Ela pisca algumas vezes para finalmente me olhar. Apesar dos olhos inchados, não tem como, me perco facinho nesse olhar. Não demora dois segundos para ela se desmanchar no choro, me deixando sem saber o que fazer.

- Chora não, vem cá. - sussurro com a pouca voz que me resta, sentindo a minha garganta arder. Ela deita a cabeça na curva do meu pescoço ainda chorando. - Shh, já passou.

- Eu fiquei com tanto medo de perder você.

Ver Melissa chorando causou uma sensação estranha em mim, ainda mais por saber que ela está desse jeito por minha causa. Já começa a bater várias neuroses na cabeça, a situação daqui em diante é só piorar, isso não é nem um terço do que ela pode passar por estar comigo.

Ouvir ela falar que ficou com medo de me perder me desmoronou total, e o que eu posso falar pra consolar ela? Nada. Não tem nada que eu possa falar ou fazer, não posso garantir que isso não vai acontecer novamente, não posso garantir nada.

Estou todo quebrado que não posso nem abraçar a minha mulher direito, é foda.

- Chora não branquela, estou ficando com a consciência pesada por fazer você passar por isso.

- Isso é o mínimo que você pode ficar depois de ter me dado esse susto. - afasta limpando as lágrimas. Sorrio pela sua marra. - Se eu fosse você não estaria sorrindo não, você tem muita sorte Douglas, muita sorte que você está todo estrupiado.

- Pô vida, assim cê acaba comigo. - falo baixinho. - Vem cá matar a saudade, depois você me xinga.

Que saudade que eu estava dessa mulher, de ouvir a sua voz, sentir o seu cheiro.

Ela balança a cabeça me repreendendo com o olhar, mas acaba cedendo assim que eu mando um beijo pra ela. Fui todo na esperança, mas como a sorte de pobre dura pouco, recebi só um selinho.

Tenho tantos questionamentos, mas Melissa não é a pessoa certa para responder as minhas perguntas, e mesmo se fosse, esse não é o momento certo. Seria mó chato da minha parte perguntar alguma coisa pra ela, sendo que ela está preocupada comigo, perguntando se estou bem em cinco em cinco segundos, ou perguntando se estou com dor.

Ainda não estou raciocinando direito, os remédios me deixam lesado e lento, muito grogue. Ainda não processei o que aconteceu, como aconteceu e o que aconteceu depois. Estou tão aéreo que não me dei o luxo de saber onde estou e como está a minha situação, de uma coisa eu sei, estou todo quebrado. Só a minha perna esquerda que está pendurada no suporte engessada diz por si só, além do meu braço direito que também está engessado, não consigo me mexer. Estou só o remendo.

Fiquei um tempo com Melissa, estava tão focado nela que nem pensei em como ela veio parar aqui, mas quando Gafanhoto entrou no quarto não precisei perguntar para saber que ele a trouxe.

- Não adianta fazer essa cara. - Melissa fala do meu lado me fazendo revirar os olhos. - Eu já fiz errado de não ter chamado o médico assim que você acordou.

- Tsc. E tu ainda liga para o que ele fala? Esse daí tá chapado de remédio, você contou pra ele pra onde ele tava achando que foi? Iludido pra caralho.

E os dois começam a rir me fazendo fechar a cara, ainda mais quando eles falam que eu estava delirando dizendo que estava no céu, eu que estou na onda do remédio e é os dois que ficam chapados.

- O melhor foi quando você disse que erraram na hora do julgamento. - Melissa diz rindo, cessando a risada quando batem na porta.

- Olá, boa tarde. Me pediram para checar como está o paciente. Hm.. Douglas Gonçalves.. Douglas?! - viro o rosto na direção da voz encontrando uma morena alta. - Você de novo por aqui? - continuo olhando para ela com o meu pensamento lento, tentando lembrar de onde essa doida me conhece. - Você foi o meu paciente três anos atrás, ainda quando eu estava fazendo estágio.

Doce TentaçãoWhere stories live. Discover now