O homem danou-se a falar mais uma vez. Zayn ainda nem tinha se conformado de que sua ironia fora interpretada para o sentido literal e não prestou atenção em metade do que Avery falava. É sempre constrangedor quando não entendiam suas ironias; e não era obvio que ele estava cansado, Deus do céu?

- São quatro apartamentos por andar? - ele perguntou interrompendo seja lá o que o síndico falava.

Não queria ser rude, mas se ouvisse mais tagarelices ele sentia que iria enlouquecer. O senhor Avery, no entanto o olhou estranho e respondeu:

- Exatamente, senhor Malik. Foi o que acabei de dizer nesse instante.

- Oh, desculpe. - disse completamente desconcertado - Acho que me distraí com a decoração do corredor. - mentiu apontando para as paredes brancas que não tinham nada demais.

- É interessante o senhor falar sobre isso porque...

Ele mereceu ouvir mais um discurso sobre a cor pintura das paredes e o transtorno que foi decidir pela troca dos rodapés, dos pisos do carpete para a madeira e a história de quando tiveram um problema com a tubulação do aquecimento. Zayn pouco importava que o carpete fora trocado por piso de madeira por causa do perigo dos ácaros que atacavam a alergia das crianças do prédio e que por isso agora eles tinham um adicional no aluguel para a dedetização contra cupins. Ele só queria conhecer o bendito apartamento, mas por ter sido indelicado da primeira vez, agora merecia ouvir aquilo tudo e fazer uma cara de quem estava muito interessado.

E finalmente, depois de um longo discurso onde só um estava animado, o síndico deixou o papo de lado e abriu a porta do apartamento 82 onde Zayn pretendia viver. No final valeu a pena tudo o que passou. Era um lugar bem espaçoso para um solteiro: um conjugado de cozinha e sala, um quarto e banheiro. Já vinha mobiliado bem de acordo com o que constava no anuncio, os moveis não eram as mil maravilhas, é claro, um tanto quanto antigos e vitorianos demais, Avery inclusive comentou que a antiga moradora era uma senhora idosa que faleceu e não como não tinha herdeiros deixou toda a mobília e eletrodomésticos ali e que Zayn poderia trocar os moveis se assim o desejasse. Mas ele achou incrível ter encontrado uma vitrola compondo decoração da sala. Se estivesse em bom estado era uma coisa a menos para comprar

Naturalmente o síndico emendou a conversa em outras informações dispensáveis sobre a tal moradora e seus hábitos, mas o rapaz de acabou se distraindo mais uma vez, agora com a encantadora vista da varanda. Dali poderia enxergar o parque da região, as casas e prédios vizinhos com aquela arquitetura tão particular de Londres, arvores aqui e ali, além de muitos carros, ônibus e pessoas apressadas. Ele sempre pensou que a capital do país era apenas mais uma cidade grande como outra qualquer. Cheia de prédios antigos entre prédios novos, pessoas mesquinhas e muita correria. Mas ali, olhando aquela vista tão singular Zayn duvidava que poderia existir no mundo algum lugar mais encantador; não havia nada de extraordinário naquele cenário onde o cinza predominava sobre qualquer outra cor, mas de alguma forma o inspirava como sua terra natal e a cidade onde passou a morar com Liam jamais conseguiram.

- Vou ficar com o apartamento - ele disse, cortando Avery ao voltar de seus devaneios.

- Oh, desculpe, o que disse? - perguntou, pois estava tão entredito no que contava que nem se deu conta de que Zayn não estava mais na cozinha e sim na varanda da sala.

- Disse que vou ficar com o apartamento - repetiu saindo da varanda.

- Foi seduzido pela vista, não é mesmo? - disse Avery entusiasmado e Zayn acreditava que aquele homem era quase sempre assim.

Ele assentiu brevemente e Avery se aproximou do jovem, dando dois tapinhas no ombro dele.

- Sabia. Isso porque o senhor não viu a noite. É fantástico mesmo que estejamos um tanto distantes do centro. - comentou o homem radiante - Sabe, senhor Malik, eu vivo aqui em Londres à mais de trinta anos. Sai lá de Lisboa achando que viria só a passeio, morar um ano ou dois e voltar para casa. Essas coisas de jovens que adoram pular de galho em galho. Mas quando coloquei meus pés aqui e dei uma boa olhada na vista - ele deu um profundo suspiro e sorriu - Eu simplesmente me apaixonei e não quis mais saber de outro lugar para viver.

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