pandemic.

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Infelizmente todo o discurso de Chan – roubado de si mesmo e roubado de Changbin antes disso – sobre dar tempo ao tempo teve uma validade curtíssima e, faltando só uma semana para as provas de aplicações para a faculdade, Felix jura por Deus que todos os seus músculos envelheceram dez anos no último mês. Uma das bibliotecárias - a mais nova, usando uma máscara engraçadinha de pêssegos - o encara com bastante pesar, afinal o australiano não é o primeiro jovem na casa dos vinte a aparecer por ali hoje, os olhos fundos com bolsas escuras pendendo, e levando pra casa três livros absurdamente gigantescos.

Ele conseguiu fazer um acordo com a novata – e isso o faz pensar como deveria urgentemente aprender o nome dela – e com Jisung para que não tivesse que trabalhar nesses últimos quatro dias, mas a verdade é que o tempo extra parece dar ainda mais espaço para recomeçar com suas paranoias.

O ponto é: Felix é uma pessoa ansiosa.

Ele não sabe muito bem quando começou, provavelmente tem algo a ver com os traumas do passado de viver com a expectativa de descobrirem seus segredos e ser expulso de casa a qualquer momento. Mas, ao se dar conta, já parecia tarde demais. O Lee vivia em uma constante montanha-russa entre estar em paz consigo mesmo e estar à beira das lágrimas tendo certeza que ia tudo dar muito errado na sua vida.

Agora, sentado em frente ao seu notebook na escrivaninha perfeitamente mal organizada em seu quarto, sua ansiedade atinge níveis astronômicos.

Ocupado com estudos, ele não cozinha há semanas – nem se lembra mais quando foi a última receita que experimentou – e, sem ir ao trabalho, também faz um bom tempo que não toma banho.

Hyunjin, parado no corredor tentando arranjar uma desculpa para bater na porta que parece separar o mundo real da caverna tenebrosa de Lee Felix, finalmente tomou coragem para fazer alguma coisa antes que o garoto enlouqueça de vez.

- Quando foi a última vez que você comeu? - reclama, entrando com um prato de macarrão instantâneo que era o máximo que seus dotes culinários conseguiam oferecer.

- Só deixa eu terminar de revisar esse conteúdo...

- Lix.

Não é como se o Hwang precisasse se esforçar muito para atrair a atenção dos outros.

Era alguma coisa na sua cara naturalmente intimidadora e na forma como sua voz podia soar tão profunda as vezes que, sem se dar conta, o menor já soltava a lapiseira sobre seu caderno e estendia as mãos para aceitar de bom grado alguns nutrientes.

- Como as coisas vão indo?

- Bem, eu consigo resolver a maior parte dos exercícios de exatas – responde, as bochechas estufadas como de um esquilo conforme mastiga – Mas essa semana comecei a ter algumas dúvidas sobre a prova prática.

- O que você quer cozinhar?

- Brownie.

Hyunjin abre a boca, mas a fecha em seguida.

Ele não entende nada de cozinha, mas dentro de tudo o que conhece ele pode dizer com certeza que Felix sempre foi mais do lado confeiteiro do que cozinheiro de pratos de restaurante. Ele gostava de doces e eram muito mais bonitos de se preparar, sem dúvida alguma. Mas isso também não muda o fato de ele achar uma escolha particularmente curiosa, por isso precisa pensar com muito cuidado a forma como dirá isso sem colocar ainda mais minhoca dentro da cabeça já bastante revirada do outro.

- Bem, acho que você tem que fazer algo que já tenha feito o bastante pra ter seu toque pessoal, né? - comenta, respirando fundo, como se o melhor amigo pudesse explodir a qualquer momento – Acho que não existe mais ninguém no mundo que consiga fazer um brownie igual o seu.