATEU com a testa na porta de madeira. Estava ponderando — na verdade, esteve ponderando pelos últimos dias — se deveria deixar a segurança de seu apartamento para ir atrás de seus amigos.

Durante quase quatro meses, ele conseguiu racionar a comida de casa o suficiente para não morrer de fome, apesar de estar constantemente com a sensação de queimação no estômago. E duas semanas atrás, quando comeu a última ervilha da última lata, ele finalmente encontrou coragem para sair de casa.

As coisas não saíram como planejado. Mas apesar de quase morrer por meia dúzia de latinhas de atum, Miguel conseguiu voltar para casa acompanhado de dois garotos que deveriam ter a mesma idade dele e que estavam tão perdidos (senão mais) quanto ele.

Um deles era absurdamente quieto e o outro simplesmente não sabia a hora de calar a boca, mas eram garotos bons. Garotos como ele, que haviam perdido sua família para a selvageria do mundo.

Se Yaya ou mamãe voltariam por ele algum dia, ele não sabia. Era pouco provável, dadas as circunstâncias. Ainda assim, desde que o mundo virou de cabeça para baixo, ele se pegava todos os dias olhando por uma fresta na janela do apartamento minúsculo que havia se tornado sua prisão.

Durante quatro meses, ele havia ficado sozinho. E agora que Demetri e Eli foram embora, ele estava de volta à estaca zero.

Miguel sabia que deveria ter ido junto com eles. Ele deveria ter insistido mais. E daí que ele tinha torcido o calcanhar? E daí que você vai nos atrasar, disse Demetri, sempre racional, mas com a delicadeza de um coice de cavalo. Mas eles haviam o prometido que voltariam logo.

Quanto tempo era logo? Algumas horas deveriam ser suficientes para que eles buscassem os suprimentos, mas as horas se acumularam em um, dois, três dias. E nenhum sinal deles.

Agora eles eram só mais pessoas pelas quais olhava pela janela e esperava.

Miguel se sentia impotente diante de tudo. Desamparado, fraco, desprotegido. Era só um reflexo do garoto que sempre havia sido, só que em vez de valentões, agora ele era alvo de mortos-vivos.

Já tinha passado da hora de tomar uma atitude para corrigir isso. Por isso, Miguel cerrou os punhos e marchou até o quarto. Pegou a mochila que tinha comprado para ir à escola e a vestiu nas costas, decidido a finalmente dar a ela alguma utilidade. Na cozinha, pegou um facão. E de volta à porta de entrada, pôs a mão na maçaneta.

É agora.

(Só mais um minuto.)

Agora vai!

Agora!

Ok.

Ele não podia fazer isso. Era muita loucura. Era muito perigoso.

Eli e Demetri foram sozinhos. Por que você não pode ir?

Bom, eles não voltaram, não é? Vê se pega a dica, Diaz.

E se ninguém vier? Você vai continuar nesse apartamento para sempre? Você é tudo que você tem. Não dá pra contar com mais ninguém, porque nesse mundo as pessoas vão embora e não voltam mais.

Miguel sentiu seu estômago embrulhar. Talvez fosse a fome acumulada. Talvez fosse o asco de ter que lidar com a cruel realidade e saber que, de fato, ele era tudo que tinha. Então ele repetiu como um mantra: eu sou tudo que eu tenho.

Finalmente abriu a porta com força (má ideia), fazendo com que ela batesse contra a parede (muito má ideia) fazendo barulho que provavelmente seria o suficiente para atrair os mortos-vivos de perto (sabe o que não seria má ideia? Abortar a missão). No entanto, quando viu que o pátio continuava tranquilo e sem nenhuma ameaça aparente, Miguel tomou coragem e pôs os pés para fora, erguendo o facão na altura de seu rosto enquanto escaneava os arredores.

Tudo parecia tranquilo por ali. Era melhor que ele se mexesse logo antes que as coisas ficassem agitadas.

Na ponta dos pés, Miguel fez seu caminho para fora do complexo de apartamentos. Nada mal. Nada mal mesmo. Você está indo bem, Diaz. Continue!

Quando ouviu os ganidos estridentes de um morto-vivo atrás de si, Miguel saltou e deu um berro, virando-se imediatamente para a fonte do barulho. Felizmente, o zumbi estava preso sob a lixeira e não parecia ser capaz de sair dali sozinho. Miguel suspirou, aliviado.

Ele precisava ser menos barulhento se quisesse sobreviver ali fora. Gritar por ajuda não era uma opção, afinal, ninguém viria correndo lhe ajudar.

Ele era tudo que tinha.

The Badass School of Zombie Killers | Cobra KaiWhere stories live. Discover now