Um encontro de vidas

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Assim que adentraram na composição com destino a estação Uruguai; Nour, Alex e Noah dão de cara com um dos vidros do trem estilhaçado e um jovem loiro estirado no chão com sangue saindo de seu rosto. Noah nunca havia lidado com uma situação dessas, logo, dentre os três, era o que estava mais aflito; já Nour e Alex, apesar da situação difícil, estavam mais calmos pois haviam passado por um treinamento de primeiros socorros e podiam, se não controlar a situação até a ajuda profissional chegar, resolver o problema.

— Meu Deus, o que fazemos? O que fazemos? O QUE A GENTE FAZ?????
— Calma Noah!!! Bom, Nour; avisa ao centro de controle o que aconteceu que eu vou tentando resolver o que eu puder aqui. Me ajuda segurando a cabeça dele com cuidado amigo? – Alex sugeriu e enquanto a jovem falava com o centro controlador de tráfego, o espanhol verificava se não haviam mais pedaços de vidro na cabeça do jovem e o norte-americano tentava estancar o sangramento que estava reduzindo-se aos poucos.
— Como que isso aconteceu? Será que foi uma freada brusca?
— Pode ter sido, até porque só havia ele nesse vagão, mas as chances de ter sido por freada brusca são pequenas; acho mais que ele passou mal, se desequilibrou e aconteceu isso. – E enquanto Alex procurava por algo que identificasse o loiro, Noah começava a perceber o quão belo o mesmo é, ia acariciando sua cabeça tomando o maior cuidado para não passar a mão nas feridas que certamente estavam doendo no jovem. — Achou ele bonito, né amigo? Percebi o jeito que você tá olhando pra ele. – Soltou Alex tirando Noah do transe em que estava.
— Ah... Sim né, e-e... Eu quero saber melhor o que aconteceu pra poder ajudar melhor, sabe?!
— Sim sim, mas eu sei muito bem que você não quer só ajudar ele apenas nisso, estou certo? – Outra vez Alex foi certeiro na sua interpretação.
— É que- – Noah ficaria ainda mais sem jeito do que já estava, até a hora em que Nour e a voz anunciadora das estações os interrompe.
"Próxima estação: Botafogo/Coca-Cola". – Assim que a voz parou de interromper, Nour continuou. — Bom gente, o centro de controle me disse que tem um médico a postos em Botafogo esperando o trem encostar lá e ele poder dar um parecer mais completo. – Disse a libanesa.
— Mas ele vai precisar ir pro hospital amiga? – Noah questionou visivelmente preocupado com Josh.
— Bom, vamos torcer para que não, mas vendo assim acredito que não vai pois não tem pedaços de vidro no cabelo dele e o sangramento estancou de vez. – Nour apontou, para um pequeno alívio de Noah.
— Tomara que não precise mesmo gente, até porque vai saber como é a vida dele, se alguém da família vai poder cuidar dele... – Urrea estava pensativo, até que novamente as portas se abrem e o médico que Nour mencionou embarca na composição para verificar como Josh estava.
— Bom gente, o condutor me passou o que aconteceu pois ele viu pelas câmeras da cabine e aparentemente o que esse rapaz teve foi uma queda bem brusca de pressão, somada a um estresse muito forte, acredito eu que aliado à algum tipo de trauma recente. Algum de vocês o conhece? – No momento em que o doutor perguntou, Noah prontamente respondeu.
— Sim sim, é um... Primo! Primo de terceiro grau, não o via faz vários anos e... É uma pena que justo quando o revejo acaba sendo nessa circunstância. – Urrea desconversou e, para sua alegria, o profissional acreditou na desculpa. Nisso, Josh começava a se mexer, sinalizando que estava para acordar.
— Ahn? O-o que aconteceu? Q-Quem são vocês? – O loiro abriu seus olhos, vendo rostos dos quais nunca havia visto antes.
— Seu nome é? – Questionou o doutor.
— Joshua Kyle Beauchamp.
— Bom, vou pressionar algumas regiões do seu rosto e cabeça e você me dirá se dói muito ou não, ok?
— Tudo bem. – O doutor fez esse pequeno teste e, após alguns murmúrios  leves de dor e ao colocar alguns curativos no rosto e enfaixar a cabeça de Beauchamp, o mesmo deu seu veredito.
— Pois bem Joshua, foi uma queda de pressão somada a um acesso de estresse muito intenso; eu recomendo que você repouse por alguns dias e não force tanto sua cabeça e alguns movimentos faciais, certo? Bom meninos, preciso agradecer muito a vocês por terem ajudado-o enquanto o Metrô Rio entrava em contato comigo, de verdade; eu irei dar o parecer ao CCO, portanto, tenham uma boa noite e cuidado na volta para casa. – O médico desembarcou na estação Cinelândia e, quando as portas se fecharam, o trio resolveu conversar com Josh, o vagão estava com apenas os quatro.
— Bom... Joshua né? Você quer conversar conosco? Calma, não vamos te julgar. – Alex assegurou que o de olhos azuis não seria julgado, porém Kyle estava muito ferido para poder ceder assim de primeira.
— Todos sempre dizem a mesma coisa, que não vão me julgar, mas sempre acabam me julgando, eu já tô cheio disso! Cheio... – O loiro bradou isso e, ao terminar, seus olhos se enchiam de água e o mesmo começou a chorar, e era um choro que implorava por várias coisas: socorro, colo, compreensão... Ele não queria machucar Alex ou Nour, e ao perceber seu olhar, Noah pediu a seus amigos que lhe deixasse a sós com o loiro. Nisso, com eles indo para a outra ponta do vagão, Noah e Josh enfim poderiam conversar a sós, porém a voz interrompeu.

"Próxima estação: Estácio. Estação de transferência entre as linhas 1 e 2 e de integração para Caju, Bairro de São Cristóvão e Rodoviária, desembarque pelo lado direito. Next stop: Estácio. Transfer station between lines 1 and 2, and connecting station to Caju, São Cristóvão and to the Bus Terminal. Disembark on the right, mind the gap."

Nisso, o quarteto volta a se reunir e, enquanto Nour e Alex vão na frente, Noah e Josh seguem atrás, mas repentinamente, Josh segura fortemente a mão de Noah e, naquele momento, é como se tudo ao redor deles desaparecesse. Era como se eles estivessem flutuando em uma galáxia e aquele fosse um encontro de duas estrelas solitárias provocando uma irradiação de luz tão forte que seria a perder de vista; Noah sentiu um arrepio bom que não sentia a anos, sentia que havia mergulhado na imensidão das íris azuladas do loiro, já Josh sentia que Noah apenas com seu olhar; com suas belas íris esverdeadas, o compreendia e entendia todas as suas dores.

Disembark On My Heart | NoshWhere stories live. Discover now