– Uau. Você estava mesmo com fome.

   Sorri timidamente e cortei mais um pedaço do que restava do bife.

   – Meus avós cresceram em tempos difíceis e me ensinaram a jamais sair da mesa enquanto houver comida no prato, pois nunca se sabe se conseguirá fazer uma boa refeição no dia seguinte. E, além disso, está delicioso.

   – O bife está no ponto certo?

   – Perfeito.

   – Ótimo. Acho que eu deveria ter perguntado antes como você prefere comer.

   Congelei por um segundo com o garfo no ar a caminho da boca
antes de me recuperar. Deixe de ser pervertido. Ele estava falando do bife.

   – Gosto assim, como você preparou – garanti. Mas eu não conseguia levantar os olhos do prato e, enquanto mastigava, me sentia constrangido. Então engoli antes do que devia e tive que tomar um grande gole de água para fazer a comida descer.

   – É sua primeira vez nos Estados Unidos? – ele perguntou, cruzando os braços sobre o peito.

   – Segunda. Fui a Nova York três anos
atrás.

   – Vai ficar por quanto tempo?

   Decidi ser sincero. Na Inglaterra, as pessoas acreditam que dá azar falar
de planos que ainda não se concretizaram, é como jogar uma espécie de maldição, mas algo em
Harry me fez querer confiar nele.

   – Espero que para sempre.

   – Sério? Quer imigrar?

   – Sim.

   – E você pode? Quer dizer, é permitido?

   – Sim e não. É complicado. – Terminei o bife e tomei outro gole de
água. – Tenho permissão para ficar seis meses por causa do meu visto. Depois disso, veremos.

   – Você não parece estar muito preocupado. Está?

   – Na verdade, não. – Dei de ombros. – Farei o que for preciso.

   – Pode ser difícil.

   – Sem dúvida, será difícil. E provavelmente arriscado, mas não me importo. Gosto de correr riscos. Na Inglaterra, costumamos dizer que “quem não se arrisca, não toma champanhe”.

   Ele concordou pensativo.

   – Aqui dizemos “ quem não arrisca, não petisca”. A ideia é a mesma.

   – Exatamente.

   – Você tem uma família grande na Inglaterra? Não sentirá falta dela? –
Ele parecia genuinamente curioso. Pensei em minha mãe, recém-divorciada pela segunda vez e lutando para sustentar a si mesma e a Daisy, e senti uma pontada de culpa.

   – Sim, sentirei falta da minha família. Detesto sentir como se eu tivesse abandonado minha mãe e minha irmã. Mas minha mãe entende
o motivo de eu ter vindo para cá.

i choose you.Onde histórias criam vida. Descubra agora