Capítulo 12

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Ana
"Seu irmão caçula ligou. Três vezes."
Meu olhar se desvia da correspondência que estou segurando em minhas mãos, para encarar os olhos verdes de Kate. Ela está a três metros de mim, sentada atrás da bancada de fórmica da cozinha. Minha colega de quarto descolada e confiante — que conheci quatros anos atrás, quando me resgatou de um garoto de fraternidade bêbado. — se mexe ansiosamente com um copo gigantesco, que possui algum slogan atrevido, em suas mãos. Ela conhece meu irmão bem o suficiente para perceber que algo está acontecendo. Deve ser importante porque Seth não iria parar de me evitar por qualquer coisa.
Ele me deve dois mil dólares desde julho, seis meses atrás, e a última vez que realmente falei com ele foi no Dia do Trabalho.
Mesmo quando Seth evitava me visitar nas férias de Natal, ele fazia via e-mail.
Deus... Isso não pode ser bom.
"Ele disse o que queria?" coaxo. Pressiono meu corpo contra a porta
de metal atrás de mim, a longa fileira de trancas cutucando as minhas costas. Envelopes nítidos desmoronam entre meus dedos, mas sou incapaz de me impedir de destruir a pilha de contas e cartões postais dos pais de Kate. Estou muito preocupada com o motivo pelo qual Seth me ligou.
Três vezes.
Kate encolhe os ombros nus e brilhantes, aperta os olhos para o respingo de líquido claro em seu copo, e então toma a dose em um movimento rápido de seu pulso. Não há nenhuma garrafa à vista, mas eu sei que ela está bebendo licor de menta.
Sua garrafa delatora (xarope de chocolate) está ao lado de seu telefone.
Além disso, a aguardente é habitual na noite de sexta antes do jogo. Às
vezes - quando o meu patrão tem uma semana de folga que inevitavelmente me afeta - eu deixo Kate me convencer a beber um pouco. No entanto, não estou com vontade de sequer considerar tocar nessas coisas agora.
Já tenho uma enxaqueca começando naquele ponto irritante entre os meus olhos.
"Ele só disse para chamá-lo..." Mas quando a voz dela vai sumindo, eu sei que ela está pensando a mesma coisa que eu.

O que diabos minha mãe fez desta vez?

Porquê da última vez que recebi um telefonema frenético de Seth, um ano e meio atrás, mamãe havia feito uma tentativa de suicídio, que mais tarde ela me disse que inventou para chamar atenção. Eu fecho minhas mãos em punho, lembrando vividamente como ela riu de mim por ser ingênua e estúpida o suficiente para ir correndo.

"Sempre tão rápido para agradar," ela disse em seu forte sotaque. Então ela deu uma longa tragada em um cigarro pelo qual ela provavelmente teve que fazer coisas inomináveis.

Forçando os pensamentos da minha mãe para fora da minha mente por enquanto, eu dou um sorriso falso para Kate.

"Você vai sair hoje à noite?"

A resposta é óbvia. É sexta-feira à noite e, embora apenas a parte superior do corpo esteja visível, posso dizer que ela está vestida para matar. Cabelo e maquiagem impecáveis, check✔️. Vestido vermelho sem alças que provavelmente não é maior do que a minha blusa, check✔️. Seus sapatos 'foda-me' de um quilômetro de altura, duplo check✔️.

"Vou com Ben, Stacy, e Micah." Suas sobrancelhas escuras e perfeitamente arqueadas se unem enquanto ela abre os lábios para dizer mais alguma coisa. Eu balanço minha cabeça teimosamente, e ela fecha a boca. Nós duas sabemos que ela me convidar é inútil. Esta noite, nenhuma conversa doce vai me convencer a deixar o apartamento. Há uma boa chance de que qualquer coisa que Seth está prestes a me dizer vai arruinar minha noite e o resto do meu ano também.

Eu engulo em seco, uma e outra vez, na minha melhor tentativa de me livrar da queimadura na parte de trás da minha boca.
"É isso," Kate retruca. Ela estende a mão sobre o balcão para pegar seu telefone. "Estou ligando para cancelar..." Mas dou um passo para frente e arranco o celular da mão dela. Eu o deixo cair, e agora praticamente se mistura com a pilha de correspondências ao lado de seu copo vazio.
"Por favor, apenas... não. Você parece muito quente para passar a noite comigo. Eu... eu juro que eu vou ficar bem." Ela não parece convencida, porque ela franze os lábios carnudos e vermelhos em uma linha fina. Eu deslizo seu telefone em suas mãos e enrolo seus dedos ao redor dele. Movo meu rosto em um sorriso ainda mais brilhante e digo a ela na voz mais animada que posso reunir para se divertir. Ela está falando, protestando contra mim, mas eu mal posso ouvir suas palavras exatas. Já estou andando pelo corredor estreito até o meu quarto, meu próprio telefone preso em um aperto de morte.

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