- Me deixa adivinhar - Annie saiu do corredor aparecendo na grande área do apartamento, onde ficava a sala e a cozinha - Pourquoi tu gâches ta vie?

- Exatamente! Por que você está desperdiçando sua vida? - Levantou do sofá e acertou seu vestido mostarda e o cinto fino meio bege na cintura, acompanhado de uma meia-calça grossa cinza e um blazer preto, depois acertou uma presilha presa em seus cabelos tão amarelos quanto ouro. - Assim está bem melhor! - Mandy se referia à amiga. - Agora vamos! Antes que escureça.

As duas puseram-se para fora do apartamento, não antes de Annie pegar sua câmera, e andaram por algumas calçadas escorregadias de neve até pegarem um taxi rumo às ruas mais movimentadas de Paris atrás de looks esplêndidos e preços baratos, não para si mesmas, mas sim, para pessoas que não podiam pagar tão caro e mesmo assim, gostariam de andar como se anda em paris: luxuosas.

Mandy era colunista de revista, daquelas que falava sobre a vida, onde tinha dicas para emagrecer, histórias de romances que, como Annie sempre dizia, serviam apenas para enganar os leitores ao fazer com que realmente acreditem que podem viver algo como o que estava escrito naquelas linhas. Colunista Illyrio era responsável pela parte de moda e foi assim que as duas se conheceram, ainda quando Annie trabalhava para uma revista de moda. Mandy foi ao escritório da revista de Annie fazer mais uma de suas pesquisas para sua coluna da quinzena. A chefe de Annie, uma mulher de boa postura, rica e bem vestida, que mais parecia ter saído daquele filme: "O Diabo Veste Prada", disse para Mandy acompanhar uma fotografa que naquele exato momento estava se preparando para tirar fotos de modelos com a nova promessa do inverno, chegando lá, vira Annie no meio de franceses bonitos e sarados e francesas esbeltas. Era fleches para todos os lados, música agitada preenchia o ambiente. Depois de tudo, as duas conversaram, sabendo o propósito de Mandy, Annie a convidou para ir à sua casa onde tinha alguns projetos do gênero que ela procurava. Chegando lá, por um descuido, a loira serelepe descobriu que a fotografa que acabara de conhecer era autora de um blog que ela mesma já tinha olhado algumas vezes.

Rolou uma confusão, Mandy descobriu que Annie era "Elle", a autora anônima do "Elle Me Dit", coisa que jamais gostaria que alguém descobrisse, mas, acabou sendo uma boa coisa. Mandy citava o blog da recente amiga em quase todas suas colunas, intrigado, seu chefe quis saber mais sobre e, sem que descobrisse a verdadeira face da autora, Sr. Tardin, um velho gordo e barbudo, porém muito simpático, assinou com o blog, fazendo com que "Elle Me Dit" tivesse uma pequena parte em uma das duas páginas reservadas para Mendy e, pela primeira vez desde sua criação, trouxesse algum retorno a Annie, fazendo com que largasse o emprego de vez, coisa que queria fazer a tempo.

Voltando para o agora, as duas andaram para todas as ruas até que a noite comeasse a cair e não pararam antes que seus pés começassem a doer. Resolveram então voltar para casa.

- Estou morta!

- Você já disse isso Mandy.

- E digo de novo! Estou morta! - Mandy riu. - Adoro quando isso acontece! - Annie riu da amiga.

- Definitivamente você é louca.

- Certo, certo, mas sou uma louca que precisa urgentemente de uma banheira com água quente! Podemos ir para casa logo? - Mandy acenava para um taxi a sua frente, que logo parou. Ela abriu a porta para que entrassem.

- Vá você para casa Mandy, acho que vou passar no Jaime antes.

- Ainda consegue andar?

- Ainda consigo.

- Tem certeza?

- Tenho Mandy, daqui até o Jaime não é tão longe assim e ao voltar, tomo o metrô.

- Tudo bem então! Espero que não caia em alguma calçada por aí! Au revoir!

Mandy entrou no taxi e saiu em disparada. Annie aproveitou para andar com calma e no silêncio que uma noite de Paris poderia oferecer, ou seja, nenhum, mas não tinha sua melhor amiga a tagarelar ao seu lado todo o tempo, há anos, isso que significava silêncio, um diferente do seu apartamento quase sempre escuro como gostava.

Menos de meia hora de caminhada e chegou a uma pequena loja de animais e entrou sem nem pensar, indo logo cumprimentar o recepcionista.

- Oi Jaime.

- Annie! Quanto tempo! Achei que nem se lembrava mais de mim!

- Pouco me importa você Jaime! - Annie sorriu da falsa cara de ofendido de seu parceiro Jaime, um cara mais novo do que ela, a idade nunca soube ao certo, talvez uns 22, apesar de sempre aparentar 16.

A fotografa tirou a jaqueta e o cachecol, os entregando a Jaime. Dentro da loja era quente e aconchegante, ela adorava passar horas e horas lá dentro em meios aos animais. Pegou apenas sua câmera e foi dar umas voltas pelo estabelecimento.

- Boas fotos Annie!

- Obrigada Jaime.

A garota odiava ver os animais presos daquele jeito, mas ainda era horário de expediente e não podia soltá-los como normalmente fazia, por já ser amiga do dono e ainda mais do filho - que por acaso é o recepcionista - desde a vez que usou alguns daqueles animais para uma pequena sessão de fotos a anos atrás. Alguns, infelizmente, já haviam morrido, outros foram adotados e poucos daquela época estavam ali, firmes e fortes.

Andava distraída, brincando com os animais e tirando algumas fotos dos bichinhos que se agitavam com o fleche, foi até um pequeno cercado de vidro onde ficavam quatro filhotes de Labrador que viu nascer a apenas dois meses e desde então tem tirados fotos semanais acompanhando o crescimento e sabendo que logo, aquele pequeno cercado de vidro não seria o suficiente para abrigar futuros cães de grande porte. Tirou fotos dos cães que a olhavam feliz, depois pôs a câmera do ombro e começou a brincar com os animaizinhos por quais era apaixonada ainda distraída quando alguém esbarra com ela, pior! Quando se vira para ver, o mesmo alguém derruba um liquido gelado em sua blusa, lhe dando apenas tempo de afastar a câmera.

- Oh meu Deus! Desculpa.

- Está tudo bem - claro que não estava, sua blusa era branca e agora estava manchada de vermelho e ainda começara a ficar transparente, mas Annie tentaria manter a calma.

- Tem certeza? Deixa... me deixa ajudar - o cara que esbarrara com ela, tirou um lenço do bolso da frente da calça e tentou limpar a blusa manchada.

- Não! Não precisa. - o cara insistia. - Já disse que não precisa! - ela já não estava mais tão paciente.

- Fique com o lenço pelo menos - ela aceitou de bom grado, mais para que o cara desistisse de tentar ajudar. - Tem certeza que está tudo bem? Acho que manchei a sua blusa.

- Ah! Jura que manchou minha blusa? Não tinha nem notado! - a ironia era a prova clara que Annie estava mais do que irritada.

- Annie! - Jaime se aproximou. - Está tudo bem?

- Esse imbecil jogou suco na minha blusa, além de manchar está ficando transparente! Socorro Jaime!

- E você ainda dizendo que estava tudo bem - o cara resmungou.

- Cala boca! - disse alterada.

- Relaxa Annie, vem comigo! Posso te emprestar alguma blusa, chegou alguns uniformes novos para loja - Jaime direcionou Annie até a parte de trás da loja.

- Desculpa de novo! - o cara gritou.

- Imbecil - murmurou para si mesma.

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