Dois

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- Giulia querida responde ao seu irmão - o homem abraçado nela fala e ela comprime os lábios querendo chorar - A Gigi não falou nada desde

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- Giulia querida responde ao seu irmão - o homem abraçado nela fala e ela comprime os lábios querendo chorar - A Gigi não falou nada desde... Vem, desde que encontrou o Peter.

- Estresse pós traumático, é comum em alguns casos - falo olhando para a garota que é minha irmã, mas que eu quase não tive contato durante toda a vida, só a vi três vezes e o restante foi por foto.

- Ela vai ficar assim sempre? - o homem questiona.

- Não, mas as vezes demora um pouco - falo a garota me olha e funga - Vou me apresentar novamente e você tenta fazer o mesmo o que acha?

- Giulia foi essa a educação que seu pai te deu? - minha mãe pergunta.

- Mãe - falo e ela suspira, minha mãe sofreu muito por conta do homem que é meu progenitor - Entendo a você, mas ela está em um momento sensível agora.

- Desculpe querido - pede - Vamos querida, nós dois queremos saber o som da sua voz.

Ela balança a cabeça em negação e vejo lágrimas caindo pelo seu rosto.

- Melhor não pressionarmos ela, não fará bem - falo.

- Alguém tem alguma última coisa para falar? - o pastor ou seja o que for pergunta - Nós já vamos fechar e baixar o caixão.

- Você não quer falar nada Gigi? - o homem questiona e ela nega - Mas vamos vê-lo?

Ela respira fundo e aperta a mão dele, os dois caminham até onde o caixão está e olham para o corpo, ela chora, mas é silencioso, o homem também chora e ampara a ela.

Suspiro e caminho para olhar o homem que  não fez diferença em minha vida, seu corpo inerte e sem vida na caixa de madeira, sua pele pálida e sem cor, igual a alguns pacientes que deixam o hospital.

Suspiro observando os traços que são parecidos com os meus, a garota que é minha irmã toca a mão dele e começa a chorar, respiro fundo e fecho os olhos.

Tantos momentos que eu quis ter a família completa onde tivesse o homem que é meu pai, a minha mãe e ela.

Mas infelizmente esse homem aqui nunca deixou isso acontecer e nos separou levando consigo minha irmã e deixando minha mãe doente e sozinha comigo.

Eu tinha seis anos quando minha mãe ficou grávida, meses depois minha irmã nasceu e eu fiquei feliz, alguns meses a mais e meus pais se separaram, ele foi embora e levou minha irmã, queria me levar também, mas eu preferi ficar com ela que estava doente, ela entrou na justiça e infelizmente deixaram a minha irmã com ele, queriam que eu fosse com ele também, mas eu preferi continuar com ela.

Ele me fazia visitas todos os finais de semana, mas nunca trazia Giulia, só a vi duas vezes, uma ela tinha quatro anos e eu dez, nessa época ele não ligava mais ou vinha me visitar isso era bem pouco, eu comecei a fazer atividades extracurriculares e aí tinha menos tempo ainda.

A outra ela tinha onze anos e eu dezessete, eu já tinha mais idade e decidir ver como eles estavam, mas o que Peter fez foi querer fazer minha cabeça contra minha mãe que eu vi lutando a vida toda contra a depressão para poder me criar bem.

Ele pode ter sido um bom pai para a garota a minha frente, mas não foi um bom pai para mim.

- Com licença senhorita - um homem pede e ela se afasta - Hora de fechar o caixão.

Ela balança a cabeça em negação e parece desesperada, o outro homem segura ela e tenta a acalmar.

- Ei - falo com ela e sorrio tentando a confortar, lembro das coisas que aprendi na faculdade e chego perto dela tocando seu ombro - Eu entendo que deve estar sendo muito difícil para você, mas precisa deixar os homens fazerem o trabalho deles, o nosso pai precisa descansar agora ok? Você pode se afastar para eles fecharem?

Ela funga e a puxo para um abraço, sinto meu coração acelerado e aperto ela que me aperta também e esconde o rosto sobre meu peito.

Vejo fecharem o caixão e então baixarem ele, as pessoas jogam flores enquanto o pastor faz uma oração.

- Você quer jogar uma flor? - questiono e ela levanta a mão mostrando uma flor amassada, pego e tento me mover mais ela não me solta, estico a mão e jogo a flor no buraco, as pessoas batem palmas e começam a fechar os buracos, a cada barulho da pá pegando a terra e jogando sobre o caixão Giulia me aperta mais e chora, entendo que para ela deve ser difícil demais.

- Giulia querida, vamos? - o homem chama e ela me solta, vejo seu olhar cair no local onde o caixão foi enterrado e ela comprime os lábios.

- Desculpa Louis, mas a Giulia vira com a gente - minha mãe diz segurando o braço dela - Nós somos a família dela, precisa estar com a gente agora.

- Olha Lauren, sei que é a mãe da Giulia, mas há coisas que talvez não saiba ainda - diz calmo e respira fundo - Giulia querida vá para o carro, eu preciso conversar com seu irmão e sua mãe.

Ela soluça e nos olha antes de correr em direção onde ficam os carros.

- Não sei se o Peter falou algo a vocês mas a Giulia é infantilista, caso não saibam o que é isso, ela gosta de coisas infantis, como chupetas, brinquedos e coisas que geralmente são crianças que usam, ela é adulta e para que não conhece é estranho, as vezes ela pensa como uma criança e outras não - diz e respira fundo - Nesse momento ela está fragilizada e acho importante que fique com alguém que tenha mais convívio com ela.

- Mas eu preciso recuperar o tempo que foi perdido, eu não tive direito a ver minha filha por anos Louis! - minha mãe diz com a voz embargada e passo os braços a sua volta - Eu não posso deixar que você me proiba de ver ela.

- Eu não estou proibindo Lauren, mas pensando no vem estar da Giulia, era isso que o Peter ia querer - diz - Vocês podem ter contato com ela quando quiserem, mas deixem ela nesse momento comigo, eu vou ajudá-la, sou psicólogo, sei que o mais importante nesses casos é isso.

- Mãe eu entendo você, mas acho que é importante isso mesmo no momento - falo para ela - Eu já vi muitos casos e no luto é importante que os mais próximos ajudem, nós podemos vir aqui uma vez ou outra visitar ela até estar melhor e então talvez ela possa ir morar com a gente.

- Filho eu só quero a minha filhinha depois de tanto tempo - diz chorando e suspiro abraçando ela - Mas eu entendo, se isso é o melhor eu entendo.

- Ótimo, eu vou conversar com ela, quando estiver melhor talvez aceite ficar perto da família - diz e assinto.

Talvez seja bom ter uma irmã.

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Doce amorWhere stories live. Discover now