Capítulo 27

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Eu nunca imaginei que trabalhar numa padaria fosse tão escaldante. A ventilação da cozinha é precária, mas acabei me acostumando depois de um tempo.

Aqui, preparo as massas dos bolos e confeito com glacê. Não é exatamente o que eu gosto de fazer, mas bolo de padaria é assim mesmo, não dá para decorar muito.

Levei três meses para conseguir me estabilizar no meu próprio canto. Não ganho muito, mas tenho a minha independência. O quitinete que aluguei fica num cortiço bem charmoso perto do meu trabalho. Venho de bicicleta e assim vou levando a vida.

O que eu havia planejado entre mim e Tony ainda não aconteceu. A vida misteriosa dele me incomoda muito. Quase não nos vemos, apesar de nos falarmos diariamente pelo whatsapp.

Essa situação tem me deixado insegura. Continuo sabendo muito pouco a respeito de sua vida, ele não me deixa entrar.

—Amanda! Estão te chamando lá na loja. Parece que você tem visita.

E por falar em Tony, será que ele veio me fazer uma surpresa?

Para a minha própria surpresa não era o Tony e sim Sérgio.

— Oi Amanda. Eu queria saber como você está.

— Oi Sérgio. Estou bem e você?

— Indo. Você pode sair um pouco para tomarmos um café?

Pensei em negar o convite e dar uma desculpa esfarrapada depois daquela noite, mas precisamos encerrar nossa relação e nos perdoar e seguirmos a nossa vida. Mas desde o dia que invadiu o meu apartamento não nos falamos e terminar uma relação assim, depois de tudo o que vivemos juntos, não é muito legal. Acho que merecemos, pelo menos, uma despedida decente.

Eu não posso ser o tempo todo um poço de açúcar e mel. Preciso de um pouco de acidez que eu nunca tive para me proteger de um mundo áspero que quer me arrancar tudo sem me dar quase nada em troca.

— Está bem. Mas não posso mais que quinze minutos.

— Não vamos demorar.

Tiro o avental e a touca e atravessamos a rua para conversar com mais privacidade no café da esquina.

Sentamos numa pequena mesa de madeira, ele pediu duas xícaras de café.

O clima estava tenso e eu me senti desconfortável com essa situação. Olho para Sérgio e percebo uma fisionomia carregada, uma tensão misturada com tristeza. Ele é um homem bonito, eu era muito apaixonada por ele. Vivemos bons momentos, mas como num passe de mágica, tudo se desfez e virou uma tênue névoa de lembranças.

O amor é assim, se não for conservado, alimentado e cuidado pelas duas partes, ele acaba e depois é quase impossível voltar ao mesmo encanto. As pessoas se acomodam em suas elevadas auto estimas e esquecem que viver a dois e um constante trabalho de equipe.

Para manter acesa a chama do fogo de um casal, é necessário uma boa dose de foda na cama e foda na vida. Não tivemos o foda na vida.

—Você tem certeza que é isso mesmo que você quer?

— Sim Sérgio. Tivemos a nossa chance de fazer dar certo e não soubemos aproveitar. Agora não tem mais jeito. Eu não senti a sua falta, me desculpe.

—É uma pena que não tenhamos conseguido, Amanda.

— Apesar de tudo, vamos guardar as melhores lembranças de nós dois, não é Sérgio? Não precisamos ser inimigos.

Convencido que era definitivo, ele se levanta e vai embora. Não conseguimos nos despedir. Existem mágoas e ressentimentos que impedem que a grande maioria dos términos dos relacionamentos amorosos sejam realmente pacíficos.

Nada é Tão SimplesWhere stories live. Discover now