Capítulo 8

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—Você já está pronto?

— Preciso mesmo ir? Acho que vai ser uma ótima oportunidade de você passar uns momentos agradáveis com seus pais e o Gui. Eu não estou muito disposto.

— Precisa ir sim. Não estou com paciência para ficar explicando para os meus pais o motivo de você não ter ido no aniversário da minha mãe.

— Vamos pai, por favor, vem também. Se você não for eu também não vou.

— Agora isso, um complô contra mim. Tratem de se arrumar, não quero me atrasar.

— Está bem, mas eu dirijo.

— Com certeza, eu detesto dirigir e você sabe disso.

—Vai trocar de roupa Gui, vou conversar com a sua mãe antes de irmos.

—Tá bom pai.

Achei estranho a forma como Amanda sumiu na nossa última conversa. Talvez ela não tenha gostado da minha proposta, talvez eu tenha ido longe demais, talvez seja melhor deixarmos toda essa história pra lá e evitar mais confusão.

Espero Guilherme sair da cozinha para que ele não ouça o teor da conversa que terei com Claudia.

—Você pensou naquilo que eu falei? Analisou a minha proposta? A Instituição vai te fazer bem. Eu fico com Guilherme e cuido de tudo e vamos todos os dias te visitar depois que ele chegar da escola. Vou pedir um afastamento do trabalho para cuidar da nossa família. Cuidar de você. O Guilherme precisa da mãe.

— Quantas vezes eu vou ter que repetir que não preciso de tratamento, estou ótima.

— O Guilherme merece uma mãe decente e não nisso que você se tornou. 

— Eu nunca quis ser mãe.

—Definitivamente, eu desisto de você.

— Pode ir embora, mas ele fica. Espera... Desculpe eu não quis dizer o que falei. Fiquei nervosa. Você me deixa tensa com esse assunto, eu amo o meu filho e eu amo você também, só não sei como sair disso.

—Você percebe o quão desequilibrada você está e a importância de um bom tratamento?

—Tenho medo. Eu não sei abrir mão do controle das coisas.

— Vamos vencer isso juntos.


A casa dos pais de Claudia fica em Moema. É uma casa bem grande com jardim, piscina, churrasqueira e Gui adora ficar lá com os avós. A mãe de Claudia, Cibele fez questão de comemorar os sessenta anos numa grande festa para reunir a família, uma vez que há algum tempo não se viam por conta do isolamento social obrigatório pela demora da descoberta e aplicação de vacinas na pandemia que alastrou o continente, matando milhares de pessoas pelo mundo inteiro. Guilherme está brincando com outras crianças na piscina. Logo ele fará nove anos. Está crescendo rápido . Pra ele, sou a figura do pai protetor, e sou mesmo. Não sei o que seria dele com o bullying que a própria mãe exerce se eu não estivesse por perto. Nenhuma criança merece isso, ainda mais vindo da própria mãe.

Guilherme e Claudia estão brincando na piscina. Quando ela está sóbria reconheço a mulher por quem me apaixonei e acredito que o filho sente a mesma coisa.

— E ai Tony, como está indo no trabalho? Prendendo muita gente?

— Adriano, a coisa tá feia. A criminalidade aumentou bastante de uns tempos pra cá.

— Dá para perceber. Claudia nunca tem tempo para nós com tantos processos que precisa analisar e julgar.

—É verdade. Sua filha vive muito ocupada. Ossos do ofício.

Nada é Tão SimplesOnde histórias criam vida. Descubra agora